Friedda Antonia Lopes dos Santos
A “Felicidade Não Se Compra” pode parecer só mais um filme de Natal, mas vai muito além
disso. Frank Capra usa essa história para criticar o individualismo e o capitalismo americano,
colocando em foco um personagem comum que carrega o peso de escolhas que não foram só
dele. George Bailey, interpretado por James Stewart, é um homem que sempre abriu mão dos
próprios sonhos pelo bem dos outros e que, por isso, chega à beira do desespero.
O anjo Clarence entra em cena não só como elemento fantasioso, mas como uma metáfora
poderosa. Ele mostra a George e ao público o impacto que uma única vida pode ter numa
comunidade inteira. O mais interessante é que essa viagem "mágica" não serve para fugir da
realidade, mas para escancarar como o mundo seria pior sem solidariedade.
A estética do filme muda radicalmente quando vemos a cidade sem George. A fotografia fica
mais escura, os rostos mais duros, e tudo perde o brilho. É como se Capra dissesse que o
mundo só funciona quando as pessoas se importam umas com as outras.
O roteiro e a direção equilibram bem o drama e a fantasia. As cenas dentro da casa de George
e Mary, por exemplo, são intimistas e apertadas, reforçando a pressão que ele sente o tempo
todo. Mary, aliás, é mais do que apenas “a esposa do protagonista”. Ela tem papel ativo na
reconstrução da cidade e na manutenção da esperança.
Mesmo sendo um filme de 1946, muitos dos seus temas ainda fazem sentido hoje. A crítica à
ganância, o valor da comunidade e a noção de que ninguém está sozinho são ideias universais.
Por outro lado, é preciso notar que a obra reflete as limitações da época, como a ausência de
diversidade no elenco.
No fim das contas, A Felicidade Não Se Compra é um lembrete de que nossas ações, por
menores que pareçam, podem transformar a vida de muita gente. É um filme que emociona,
mas também provoca reflexão sobre o que realmente importa, especialmente em tempos tão
individualistas como os de hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário