Juliana Leal da Silva
A série original Netflix Ratched, criada por Ryan Murphy, se passa no ano de 1947, no norte da Califórnia, e narra a história de vida da enfermeira Mildred Ratched, interpretada por Sarah Paulson. Tudo começa quando Mildred vai em busca de um emprego no Hospital Estadual de Lucia, local onde vai receber um famoso assassino da época, Edmund Tolleson, que ficou conhecido por ter matado cruelmente quatro padres. Mais tarde o espectador descobre que na verdade eles são irmãos e que Mildred foi até lá para impedir que Edmund fosse executado.
Para mim, a série tem uma belíssima fotografia. Percebe-se que a paleta de cores foi cuidadosamente selecionada. Nota-se que os tons das roupas dos personagens sempre combinam com as cores de fundo do cenário, o que deixa as cenas visualmente agradáveis. Apesar da narrativa se passar na década de 40 e 50, ela consegue ter uma ótima abordagem ao falar da homossexualidade, de modo a passar ao espectador que ser gay ou lésbica não é uma patologia e que os “tratamentos” feitos no Hospital Estadual de Lucia são procedimentos de tortura.
A narrativa estreou na Netflix no dia 18 de setembro de 2020, no entanto, a enfermeira Ratched foi criada por Ken Kesey no livro de 1962 “Um Estranho no Ninho” e levada à tela do cinema, pelo cineasta Miloš Forman, em 1975, com o filme de mesmo nome. Mesmo se baseando em uma obra antiga, a trama não deixa de fazer sentido no atual contexto em que vivemos, pois a visão geral da sociedade sobre os hospitais psiquiátricos não mudou
De acordo com uma pesquisa que fiz, o livro da década de 60 foi baseado em fatos reais vividos pelo autor quando participou de pesquisas com drogas psicoativas no centro psiquiátrico do Menlo Park Veterans Hospital (Califórnia) e descreve os tratamentos desumanos aos quais pacientes de lá eram submetidos na ala psiquiátrica. No nosso atual contexto, podemos perceber que ainda há um grande preconceito em relação às pessoas que buscam tratamento psíquicos e que precisam ser internadas em hospitais psiquiátricos.
No livro, Ratched é uma enfermeira sádica que comanda o tratamento dos pacientes com rigorosas sessões de terapia e eletrochoque. Já na série, Ryan Murphy retrata a personagem como uma mulher manipuladora, apática, cruel e persuasiva – ao buscar o cargo de enfermeira chefe e ao manipular o diretor do hospital –, porém, ao final da primeira temporada isso muda e ela se mostra empática e preocupada com os pacientes que são torturados – em uma cena ela ajuda duas pacientes lésbicas a fugir do hospital.
Na série, ela inicia como uma vilã – por conta dos crimes que cometeu para chegar onde chegou e conseguir o que queria –, mas ao final da primeira temporada essa postura vai se perdendo ao se apaixonar e ir morar com sua amada para fugir do seu irmão Edmund, que desenvolveu uma intensa raiva por ela, após ela ter tomado outra postura em relação a ele, a postura de aceitar que ele deve pagar pelo crime que cometeu.
A trama é carregada de mistério e cenas intensas, passíveis de reviravoltas. Ela se destaca por debater temas como a homossexualidade, machismo e outros preconceitos. Mildred Ratched é uma personagem que carrega consigo uma história demasiadamente perturbadora e que sofre intensamente por seu passado. A atuação de Sarah Paulson é impecável. Em suma, todos estes elementos tornam a narrativa interessante – pelo menos para mim – e, por isso, ela se tornou a maior estreia original da Netflix de 2020, pois em apenas 1 mês teve mais de 48 milhões de visualizações.
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