terça-feira, 1 de julho de 2025

Ghost In the Shell


 Ode cyberpunk ao mundo real

Emanuel Victor da Silva Lima

O lugar em que Ghost in the Shell, filme de 1995 dirigido por Mamoru Oshii, habita na história do cinema e no gênero Cyberpunk, é um lugar inquestionável. Baseado no manga de mesmo nome, publicado entre 1989 e 1991, o filme estabelece uma nova profundidade em termos narrativos, ao levar os debates filosóficos sobre corpo, alma e ser, à um novo patamar, alcançado pela mescla proposta da fusão entre animação tradicional e digital, possível não só pelas novas tecnologias da época, como também, pelos novos processos que permitiram modificar a forma de produzir e animar.

No filme, acompanhamos a personagem Motoko, uma agente bio-mecânica na caça pela ameaça conhecida por Senhor das Marionetes, um hacker altamente perigoso e que é capaz de invadir e tomar controle sobre as vítimas através da rede. Isto é, o ponto de partida para a apresentação de perguntas e questionamentos incumbidos nos diversos signos apresentados pelo roteiro.

Sendo também, colocados em evidência na animação pela maneira em que a protagonista e os seus arredores são animados, orbitando um abismo entre o físico e o digital, semelhante a sua própria existência. Vemos isso na famosa cena inicial, onde digital e analógico são unidos para a criação de uma ilusão de ótica, que muito simboliza o cerne dessa história. Marcada por uma fotografia e direção de arte atenta em todas as camadas, o filme não tem medo de passear e explorar os cenários e espaços desse mundo distópico. Seja através de planos contra-plongée que exploram o cenário das grandes cidades, corporações e tecnologias opressoras, do uso de efeitos digitais em cima da animação tradicional, ou da fluidez de quadros com qual o filme é animado cuidadosamente.

A história toma forma de uma maneira visceral e inquietante ao propor questionamentos sobre a nossa existência, fragilidade e individualidade em um mundo tão excêntrico e que parece ter evoluído para além do físico. Por meio da animação e suas novas tecnologias, toda essa premissa, permeia o filme de forma a construir uma das animações mais belas do cinema japonês, assim como, respectivamente, uma das trilhas mais influentes. Orquestrada por Kenji Kawai, a trilha propõem uma mistura de cânticos búlgaros com músicatradicional japonesa em contraste com efeitos digitais e distorções provocativas sobre a cultura desse mundo longínquo e excessivamente evoluído. A música tema do filme, que o acompanha em 3 atos, separadas em 3 faixas, representa o processo de dialética existente em elipse constante sob a narrativa e animação, contribuindo para a atmosfera exótica e única.

Sem dúvidas, Ghost in the Shell é um filme que ainda se mantém atual, mesmo 30 anos após o seu lançamento. Suas discussões e influências para o cinema e indústria de animação, atravessam desde Matrix (1999) até animações mais recentes como Homem Aranha no Aranhaverso (2018). Tendo agora os espaços e questões abordadas no filme, orbitando um espaço mais paupável, o filme agora, toma para si novos contextos para esta época, perdendo a excentricidade mas ganhando realismo e terror no momento em que o que era
ficção agora se torna comum e real.

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