Ao fechar seus olhos e pensar no lado crítico da arte, o
que você imagina? A Mona Lisa de Da Vinci? A “Oitava Sinfonia” de Beethoven? A
Virgem Velada de Strazza? Entre estas e outras obras que são remetentes a
grandes criações artísticas, as quais são consideradas grandes obras da arte, temos
logos noções pré-concebidas de que artes é Picasso, Michelangelo, Da Vinci e
Beethoven.
Quando falamos sobre
artes abrimos um leque de diversidade. A arte brasileira foi influenciada por
diversos estilos, e existe – e resiste – desde a pré-história com as artes
primitivas. Também é marcada pela arte indígena, pela europeia, no período
colonial, e pela africana. Ela se manifesta em diferentes formas, como na
dança, na pintura, no teatro e na literatura. A etimologia da palavra vem do
latim ars, artis – "maneira de ser ou agir, habilidade natural ou
adquirida", sendo uma forma de expressão e manifestação do ser.
Porém outras formas
artísticas são discriminadas por sua origem social, como grafite, rap, funk,
xilogravura, hip hop, break, web designer, ... que estão ganhando espaço aos
poucos, em um processo lento, já que os artistas não recebem apoio, tanto da
parte social como da parte governamental.
Com as recentes
polêmicas acerca da performance no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, é
notório que no Brasil ainda não se tem uma valorização da arte. “Como estudante
de arte, tenho mais contato com o que a sociedade rotulou como sendo arte”, diz o artista e estudante de
licenciatura em Artes Visuais da UFRN, Thiago Hilen. Em uma sociedade
conservadora como a brasileira, onde artistas são taxados como “vagabundos”, não
se é valorizado o valor (monetário) da obra. Além de tudo isso, o povo
brasileiro é quem menos frequenta espetáculos culturais, como dança, música e teatro em pesquisa realizada
pelo Sesc em 2013.
Apesar das polêmicas e
dos protestos de boicote à arte – há muito anos já sofrendo boicote no país –
convivemos com a arte em nosso cotidiano e ela caminha, ainda, junto da
tecnologia. Os artistas têm de se adaptarem às novas tecnologias, usando-as
como ferramentas para criar e expor suas artes e, com isso, ganhar mais
visibilidade. “A arte é transgressora por natureza. Nos faz pensar. É o espelho
que reflete o nosso inconsciente”, diz Frei Betto, frade dominicano e autor
brasileiro.
Ao nos depararmos com essas ideias realizamos três entrevistas com jovens
artistas do RN, procurando saber como a arte é vista hoje, quais são as
concepções e conceitos, como a arte se relaciona com a tecnologia e a sociedade sob a perspectiva eu artista.
Conheça nossos entrevistados:
Thiago Hilen Dias Vieira é
um artista natural de Natal-RN e é estudante do curso de Licenciatura em Artes
Visuais da UFRN. Nesta entrevista, Hilen, como é conhecido entre amigos e
familiares nos apresenta a sua concepção de arte e a função que ela exerce no
cotidiano de uma sociedade.
Fernanda Félix, Suburbana Tipo A,
escritora, poetisa, design e produtora cultural.
Luan Santos é natalense, tem 25 anos e
é estudante do curso de Tecnologia da Informação na UFRN. Sua produção
artística sempre se deu no âmbito da tecnologia em marcas, banners, layouts e
etc.
Produzido por Sulamita Lima de Oliveira.
01 - Qual o seu conceito de arte?
Hilen: Arte é toda e qualquer manifestação de atividade humana, abrangida
por uma imensa variedade de linguagens, que possua um conceito próprio por
trás.
Suburbana Tipo
A: a arte é o meio de expressar sentimentos e sensações,
emoções e ideias, independente da manifestação artística usada para emiti-la, a
arte é algo intrínseco, a arte é singularidade.
Luan: Considero arte qualquer expressão de ideias, que
são sintetizadas em diversos tipos de materiais ou plataformas.
02 - Como a arte se manifesta no seu cotidiano?
Hilen: Não tem como não ver a arte se manifestando no nosso cotidiano,
por mais que passe despercebido, ela está lá, seja num anuncio publicitário,
numa roupa, numa música, pois a arte possui uma vasta variedade de linguagens,
como já disse antes. Como estudante de arte, tenho mais contato com o que a
sociedade rotulou como sendo "arte". Passando pelo departamento de
artes pode-se ver facilmente pessoas tentando se expressar artisticamente, seja
dançando, encenando, pintando, ou apenas conversando sobre arte.
Suburbana Tipo
A: A arte pode ser discreta e simples ou pode ser o contrário,
a arte pode ser o que quiser. Um pixo é arte, desde que meus olhos ou algo na minha
mente me direcione a este pensamento.
Luan: A arte se manifesta em praticamente tudo no meu dia a dia.
Placas, cores, disposição
de objetos, tudo pode me inspirar em novos trabalhos.
03 - Qual a função da arte
na sua visão?
Hilen: É evidente que a arte possui inúmeras funções, ela pode entreter
informar, criticar, expressar pensamentos e tudo mais. Contudo, para mim, a
principal função da arte é ela conseguir concretizar pensamentos, sentimentos
do artista, que muitas vezes a linguagem verbal, por mais que também possa ser
uma vertente para se fazer arte, não dá conta de expressar.
Suburbana Tipo
A: inventar a vida e ser inventada.
Luan: Comunicar as pessoas uma ideia ou sentimento
do autor.
04 - Você considera a arte importante para a sociedade?
Hilen: A arte sempre teve um papel importantíssimo na sociedade, desde o
inicio dos tempos ela serve para documentar acontecimentos, relatar momentos
históricos, pensamentos da época e etc. Atualmente, a arte não é mais tão
documental, podemos vê-la tendo um teor mais crítico, seja criticando o
governo, o comportamento humano, e tudo mais.
Suburbana Tipo
A: Essencial. A arte serve para contar histórias, tudo é arte,
desde um idioma falado, um código, o desenho de uma criança...
Luan: Sim! Todas as pessoas deveriam ter acesso as
mais variadas formas de arte.
05 - Você considera que a arte e a tecnologia estão lado a lado?
Hilen: Não tenho muita propriedade para falar sobre a relação entre arte
e tecnologia, mas acredito que elas caminhem juntas sim. Com a criação de novos
recursos tecnológicos, os artistas vão tendo que se adaptar e pensar em como
usar esses recursos para fazer sua arte, um exemplo muito forte é a arte
digital feita no photoshop, illustrator e etc. A tecnologia não só nos deu ferramentas
de criação, mas também ferramentas e exposição, redes sociais como o instagram,
por exemplo, nos permite expor nossa arte com um alcance mundial, o que para o
crescimento do artista é uma coisa incrível, pois ele ganha uma visibilidade
que não era possível ser alcançada alguns anos atrás.
Suburbana Tipo A: arte e a tecnologia andam juntas o tempo inteiro. Tudo que é hábil
é tecnológico. A arte tem um potencial de transformar e completar lacunas como
a tecnologia.
Luan: Creio que não em todos os âmbitos da arte. Mas no
meu cotidiano de trabalho estão totalmente ligadas.
06 - Quais os prós e contras ?
Hilen: Não vejo pontos negativos no avanço da tecnologia no que diz
respeito à arte. Como já disse anteriormente, a fácil exposição, a visibilidade
que a tecnologia nos trouxe é incrível. É muito mais fácil fazer arte e
publicar pra todo mundo ver, isso encoraja outras pessoas a fazer arte também,
e, a meu ver, quanto mais arte existir, melhor.
Suburbana Tipo A: levando em consideração que a tecnologia pode transformar coisas,
ao mesmo tempo que a arte pode transformar as pessoas, não existem muitos
pontos contras. Mas como já disse, arte é singular, talvez se apropriar de uma
técnica ou tecnologia pode ser um ponto negativo. A facilidade de se apropriar.
Luan: Entendo que não existem "contras". Em
relação aos "prós", creio que a tecnologia pode viabilizar o acesso
da população a diversos tipos de arte.
07 - Sua opinião sobre a massificação da arte.
Hilen: A massificação da arte é necessária para inclusão do povo na arte,
porém o modo como é massificado nem sempre é tão legal. A mídia é o maior
transmissor de arte para a maioria da população, assim ela consegue controlar o
que a população vê e consequentemente como pensa.
Suburbana Tipo
A: Ela já é explícita. Só uma questão de observação dos
não-artistas ou artistas inatos. O entretenimento serve para massificar a arte
(risos) a arte é de todo mundo.
Luan: Entendo ser muito importante que a arte esteja
disponível a
grande massa da população, mesmo sabendo que a curto prazo essa população não se
interessaria por arte. Porém a longo prazo teríamos uma nova geração que
crescerá com esse contato mais próximo com a arte, e consequentemente com um
maior interesse que a geração passada.
08 - Até onde a arte é acessível na sua visão?
Hilen: A acessibilidade na arte, por mais que
hoje seja mais fácil ter acesso a conteúdos artísticos, ainda é uma questão
negligenciada. Devido a falta de conhecimento e de interesse da maioria da
população o acesso a arte é mais difícil para a massa que não pertence a elite,
pois dificilmente a arte é direcionada ao público popular.
Suburbana Tipo
A: Até o ponto em que estamos
dispostos a percebê-la.
Luan: Ao meu ver a arte é pouco acessível, por dois
principais motivos: falta de interesse da grande massa por esses conteúdos e inviabilidade
econômica para grande parte da população consumir arte.
A visão contemporânea da
arte faz com que ela se torne palpável e não mais um objeto, uma exclusividade
de uma elite. Uma tela que há séculos atrás prendia a atenção por seu valor
artístico, hoje pode ter o mesmo valor daquela música de dois minutos daquele
cantor sertanejo. Podemos entender a arte como
revolucionária, sobrevivente que se adapta a épocas e estilos, se apropria da ciência,
da religião, da politica ou apenas se integra a elas.
Produzido por Sulamita Lima de Oliveira.
Redação por Maria Clara
Lima.
Reportagem feita por
Antônia Danielle e Larissa Eufrasio.
Fotografia de Rafael dos
Santos.
Editado por Gláucia Oliveira.
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