Na cena natalense
GENTIL NOGUEIRA LEITE JUNIOR, LUANNA SILVA, JOAO VICTOR DE MORAIS TRINDADE, MILENA MARIA SILVA DOS SANTOS, LUCIAN MATHEUS DE ARAUJO GINANE
Ainda é pequena a quantidade de espaços inclusivos na grande Natal, não estamos falando sobre vantagens nem benefícios, estamos falando de representatividade. Decoração colorida, música, lindos drinks não basta para atrair o público LGBT, ou basta? É importante "abraçar" esse público não só visando o faturamento, é preciso trabalhar toda representatividade.
Segundo matéria do site “Viagem LGBT”, existem cerca de 24 espaços voltados para o público LGBT em Natal. Esses dados foram coletados considerando bares, boates, pontos de encontro, enfim, locais em geral que são pensados para esse público e/ou que se tornaram referência para a comunidade LGBT. Com o título “A Fervorosa Natal”, a revista Label, que é uma revista eletrônica direcionada ao público LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), fez uma matéria onde destaca, além dos pontos turísticos já consagrados como as dunas de Jenipabu, no litoral Norte, e o Morro do Careca, na praia de Ponta Negra, uma série de pontos de lazer direcionados ao chamado “universo LGBT”. Na matéria inclusive Natal é considerada um dos destinos preferidos do público gay.
Erick é Publicitário e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Estudos da mídia, atualmente pesquisa as produções de sentido das representações LGBT's na publicidade contemporânea.
- Sabemos que ainda é pequena a quantidade de espaços inclusivos na grande Natal, qual seu ponto de vista diante disso? Na sua perspectiva como publicitário, de que maneira essa representatividade deveria ser melhor trabalhada?
Bom, eu não acho que há uma representatividade de fato, só em alguns pontos como a própria parada LGBTQ+, que ocorre anualmente e em algumas festas temáticas também, mas eu não acho que há representatividade de fato, falando a nível local.
Porém, o pouco que ainda se tem é possível a gente enxergar uma certa militância, uma certa organização, que tenta ter voz e visibilidade na sociedade. Nesses espaços, a gente vê múltiplas formas de representações, quando se tem, como por exemplo Drag queen, faixas, vários movimentos artísticos, várias pinturas com o corpo que militam e que clamam por uma certa representação e inclusão que não há tanta.
Falando nessa perspectiva da publicidade, eu acho que essa representatividade aqui em Natal deveria ter mais campanhas, mais estratégias de campanhas locais para poder incluir esse público, poder divulgar mais, porque existe, porque somos consumidores, leitores, espectadores, enfim, precisa ter uma estratégia e trabalhar com esses atores sociais na comunicação e na publicidade. Eu acho que precisa mostrar esses movimentos políticos, mostrar esses espaços, a própria mídia precisa dar mais visibilidade.
Francisco Queiroz Junior cursando Ciências Sociais na UFRN
- Você acredita que o público LGBT se torna fragmentado pelo fato de alguns estabelecimentos terem outro tipo de público alvo? E de que forma isso pode afetar socialmente o público LGBT?
Acho muito importante começar dizendo como eu valorizo esses espaços, por exemplo, o La Luna , o Enigma, que já foi muito forte, hoje nem tanto, mas tem sua importância na história desse movimento mais recente da cidade; o Casa Nova, por mais elitista que seja, é um espaço de convivência LGBTQ; vários pontos da ribeira, enfim, essas espécies de mancha de lazer e de cultura para a comunidade LGBTQ, tipo espaços LGBTQ frendly, são muito importantes e eu não acho que fragmenta, porque precisamos de um espaço em que nos sintamos acolhidos, seguros, e que possamos nos divertir. Então, o La Luna consegue fazer algo incrível, por exemplo, que é estar numa praça pública no meio de Neópolis, e na hora que eles abrirem quando tem matinê por exemplo, ou todas as noites, junta ali uma mancha LGBTQ que todo mundo se diverte, coloca música, bebe e se sente seguro.
Então tem que reconhecer a importância desses lugares, porque ficar nessa coisa de que ambientes LGBTs fragmentam “Vocês não querem união e igualdade, então por que estão fazendo isso?” é muito simplista, então não concordo com isso, eu não me sentiria confortável numa Pink Elephant, que era uma boate hétero, que tinha na Salgado Filho, e nem em várias outras que têm em Ponta Negra. A não ser que eu estivesse com os meus, porque é importante estarmos com os nossos, e é essa a importância também do movimento. Entendo de onde surge essa inquietação do grupo de achar que isso fragmenta e a gente não consegue nosso espaço na sociedade dessa forma, porque realmente é um defeito da esquerda fragmentar demais as lutas e esquecer nossas categorias identitárias comum, nossas pautas juntas e comuns. Então isso precisa de mais espaços LGBTs focados nesse público, pensados e idealizados por esse público, são imprescindíveis para a gente criar essa cultura na cidade.
Claro que tem o Casa Nova, que é um espaço LGBT muito importante e antigo aqui, mas é na zona sul, é caro, é elitista, então não são todos LGBTs que tem acesso a esse ambiente. O La Luna já é economicamente muito mais fácil, o poder aquisitivo para sentar lá no ambiente e beber, mas também fica na zona sul. Então boa parte dos LGBTs que poderiam estar no La Luna, não estão porque não tem a mínima condição de voltar pra casa de 2 da manhã que é quando o bar fecha e aí entram várias outras questões, que não decorrem do fato desses espaços existirem como uma mancha de lazer LGBTQ. A mancha seria uma espécie antropológica, não pejorativa do espaço, mas sim como conceito sociológico. Enfim, não são todos os LGBTs que possuem acesso a esse ambiente, mas há uma elitização desses privilégios, e não há uma socialização de privilégios.
São críticas à parte, não ao fato de que são ambientes voltados ao público LGBT, porque isso é muito importante, mas o que a gente pode parar para analisar é onde esses espaços ficam, já que a maior parte está na zona sul da cidade e quem está na zona norte, qual o espaço que eles têm para se divertir, seguro, com os deles ?
O movimento, de certa forma, precisa ter suas fragmentações dentro, para discutir pautas separadas, e por mais que cada um tenha suas demandas muito próprias, porque são sujeitos políticos muito diferentes, temos pautas comuns, que levam esse norte e espaços nossos acho que são uma dessas pautas.
O estabelecimento visa um público alvo específico? Se sim, qual?
O público LGBTQ+.
O estabelecimento acha importante o uso de publicidade nas mídias sociais como forma de divulgar eventos do local?
É a única forma que usamos para divulgação. De suma importância, principalmente no Instagram, e usando promotores para divulgar.
A publicidade dos eventos do estabelecimento é desenvolvida pensando em atrair um público específico para tal evento?
Sempre buscamos divulgações que chamem a atenção de todos os públicos.
A publicidade do estabelecimento se adequa aos eventos do local ou seguem um padrão único? Por que?
Se adequa aos eventos. Porque todos os eventos têm uma temática diferente um do outro, então buscamos sempre uma divulgação que remeta ao tema.
Qual forma de divulgação o estabelecimento constata mais retorno?
Apesar da queda de usuários do Facebook, o evento do Facebook é o meio que mais atrai pessoas.
Acha que o enigma atrai um público específico dentro do meio LGBTQ+ (Normativos/afeminados/público de mais idade)?
Varia muito todos os públicos, mas em sua maioria são afeminados, lésbicas e, por incrível que pareça, héteros.
Vocês buscam por representatividade no seu estabelecimento (DJS, ATRAÇÕES, EMPREGADOS LBGTQ+)?
Sim, sim. A maioria das atrações são voltadas ao público LGBTQ+
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