segunda-feira, 30 de junho de 2025

A Chegada

ANA CLARA CUNHA DE MOURA

Lançado em 2016 e dirigido por Denis Villeneuve, A Chegada é um filme de ficção científica que se destaca pela abordagem sensível e filosófica diante de um tema frequentemente explorado com foco na ação: o contato entre humanos e seres extraterrestres.

Baseado no conto “Story of Your Life”, de Ted Chiang, o longa narra a história da linguista Louise Banks, chamada pelo governo norte-americano para decifrar a linguagem de alienígenas que aterrissam na Terra. A partir desse enredo, o filme constrói uma reflexão profunda sobre comunicação, linguagem e o próprio sentido da existência.

Louise é uma personagem intrigante justamente por ser uma estudiosa da linguagem, mas ter uma postura introspectiva, melancólica e aparentemente pouco sociável. Essa contradição entre sua formação — que lida com o ato de comunicar — e sua personalidade reservada cria um equilíbrio interessante, revelando que compreender a linguagem do outro é também um processo de mergulho interno. Sua jornada é marcada pelo silêncio, escuta atenta e um amadurecimento emocional que transcende o papel técnico que lhe é atribuído inicialmente.

A construção visual do filme reforça essa atmosfera reflexiva. Villeneuve trabalha com pausas narrativas que funcionam como momentos de respiro, em que o som ambiente e a trilha sonora minimalista se destacam. Nesses trechos, o foco não está na ação, mas na contemplação. O enquadramento e a paleta fria — tons acinzentados e azulados — assumem o protagonismo, criando cenas que convidam o espectador à introspecção. Essa escolha estética transforma o visual em elemento narrativo, capaz de expressar o estado emocional dos personagens e o clima de incerteza e mistério.

Um dos aspectos mais potentes do filme é a aceitação da trajetória temporal proposta pela linguagem dos alienígenas, o finalmente descoberto “presente para a humanidade”. Ao aprender a compreender a nova estrutura linguística, Louise também passa a perceber o tempo de forma não linear. Essa mudança altera não só sua relação com o mundo, mas também com suas próprias escolhas pessoais. Mesmo sabendo das dores que viverá, ela aceita o caminho que se revela à sua frente, o que confere à narrativa uma dimensão filosófica sobre destino, livre-arbítrio e aceitação da vida como ela é.

A Chegada é mais do que um filme sobre comunicação entre espécies; é uma história sobre a comunicação interna, sobre as barreiras que criamos entre nós mesmos e os outros. A trama provoca reflexões sobre solidão, solitude e união, mostrando que compreender o outro é também compreender o próprio tempo e as consequências de nossas escolhas. A união entre forma e conteúdo, aliada à delicadeza com que o enredo é conduzido, transforma o filme em uma experiência sensorial e emocional tocante no gênero da ficção científica.

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