sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Incubadora DoSol


Um sopro de novidade para todos os amantes da boa música potiguar!

Por: Antônio Marcos, Mariana Marques, Emanoel Victor, Thiago Barros, José Rangel e João Cornélio

Em Natal, tem surgido há alguns anos uma onda de novos projetos musicais independentes. A cidade dos reis magos vem lançando constantemente novas bandas e artistas autorais. A cena que antes era tomada pelos mesmos artistas participando de projetos diferentes, agora tem dado espaço para novos nomes e estilos, com isso, tem agregado também novos públicos. Esse movimento tem ocorrido graças à incubadora DoSol.

Responsável pelo impulsionamento de novos grupos musicais, a Incubadora é um dos muitos projetos do combo cultural DoSol de incentivo à cena potiguar. À frente do projeto estão Ana Morena e Anderson Foca, um casal que, unidos pela paixão à música, criaram esse combo cultural, que desde 2001 vem contribuindo com a cultura local.

O material e a estrutura física foram se desenvolvendo a partir do momento em que o casal decidiu gravar um disco, mas o alto custo para terceirizar esse serviço acabou fazendo com que eles resolvessem gravar por conta própria. Compraram o equipamento e na garra aprenderam a gravar. Com equipamento em mãos, o DoSol começou a tomar forma, tendo um estúdio para ensaios e gravações. Após 10 anos do início do projeto, com bastante bagagem acumulada, o casal decidiu compartilhar os conhecimentos adquiridos e contribuir com a comunidade. Aí nasceu a incubadora.

Desde sua fundação, muitas bandas já passaram pelo projeto. Uma delas é a Luaz. Em entrevista com a vocalista do grupo, ela conta: “A Incubadora foi, digamos, o combustível para tudo o que nós fizemos. Sem esse projeto, nada disso teria acontecido, ou pelo menos, não teria acontecido de forma tão maravilhosa. O Dosol mediou todo o processo de metamorfose entre o sair do casulo e virar uma borboleta.”

Além de dar o suporte para a produção do primeiro disco da banda, essa que tem pouco mais de um ano, a incubadora proporcionou à Luaz o lançamento do seu álbum no Circuito Cultural da Ribeira. Pouco depois disso, a banda teve a oportunidade de se apresentar no Festival DoSol 2018. “A experiência - de tocar no festival - foi indescritível... Trocar ideias com outros artistas, curtir shows fantásticos, estar pertinho da praia, com aquela vibe reenergizante, tocar pra uma galera super receptiva e afim de curtir o show, conhecer pessoas incríveis que fizeram daquela noite única... em uma frase: Queremos de novo!”, conta a vocalista da banda.

Em uma cidade onde a cena cultural é pouco vista e valorizada, a Incubadora DoSol chegou como um sopro de novidade para todos os amantes da boa música potiguar. Seja ela rock, reggae, pop ou qualquer outro estilo, aqui, o importante é oferecer a oportunidade, colocar nossa música em evidência dando a bandas locais todo o suporte necessário para que elas consigam alcançar novos públicos e possam caminhar com suas próprias pernas. Luaz, Soul Rebel, Joseph Little Drop e a inexistente Potyguara Bardô – ganhadora do prêmio revelação Hangar 2018, onde concorria ao lado da SoulRebel – já podem colher os frutos dessa nova fase e estão prontos para os seus próximos voos. E a incubadora seguirá soprando as novidades até que esse sopro se torne em um vendaval de cultura e música potiguar da melhor qualidade.

sábado, 8 de dezembro de 2018

Cordel em Natal

Dificuldades locais na literatura popular

Por: Dickson Half, Francisco Berilo, Gabrielle Pires, Karoline Melo, Pedro Henrique. 

Sabe-se que a literatura é uma área que embora privilegiada e amada por muitas pessoas outrora, passa hoje por uma notável desvalorização, que é percebida em vários lugares e por pessoas pertencentes a diversas faixas etárias e classes sociais, o que faz dela um espaço difícil para os escritores. Até mesmo renomados autores já afirmaram que o trabalho de escrita não é dos mais fáceis, sendo, inclusive, desgastante, como Carlos Drummond de Andrade nos versos de seu poema “O Lutador”: 

“Lutar com palavras parece sem fruto/ Não têm carne e sangue…/ Entretanto, luto.” 

Devemos ainda lembrarmo-nos que vivemos em um período onde as pessoas têm uma vida agitada, onde o tempo livre é privilégio de poucos e, quando existe, é utilizado para sabermos os eventos ocorridos no mundo ou usado ociosamente nas ferramentas digitais, como o Smartphone e as redes sociais. Esses fatores fazem com que a batalha com as palavras seja cada vez mais árdua, onde o escritor acaba quase sempre perdendo. Sabendo de tais fatos, acabamos entrevistando dois autores potiguares que fazem parte do cenário literário da capital norte-rio-grandense, para que pudéssemos saber mais sobre a situação.

Influências Literárias e Dificuldades

O cordelista Manoel Cavalcante, poeta membro da Academia Norte-Rio-Grandense de Literatura de Cordel e da Academia de Trovas do RN, nos relata sobre como conheceu esse gênero literário tão comum no século passado e que geralmente aborda sobre o cotidiano do sertanejo: “Conheci o cordel através dos meus pais, que sempre me levavam para cantorias, os festivais de poesia. Comecei a escrever na minha infância, mas só lancei meu primeiro livro em cordel no ano de 2007. [...] Ao todo possuo sete livros, mas em cordel são três.” Ele diz que a influência dos pais, a quem chama de inspiração e motivação natural, foi decisiva para a formação do gosto por essa literatura e afirma como a estrutura familiar pode ser importante para que as pessoas, desde a infância, possam se interessar pela literatura regional.

O autor, que escreveu o livro “Se Fala Assim No Sertão”, ao ser questionado sobre a cultura literária do estado, diz que ela tem evoluído nos últimos anos, embora continue defasada, escassa. Ele fala sobre a necessidade de dar oportunidade e visibilidade aos nossos escritores. Afirma que as maiores dificuldades enfrentadas são na edição, na ausência de políticas públicas para a difusão e valorização do trabalho dele e de outros escritores regionais. Além disso, diz que há uma necessidade de difundir o cordelismo e solidificá-lo como literatura. Questionado sobre as expectativas futuras do trabalho de escrita dos autores da região ele diz que é uma questão sempre nebulosa, e que é melhor que não se fique criando muita expectativa.
  
Questionado sobre o público natalense em relação aos seus escritos, Márcio Benjamim, autor de “Fome”, um livro sobre um apocalipse zumbi que se passa no Nordeste brasileiro, e que teve como influência os livros do americano Stephen King, responde: “Sou muito bem recebido nas feiras e eventos.” Diz ainda que não tem do que reclamar e que o público da capital do Rio Grande do Norte tem gostado. Cavalcante, autor que teve como grande influência os cantadores de viola, os repentistas, é direto ao revelar que o público da cidade “limita-se às escolas que trabalham nossas obras e aos poucos amantes de nossa obra e carreira literária. Nada massificado.”
  
A Cidade que esquece sua cultura

Questionamos os dois autores se a sociedade natalense está esquecendo da sua própria cultura ou se ela está apenas seguindo uma ordem natural das coisas ao seguir o capitalismo e as tendências externas. Benjamim, que revelou gostar de autores como García-Marquez e Marina Colasanti, respondeu: “Infelizmente, até pela história da invasão norte-americana na Segunda Guerra, remos uma memória um pouco complicada em relação à valorização de nossa cultura [...] O escritor acha que é importante que se esclareça, principalmente aos jovens, acerca da cultura local. Cita, ainda, Laurentino Gomes: “você não protege o que não conhece.” A observação é interessante, afinal, como poderemos dizer que defendemos os autores de nossa terra se nem ao menos lemos seus livros? E é por esse motivo que a memória, a cultura e a história queimam, assim como museus que ninguém visita, como aconteceu com o Museu Nacional, no Rio de Janeiro.

Já Cavalcante diz que existem duas vias: ao mesmo tempo em que a sociedade esquece da própria cultura, também segue o curso natural do capitalismo e do consumismo, o que garante a ela mergulhar em meio às facilidades que não se reconheça. Ele finaliza dizendo que as pessoas não conhecem a própria identidade.

Natal e o empobrecimento cultural

Vemos que o natalense busca se adaptar à globalização, busca uma imersão na cultura e nos ideais e nas ideias difundidas por todo o mundo, não se voltando para as palavras dos conterrâneos. Analisando tal situação, perguntamos aos nossos entrevistados se eles achavam que a capital potiguar passa por um empobrecimento da cultura e se a resposta fosse positiva, quais seriam as hipóteses para tal.

O autor de “Fome”, responde prontamente: “De forma alguma. A cultura popular existe e encontra-se acessível e disposta.” O problema, segundo ele, é que o público, infelizmente, não está disposto a consumí-la.  Sobre isso, continua: “[o público] não vai a eventos gratuitos, não divulga, não compra arte, mas sempre quer cobrar si artista, e isso precisa mudar. Essa coisa que Natal não tem cultura é discurso de dominação que interessa apenas aos aproveitadores!”.

O autor de “Se Fala Assim No Sertão” vê a cidade, em sua hipótese por ser uma capital, como um lugar com uma variedade cultural razoável, diferentemente do interior. “Há opções para todas as tribos”, ele afirma. “No entanto, é claro que é algo muito rudimentar ainda, nada satisfatório.”

Preferência local do que não é local

Perguntado sobre a preferência do público local por livros estrangeiros, Cavalcante responde que é algo latente e notório. Diz que essas pessoas são “cobaias do sistema”. O mercado, com seu caráter impiedoso, afirma o cordelista, faz com que a obra estrangeira chegue, deixando a obra dos autores locais no puro ostracismo. Mais uma vez é o caso da valorização do que vem de fora em detrimento das coisas nativas, o que acontece em diversos segmentos sociais.

Benjamim, vê a situação como um reflexo da falta de divulgação do autor regional. Acha que o escritor além de ter interesse pela publicação de sua obra, deve se informar sobre como vendê-la. Acrescenta: “Da mesma forma, os empresários e o poder público precisam entender que o mercado cultural gera empregos e fomenta o crescimento do Estado.” Por esses motivos, ele diz, o artista das palavras deve ser estimulado, respeitado e pago. Isso nos leva a um debate sobre a valorização dada pelos governantes à literatura e ao estímulo dado aos autores. Finaliza: “Aplausos não pagam boletos.”

Palestras como uma ferramenta de divulgação

Em meio a um país com um índice alto de analfabetismo, inclusive do funcional, que é composto por pessoas que sabem ler e escrever mas não conseguem interpretar, e num lugar onde a literatura é pouco valorizada, ao passo que o consumismo é difundido praticamente desde o berço das pessoas, obviamente os livros só poderiam ser desvalorizados também, pouco procurados e até evitados. Poucas crianças gostariam de ganhar livros como presente de Natal e poucos adultos também. Se a literatura — inclusive a aclamada estrangeira — é rejeitada pelos brasileiros, mesmo em metrópoles, a cultura de uma região específica, ainda mais no Nordeste, onde há taxas altíssimas de analfabetismo e questões sociais como trabalho infantil, fica mais fragilizada ainda.

Uma das estratégias que pode amenizar a situação é o desenvolvimento de palestras sobre literatura popular regional. Perguntamos aos nossos entrevistados se eles costumam participar de tais eventos:

Manoel Cavalcante respondeu que tanto participa como ouvinte, como também ministra alguns desses eventos.

Márcio Benjamim participa e chegou a citar alguns dos eventos a que participou: a Casa das Palavras, o Rio de Leitura, e também feiras de livros. Sobre essas realizações, diz que são “lindos alentos os quais nos relembram da força da nossa literatura. E via de regra contam com a fortíssima presença de escolas, o que me deixa muito esperançoso.

O resgate às obras locais

Perguntamos se haveria alguma forma de fazer a população da cidade do Natal, principalmente os jovens, a voltar ou a começar a ler  as obras dos autores locais.

Benjamim aponta duas grandes falácias sobre a cultura, em sua opinião: que o jovem não gosta de ler e que livro é caro. Para ele são duas afirmações mentirosas: “Jovem gosta sim de ler, só precisa de incentivo e de uma literatura coerente com seus interesses [...]” O escritor reafirma a necessidade de existir mais acesso aos jovens, mas escritores nas escolas, que hajam livros à disposição em locais como cigarreiras e mais pais lendo para que os jovens os copiem. “Livros devem estar em todos os lugares ao alcance das mãos de quem quer que seja.” E ainda cita a cantora, compositora e ilustradora Tulipa Ruiz: “Estímulo influencia.”

Cavalcante concorda plenamente que a população possa voltar ou começar a ler os livros regionais. Para ele esse resgate começa do ambiente escolar, da família, dos pais. Fala ainda da ascensão do escritor e cordelista nordestino Bráulio Bessa, que tem um quadro no programa Encontro com Fátima Bernardes, na Rede Globo de Televisão, e que “isso contribui muito para que as pessoas vejam a literatura regional com melhores olhos.” Assim como Benjamim, Cavalcante crê que o caminho é sempre escola. Ela é uma base que ajuda na formação do aluno, que muitas vezes não tem o estímulo da família para escrever ou ler.

É importante para o progresso social do país que as pessoas leiam a literatura popular, que se interessem por autores que estão acessíveis, que busquem sempre os livros. Como nosso entrevistado Márcio Benjamim diz: “É uma guerra diária, a qual às vezes ganhamos, outras perdemos, mas não podemos nunca desistir.”

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Potyguara Bardo


A REPRESENTATIVIDADE DA VOZ QUE ECOA
“Tombando na realidade, a verdade encontrou.”


 Festival Dosol - Agosto 2018 - Fotografia : Luana Tayze.


Por: Gabriel Jonatas C. da Silva, Isabelle Cristine Regis Moura, João Raphael Pereira N. R. Abrantes, Klara Sophia de Oliveira, Luan Santos Damascena, Luana Ingrid de S. Carvalho, Wilkle Vitor G. da Silva.



Dentro de uma nova cena musical que tem surgido na capital potiguar, diversos novos artistas tem cantado através de diferentes estilos musicais. Outra grande arte que tem ganhado força e espaço são as drag queen’s, que tem visto seu trabalho ascender em meio a uma explosão de ritmos pelo país saindo apenas dos “closes” das maquiagens e performances então tornando a explorar um novo âmbito, o musical. E é então por meio da união dessas duas grandes artes vamos conhecer e explorar um pouco mais desse universo através da mais nova cantora e drag queen do cenário potiguar: Potyguara Bardo.

Ela que foi motivada a cantar após momentos difíceis de sua vida, entrou para o meio da música através de “uma realização muito forte, de um encontro com o divino dentro de mim...” alegou ela. Sendo assim, levada a cantar, antes como dubladora e assim percebendo que precisava ir além disso, precisava levar algo mais as pessoas e a si mesmo. Desde a adolescência vinha se envolvendo com a arte através da escrita que foi se desenvolvendo, e segundo ela mesma, serviu como treinamento para suas futuras letras, por acabar expondo no papel, em forma de poesia, o que deu vida às suas atuais melodias.

Ao falar da forma que começou como drag, mostrou que não tinha uma alta popularidade nas redes sociais, se sentia deslocada do meio em que vivia, com isso, até brinca e é reconhecida pelo fato de ser envolvida com o místico do universo, repetindo sempre a frase “Eu não existo”, o que deu vida à sua música mais conhecida “Você não existe”. Apesar disso, costumava fazer sempre “textões” no facebook de forma a se impor politicamente, entretanto, ainda não havia uma identidade formada logo quando começou.

Sobre seu nome, o Potyguara tem a sua origem vinda, em suas palavras, do “meu avatar no jogo da vida que nasceu aqui nesse lugar onde as pessoas são chamadas de potiguares..” afirma a cantora de origem Norte-Riograndense, porém  seu outro nome, o Bardo, vem da inspiração de um livro que fala sobre uma linearidade, onde se tem um potencial infinito de possibilidades, segundo a interpretação apresentada pela artista.

Ela também se diz muito feliz pelo interesse não só de drag queen’s, mas de todos LGBTQ’S que tem se inserido na música e a forma como essa popularidade tem invadido festivais de música, sendo esse o motivo de um dos questionamentos que a levou a afirmar com alegria o quanto “acha incrível que drag’s estejam sendo chamadas para grandes festivais, acho que isso é só o começo de tudo”, deixando assim uma mensagem positiva e do quanto mais se é se possível alcançar, também desencadeando um tanto mais de espaço e representatividade no espaço artístico. Ao ser questionada da sua diferenciação de outras drag’s ela afirma: “eu to falando das minhas próprias vivências e escolhas, enquanto outras drags falam da sua própria existência ou das coisas que são pertinente falar sobre.” Sendo isso, para ela, é uma diferença referente a qualquer artista que trabalhe com música.

Referente ao seu álbum, o “Simulacre”, teve como inspiração sua vida, outras drags que cantam e também até mesmo outros artistas que fazem música serviram como sua inspiração para que surgisse o conteúdo apresentado em seu primeiro trabalho musical completo de estúdio, que foi desenvolvido através de um projeto da incubadora Dosol, que além deste, produziu outros três álbuns originalmente potiguares.

Neste trabalho de Potyguara Bardo, ele conta com duas participações especiais, ambas com artistas potiguares e onde uma deles é com outra drag, a Kaya Conky. Em relação à suas músicas ela alega que “Você Não Existe” demonstra seu maior crescimento enquanto pessoa, pois nessa faixa ela afirma que: “a mensagem espiritual que eu estou aqui para falar e que eu percebi que deveria falar sobre, e queria que isso pudesse atingir o coração das pessoas.” Mas em relação ao trabalho artístico, na música “Jogo da Vida” é a que ela alega mais mostrar sua faceta como artista, pois é uma música em que retrata bem o seu “avatar” na vida e em ter se arriscado e experimentado seguir na música.

Então, toda essa artista que conhecemos, tem se popularizado na cena musical, proporcionando visibilidade não apenas para a cena local quanto também para a música representativa e em meio a isso, frutos tem se colhido por Potyguara Bardo, além da participação em festivais musicais potiguares, foi premiada em um dos maiores prêmios de música da capital potiguar, o Prêmio Hangar 2018 como revelação musical do ano. Mostrando assim, o que um futuro brilhante ainda pode reservar.

Potyguara Bardo e parte de sua banda - Prêmio Hangar - Dezembro 2018.

 Abaixo se encontra o link com áudio da entrevista completo:

Espaços LGBTS

Na cena natalense
GENTIL NOGUEIRA LEITE JUNIOR, LUANNA SILVA, JOAO VICTOR DE MORAIS TRINDADE, MILENA MARIA SILVA DOS SANTOS, LUCIAN MATHEUS DE ARAUJO GINANE
Ainda é pequena a quantidade de espaços inclusivos na grande Natal, não estamos falando sobre vantagens nem benefícios, estamos falando de representatividade. Decoração colorida, música, lindos drinks não basta para atrair o público LGBT, ou basta? É importante "abraçar" esse público não só visando o faturamento, é preciso trabalhar toda representatividade.
Segundo matéria do site “Viagem LGBT”, existem cerca de 24 espaços voltados para o público LGBT em Natal. Esses dados foram coletados considerando bares, boates, pontos de encontro, enfim, locais em geral que são pensados para esse público e/ou que se tornaram referência para a comunidade LGBT. Com o título “A Fervorosa Natal”, a revista Label, que é uma revista eletrônica direcionada ao público LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), fez uma matéria onde destaca, além dos pontos turísticos já consagrados como as dunas de Jenipabu, no litoral Norte, e o Morro do Careca, na praia de Ponta Negra, uma série de pontos de lazer direcionados ao chamado “universo LGBT”. Na matéria inclusive Natal é considerada um dos destinos preferidos do público gay.

Erick é Publicitário e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Estudos da mídia, atualmente pesquisa as produções de sentido das representações LGBT's na publicidade contemporânea.

- Sabemos que ainda é pequena a quantidade de espaços inclusivos na grande Natal, qual seu ponto de vista diante disso? Na sua perspectiva como publicitário, de que maneira essa representatividade deveria ser melhor trabalhada?
Bom, eu não acho que há uma representatividade de fato, só em alguns pontos como a própria parada LGBTQ+, que ocorre anualmente e em algumas festas temáticas também, mas eu não acho que há representatividade de fato, falando a nível local.
Porém, o pouco que ainda se tem é possível a gente enxergar uma certa militância, uma certa organização, que tenta ter voz e visibilidade na sociedade. Nesses espaços, a gente vê múltiplas formas de representações, quando se tem, como por exemplo Drag queen, faixas, vários movimentos artísticos, várias pinturas com o corpo que militam e que clamam por uma certa representação e inclusão ­ que não há tanta.
Falando nessa perspectiva da publicidade, eu acho que essa representatividade aqui em Natal deveria ter mais campanhas, mais estratégias de campanhas locais para poder incluir esse público, poder divulgar mais, porque existe, porque somos consumidores, leitores, espectadores, enfim, precisa ter uma estratégia e trabalhar com esses atores sociais na comunicação e na publicidade. Eu acho que precisa mostrar esses movimentos políticos, mostrar esses espaços, a própria mídia precisa dar mais visibilidade.

                                                    Francisco Queiroz Junior ­ cursando Ciências Sociais na UFRN

- Você acredita que o público LGBT se torna fragmentado pelo fato de alguns estabelecimentos terem outro tipo de público alvo? E de que forma isso pode afetar socialmente o público LGBT?
Acho muito importante começar dizendo como eu valorizo esses espaços, por exemplo, o La Luna , o Enigma, que já foi muito forte, hoje nem tanto, mas tem sua importância na história desse movimento mais recente da cidade; o Casa Nova, por mais elitista que seja, é um espaço de convivência LGBTQ; vários pontos da ribeira, enfim, essas espécies de mancha de lazer e de cultura para a comunidade LGBTQ, tipo espaços LGBTQ frendly, são muito importantes e eu não acho que fragmenta, porque precisamos de um espaço em que nos sintamos acolhidos, seguros, e que possamos nos divertir. Então, o La Luna consegue fazer algo incrível, por exemplo, que é estar numa praça pública no meio de Neópolis, e na hora que eles abrirem quando tem matinê por exemplo, ou todas as noites, junta ali uma mancha LGBTQ que todo mundo se diverte, coloca música, bebe e se sente seguro. 
Então tem que reconhecer a importância desses lugares, porque ficar nessa coisa de que ambientes LGBTs fragmentam “Vocês não querem união e igualdade, então por que estão fazendo isso?” é muito simplista, então não concordo com isso, eu não me sentiria confortável numa Pink Elephant, que era uma boate hétero, que tinha na Salgado Filho, e nem em várias outras que têm em Ponta Negra. A não ser que eu estivesse com os meus, porque é importante estarmos com os nossos, e é essa a importância também do movimento. Entendo de onde surge essa inquietação do grupo de achar que isso fragmenta e a gente não consegue nosso espaço na sociedade dessa forma, porque realmente é um defeito da esquerda fragmentar demais as lutas e esquecer nossas categorias identitárias comum, nossas pautas juntas e comuns. Então isso precisa de mais espaços LGBTs focados nesse público, pensados e idealizados por esse público, são imprescindíveis para a gente criar essa cultura na cidade.

Claro que tem o Casa Nova, que é um espaço LGBT muito importante e antigo aqui, mas é na zona sul, é caro, é elitista, então não são todos LGBTs que tem acesso a esse ambiente. O La Luna já é economicamente muito mais fácil, o poder aquisitivo para sentar lá no ambiente e beber, mas também fica na zona sul. Então boa parte dos LGBTs que poderiam estar no La Luna, não estão porque não tem a mínima condição de voltar pra casa de 2 da manhã ­ que é quando o bar fecha ­ e aí entram várias outras questões, que não decorrem do fato desses espaços existirem como uma mancha de lazer LGBTQ. A mancha seria uma espécie antropológica, não pejorativa do espaço, mas sim como conceito sociológico. Enfim, não são todos os LGBTs que possuem acesso a esse ambiente, mas há uma elitização desses privilégios, e não há uma socialização de privilégios.

São críticas à parte, não ao fato de que são ambientes voltados ao público LGBT, porque isso é muito importante, mas o que a gente pode parar para analisar é onde esses espaços ficam, já que a maior parte está na zona sul da cidade e quem está na zona norte, qual o espaço que eles têm para se divertir, seguro, com os deles ?
O movimento, de certa forma, precisa ter suas fragmentações dentro, para discutir pautas separadas, e por mais que cada um tenha suas demandas muito próprias, porque são sujeitos políticos muito diferentes, temos pautas comuns, que levam esse norte e espaços nossos acho que são uma dessas pautas.


 José Matheus Lorran da silva rocha ­ Produtor e administrador geral do ENIGMA HALL

O estabelecimento visa um público alvo específico? Se sim, qual?

O público LGBTQ+.

O estabelecimento acha importante o uso de publicidade nas mídias sociais como forma de divulgar eventos do local?

É a única forma que usamos para divulgação. De suma importância, principalmente no Instagram, e usando promotores para divulgar.

A publicidade dos eventos do estabelecimento é desenvolvida pensando em atrair um público específico para tal evento?

Sempre buscamos divulgações que chamem a atenção de todos os públicos.

A publicidade do estabelecimento se adequa aos eventos do local ou seguem um padrão único? Por que?

Se adequa aos eventos. Porque todos os eventos têm uma temática diferente um do outro, então buscamos sempre uma divulgação que remeta ao tema.

Qual forma de divulgação o estabelecimento constata mais retorno?

Apesar da queda de usuários do Facebook, o evento do Facebook é o meio que mais atrai pessoas.

Acha que o enigma atrai um público específico dentro do meio LGBTQ+ (Normativos/afeminados/público de mais idade)?

Varia muito todos os públicos, mas em sua maioria são afeminados, lésbicas e, por incrível que pareça, héteros.

Vocês buscam por representatividade no seu estabelecimento (DJS, ATRAÇÕES, EMPREGADOS LBGTQ+)?

Sim, sim. A maioria das atrações são voltadas ao público LGBTQ+ 

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

em todo lugar

O MACHISMO EM AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE

As dificuldades de se expressar em meio a um cenário onde sua criação é exigida, porém, constantemente podada por ideias nada inovadoras.

Ilustração do livro 'Sexismo cotidiano' de Laura Bates, feita por Capitán Swing.

Por: Ana Cláudia Macêdo, Cecília Aranha, Cecília Monteiro, Gardênia Araújo, Isis Medeiros, João Pedro Costa e Thaís Britto.

Devido a necessidade de uma maior atenção a presença do machismo e suas facetas no meio publicitário, objetivamos nos aprofundar na causa e para isso, buscamos opiniões de pessoas próximas. Dessa forma, entrevistamos profissionais que atuam no mercado e podem opinar com mais propriedade acerca do tema e, com isso, nos proporcionar a visão de quem vive esta realidade a partir de suas experiências. Fizemos pontes com publicitários e uma jornalista, dentre eles: Állika, 31 anos, redatora e diretora de criação, que também é administradora e possui pós-graduação em marketing estratégico, a Ana Raquel, 21 anos, produtora de conteúdo; a Marília Moura, 23 anos, jornalista e redatora e o Gabryel, 23 anos, que atua como Social Media.  

Iniciamos as entrevistas questionando sobre a situação em si, perguntamos se algum dos entrevistados foram vítimas do machismo em agências de publicidade ou se conheciam alguém. 

Állika relatou que é muito comum, pois as agências são repletas de machismo, onde assédios e piadas sexistas fazem parte do cotidiano e o mansplaining impera, exemplifica na relação do setor de atendimento com o de criação, já que em sua maioria o atendimento é de predomínio feminino e o de criação, masculino. 

Gabryel, quando questionado sobre a influência de um ambiente machista no desenvolvimento profissional, afirma: ‘’ [...] O modelo de trabalho machista não acrescenta em nada os alcances profissionais. Aqueles que dizem que não impede, são tão machistas quanto os demais que fazem o ambiente de modo hostil.”. 

Marília, acredita que é necessário tomar uma posição e reagir diante dessas situações com muita força e coragem, além de manter pulso firme com seus ideais, buscar apoio de outras mulheres quando possível é o caminho a seguir, impondo assim suas opiniões e demarcando o seu lugar. Sobre o cenário: será que estamos no caminho da mudança? 

A Ana Raquel concorda que a situação tem prazo de validade e, sem sombra de dúvidas, já está mudando. Raquel, acredita que tudo isso também está sendo viabilizado pela presença ainda iminente de mulheres no meio: “cada dia mais as jovens, mulheres, que têm entrado no mercado publicitário demonstram suas ideias e as defendem com unhas e dentes. O feminismo se faz presente e encoraja através de empatia e sororidade a união entre as mulheres neste mercado. ”  
     
Em suma, desenvolvemos essa pesquisa porque queremos ressaltar a tamanha importância de um debate sobre a temática e também por, entre situações reais e muitas vezes banalizadas, revelar e alertar aos futuros estudantes de publicidade e/ou profissionais de outras áreas que não é cabível aceitar e deixar a situação de inferiorização se perdurar, pois, é inaceitável que a capacidade de um profissional seja medida, ou reprimida, pelo seu gênero.

Nossa história

O mundo vai saber quem somos

Coletivo de teatro local conta de maneira descontraída a história do RN e traz a cultura potiguar para escolas do estado.

Foto de Bruno Martins

Feito por: Caik Fernando de Souza Nunes, Letícia Oliveira de Araújo, Matheus Henrique Pereira da Silva, Rafaela Prucci Souza Rocha, Rita Cássia Costa do Nascimento, Suellen Elisabeth Costa de Oliveira e Temístocles Rodrigues de Melo Júnior.

Andando pelas cidades do Rio Grande do Norte, não é difícil se deparar com a opinião popular de que “somos um povo sem identidade cultural”, sem histórias para contar. Colonizados por franceses e holandeses, grande parte dos nativos dessa região foram massacrados, levando junto com eles uma grande questão: “Quem são os norteriograndenses?”

O coletivo potiguar “Entre Nós” aceitou o desafio e resolveu contar ao norte riograndense quem ele é, através do espetáculo “Tromba”. Da região agreste até Parnamirim Field a história do Rio Grande do Norte é contada por meio da dança e da encenação de maneira leve e dinâmica. Tendo sua conjuntura atual formada por seis bailarinos, além disso, tem um grande produção em seus bastidores.

O “Tromba” surgiu a partir de um projeto chamado Conexão Elefante Cultural com o apoio do SEBRAE, tendo como objetivo levar ao povo potiguar a sua história de um jeito simpático e de fácil compreensão, um espetáculo onde o público pudesse se conectar e se encontrar no que seria contado pelos atores de acordo com suas vivências ao passar em casa lugar do RN.“[...] como a gente fala do nosso próprio estado, das nossas cidades, das nossas vivências, do nosso folclore , da nossa contemporaneidade, as pessoas se identificam. Então a gente chegava falando da região oeste, e a pessoa está lá, a gente está lá em Apodi, Mossoró e as pessoas olham aquilo e pensam “Vão contar nossa história”, vão se identificar com a invasão da cidade ou em Parnamirim, com a base da segunda guerra mundial. Quando chegava em João Câmara, aí se identifica com os terremotos, no Seridó e por aí vai [...] o mais bacana era isso, que as pessoas riam da história delas, emocionaram-se com as histórias delas, contemplavam-se vendo um espetáculo de um grupo de fora” afirma Thazio, um dos integrantes do coletivo.


Foto de Brunno Martins

O espetáculo foi apresentado em várias escolas públicas do estado e foi especialmente pensado para o público infanto-juvenil com uma linguagem fácil com intuito de ser uma aula descontraída, porém cheias de ensinamento sobre a cultura local. O grupo resgata as histórias das tradições orais de presente no interior e também a história dos Tupis e suas linguagens. “A gente consegue resgatar isso através da dança que a gente faz. No primeiro, a gente tem os índios que são dizimados por conta dos holandeses, pelos grandes currais, na época, que tinha os fazendeiros daquela época que tomaram conta. E aí surge a brincadeira do boi, dos brincantes. Então assim, isso tudo está inserido dentro do nosso contexto da cultura.” volta a afirmar Thazio.

        Agora o coletivo potiguar parte para a Alemanha com a peça intitulada “CHAMADA” para falar sobre a cultura brasileira, trazendo a capoeira e a dança contemporânea com suas características particularmente brasileiras. O grupo vai dividir palco com mais outros dois grupos brasileiros, sendo cada um trabalhando um tema diferente. Com isso, mais uma vez o grupo tem responsabilidade de levar a cultura para público, assim como fez localmente, agora levando para o âmbito global.

Foto de Ian Rassari