Sem direito a opinar, de se expressarem ou mesmo de serem alfabetizadas, as mulheres estão no nível mais baixo da sociedade. Imersa nesse contexto, Offred é uma aia que vai nos contando sua rotina na casa do Comandante, tendo ali a estrita função de lhe dar um filho. O propósito da série não é simplesmente retratar a realidade do mundo, mas apresentar uma perspectiva de futuro assombrosa, ao apresentar uma realidade onde o patriarcado e o radicalismo triunfam em pleno ocidente.
A violência e opressão sofridas por Offred e todas as aias, ainda que não aconteça em escala governamental, é uma analogia ao que ocorre em muitos lares e relacionamentos abusivos – onde os homens ainda persistem em subjugar ao mulheres, simplesmente por serem aquilo que são. Impondo-lhes uma realidade de terror e escravidão social.
Com tanto fervor e punições religiosas, com tanta morte em nome de Deus, com tanta repressão de liberdades, sexualidades e todo tipo de prazer em nome de uma divindade que parece cega a tantas atrocidades, esses indivíduos ainda têm tempo para altas doses de hipocrisia. Exatamente como acontece com todo o escopo religioso contemporâneo que se pauta da fé para interferir na construção do Estado ou de uma Constituição.
The Handmaid’s Tale é uma série que nos mostra o que uma sociedade pode se tornar quando uma camada extremista de uma religião (qualquer religião!) assume o controle das coisas e passa a dizer o que deve ou não deve ser feito. O alerta, porém, é muito mais para as coisas em gestação do que para coisas seu resultado final. Um cenário sociopolítico desses não se faz da noite para o dia. Muitas interferências, muito ódio à sexualidade alheia, muita tentativa de suprimir direitos e barrar coisas que as pessoas queiram fazer de suas próprias vidas, são visíveis antes mesmo do golpe final. E aí está o alerta. Em nosso mundo, temos inúmeras dessas coisas acontecendo, em estágios e lugares diferentes. O nosso pedido é que este tenebroso fruto jamais seja aberto pelo Senhor. Sob o seu olhar.
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