quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Moda-periferia

Um novo olhar sobre o mundo fashion

Alunos: JOSE DE SOUZA GOMES FILHO, LUCIA DE FATIMA SANTOS DE OLIVEIRA, MARCOS VINICIUS FERREIRA RAMOS, ODAIR FERREIRA DE LIMA JUNIOR, SULLA DEDORA OVIDIO MIRANDA
Turma: 
COM0202 - 
HISTÓRIA E TEORIAS DA COMUNICAÇÃO
 
- T01 (2018.2 -
24N34) 
Curso: JORNALISMO

Há muito tempo, o mundo da moda era restrito a certas classes sociais. Com o passar dos anos, ainda que o caráter elitizado persista nesse ambiente, grupos que antes eram excluídos, passaram a integrar esse campo, dando mais estilo e diversidade às passarelas. Nesse sentido, vários estereótipos foram sendo, gradativamente, desconstruídos e, atualmente, a moda de rua ganha seu espaço. No cenário potiguar, Anauá Lima, 25, designer de moda, e Rafaela Fagundes, 25, designer de moda e produtora cultural, apresentam suas concepções sobre moda de periferia e como esse conceito se apresenta na sociedade.

Anauá Lima afirma que “a moda de periferia tem muita liberdade, não é tão recatada como em outros aspectos”. Além disso, é imprescindível reconhecer que a o papel da mídia na tentativa de dar maior representatividade a esses estilos, ainda tem sido gradativo. Nos dias de hoje, os meios de comunicação já explanam sobre a moda de periferia e ajudam na mudança de visão das pessoas do que vem a ser o termo periferia. Anauá admite que apesar disso, a moda de rua “existe e resiste” há muito tempo. A designer diz que “enquanto que a gente não se via, muitas vezes, na mídia massificadora, a gente conseguia criar nossos próprios meio de comunicação”.

Anauá Lima (foto: Odair Júnior)
Segundo Rafaela Fagundes, a concepção do que é moda tem mudado com o passar dos anos. “Antigamente, se passava nas academias o ritual de que a moda era ditada pelas grandes revistas, magazines, desfiles, blogs e etc”, diz Rafaela. Para a designer, a mídia em geral, sempre ditou uma certa a regra sobre o que era ou não moda, e, assim, também a desconfigurou. Isso acabou se tornando uma imposição midiática e provocou uma disseminação de que moda era apenas glamour. No entanto, Rafaela também considera que com o avanço tecnológico, esse processo, mesmo aos poucos, está sendo “ressignificado”, pois, para ela, as visões sobre “comunicação e moda” estão sendo vistas de outras formas as quais apresentam a moda como um fator que não exige padrões.

Rafaela Fagundes (foto: Marcos Vinícius)
Rafaela também acredita que a moda de periferia está “no ponto principal, quando se fala de estética, identidade, cultura, empoderamento, corpo, beleza da mulher negra”. Para ela, é nesse contexto que a moda como um todo junto ao seu público, buscam nas ruas uma forma de diversificar os estilos. “A moda surge muito mais, hoje, nas subculturas e isso vai se desencadeando. As pessoas se olham e se veem como referência” diz Rafaela e acrescenta “a comunicação serve para esse tipo de mudança”. A designer também acredita que os estilos estão cada vez mais voltados para questões sociais e culturas subversivas, fato que promove positivamente esses tipos de manifestações culturais. É dessa forma que, segundo a designer, “a moda se reinventa”, uma vez que a moda de periferia trabalha com o aspecto social, objetivando compreender questões como modo de vida, cultura e as estéticas da população que está inserida na periferia. Assim, a moda de rua ganha voz própria e forças para se destacar cada dia mais.
 
A moda de periferia criou uma linguagem própria de expressão. As várias partes do mundo são atingidas por esse novo estilo que não considera primordial a existência de grifes. Cores vivas, quentes e tons vibrantes são características marcantes de quem faz moda de periferia. Essas pessoas apresentam seu modo de vida por meio da roupa e buscam expandir as fronteiras da moda.

Anauá Lima representando o estilo da periferia (foto: Odair Júnior)
Trazendo essa perspectiva para Natal/RN, Anauá Lima fala que “Natal ainda é muito normativa, o que dificulta o acesso de evolução pra esse tipo de comportamento”, no entanto, a designer de moda que vive em uma periferia da capital potiguar percebe que ainda que esse tipo de estilo não tenha tanta representatividade na cidade, há fatores que a fazem ser vista e reconhecida de um modo que seja valorizada. “As pessoas fazem eventos, marcha da periferia, esse tipo de coisa e nesses tipos de espaços de resistência, essas criações são super respeitadas, valorizadas e admiradas”, diz Anauá.

É a partir de movimentos como marchas e apresentações desse estilo que muitas pessoas passam a despertar interesse pela moda de periferia. Nesses eventos, a diversidade de roupas, acessórios e cabelos, por exemplo, são essenciais para a formação de um ambiente inclusivo. Por meio de ações como essa, muitas mulheres, principalmente, passaram a ver seus próprios cabelos como um elemento formador de estilo. “A gente vê que nosso cabelo é bonito, a gente vê que há uma inspiração em determinada referência de que ‘negritude é bonita’”, afirma Anauá. Logo, a moda de periferia também atinge um caráter social que objetiva a redefinição do conceito restritivo de moda que ainda persiste na sociedade. Mesmo assim, para Anauá, Natal ainda está longe de promover isso completamente, a designer fala que a cidade “ainda não dá essa liberdade” para seus habitantes, mas ainda assim, “a resistência ‘tá’ aí e vai continuar existindo”.

 Rafaela Fagundes e a moda de periferia (foto: Marcos Vinícius)
Acerca da capital potiguar, Rafaela Fagundes afirma que “a cultura e a sociedade de Natal é muito provinciana”. Segundo a produtora cultural, a população natalense não encara positivamente a estética presente nas periferias da capital. A cidade, para ela, ainda não enxerga a representatividade que a moda de periferia possui nas ruas potiguares e vê nisso um problema. “O RN em si é um estado [...] em que há muito preconceito [...] a gente mora numa cidade muito patriarcal, em relação a isso”, diz Rafaela. A designer percebe que muitas pessoas veem a “identidade forte” da periferia com apreço, no entanto, essa parcela não corresponde ao todo da sociedade. “Enquanto não houver comunicação verbal e não verbal voltada para questões de imagem”, a moda de periferia não será devidamente reconhecida, finaliza Rafaela.

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