O nome O Encantador de Serpentes veio de um sonho, em que o professor
de comunicação era o encantador e seus alunos, as serpentes. Do sonho,
desdobrou-se um texto mágico (científico, artístico e político) e toda uma
metodologia pedagógica de ensino do trabalho jornalístico.
O texto advoga a tese de que a comunicação é uma síntese contemporânea de saberes outrora irredutíveis, um campo epistemológico intermediário entre a ciência, a arte e a política. A publicidade e o jornalismo são vistas como os dois braços da comunicação, em que o jornalismo seria mais científico e a publicidade mais artística. O texto jornalístico em particular é definido como sendo uma escritura de eficácia simbólica com duas características principais: a vontade de verdade e o poder de sedução. A vontade de dizer a verdade é construída a partir da visão sociológica; e o poder de sedução, a Forma, gerada pela sensibilidade artística e pela criatividade em geral.
Há ainda um terceiro termo: a política. O comunicador deveria ocupar uma dupla posição política, servir ao rei e ao povo, escrevendo a favor e contra ao poder para atender as demandas do público e do poder. Assim, cúmplice e sabotador, o comunicador sempre faz parte do sistema, mas luta para modificá-lo. É esta posição dupla que lhe garante a eficácia simbólica. Sua palavra só é mágica porque atende ao povo e ao rei.
Então, como formar comunicadores que tenham a cabeça de um cientista, o coração de um poeta e a astúcia justiceira de um político?
1.
Dividindo
a turma em grupos e dando funções específicas. Os mais introvertidos serão os
produtores, responsáveis pelo planejamento, organização e a objetividade da
reportagem; os mais emocionais e extrovertidos serão os repórteres, chamados a
expressar sua subjetividade e a participar das entrevistas; e os mais espertos
serão os editores, que organizarão o texto final, levando em conta os
interesses do grupo e o impacto no público-alvo. A idéia é que haja também uma
rotatividade das funções, fazendo com que cada experimente o trabalho para qual
tem menos aptidão.
2.
Todas
as pautas devem partir de uma contradição entre crítica e elogio. O produtor
deve escolher (ou criar) um assunto sobre o qual existam opiniões diferentes,
selecionando dois entrevistados, cada um com um ponto de vista. Tanto a pauta
como o texto final devem estar organizados a partir da técnica do lead (o que,
quem, como, porque, onde e quando), sendo que na pauta o onde e quando
correspondem ao lugar, dia e hora da entrevista a ser realizada, enquanto no
texto final esses elementos podem ser contextualizados de outras maneiras.
Também se sugerem procedimentos sociológicos (histórico, comparativo,
estatístico, monográfico, etc.) como forma de contextualização do conflito que
se está reportando.
3.
O
texto final deve ter apenas 15 linhas: um parágrafo de lead contextualizado, um
parágrafo com o entrevistado A e outro com o entrevistado B. Caso o grupo com o
entrevistado A e não com o B, pode o editor inverter a ordem, para que o ponto
de vista desejado fique no final. Mas, deve-se evitar a manipulação subliminar,
informando sua opinião de forma elegante (na terceira pessoa) e deixando ao
leitor o direito de decidir seu lado no conflito apresentado.
É claro que fui muito combatido. Disseram desde que eu era um professor que 'pensava que era o Batman do jornalismo quando entrava na internet' até que eu, 'transformando o comunicador em super-herói, estava ensinando de modo cínico a arte da encrenca (gerando conflitos) e da manipulação'. Mas, nada disso me dissuadiu do prazer de ensinar a pensar dialeticamente, vendo os alunos aprenderem a criticar e elogiar um mesmo objeto, e, com o tempo, a descobrir como produzir diálogos e não conflitos[1].
[1] Parte desse trabalho
(1999-2003), importante para a memória do ensino de jornalismo da UFRN, ainda
está disponível na Oficina de Mídia Digital: http://jornalista.tripod.com/