Carros voadores ou robôs falantes? O que diria o profeta da comunicação sobre o futuro da era digital?
Por: Aldayr Ribeiro, Joana Mercedes, Manuela Araújo, Vinícius H. S. a.k.a. Winny Castell
Quando o primeiro homem foi à Lua e as pessoas presenciaram incrédulas à notícia em uma TV de imagem trêmula e áudio ruim, ninguém pensou em escrever sua opinião no twitter ou que essa mesma mensagem pudesse chegar até Neil Armstrong, o astronauta em questão. As distâncias entre os países do globo pareciam ser longas demais, quem dirá da Terra até a Lua. É por isso que naquela data, julho de 1969, a humanidade não podia prever mudanças ainda mais extraordinárias do que ir ao espaço, tal como a realidade virtual. Marshall McLuhan (1911-1980), canadense teórico da comunicação, foi quem chegou mais perto de prever um futuro no qual distância alguma fosse longe demais para nós.
Quase 30 anos antes da web modificar por completo o comportamento humano, o teórico já previa algo similar à rede. Dizia: “Não existem passageiros na espaçonave Terra, somos todos tripulantes” e com essa ideia firmava a tese de que a responsabilidade pelas modificações do mundo cabe a todos e que por isso a comunicação é o ator fundamental de nossas relações. Somente com o aperfeiçoamento do viés comunicativo seria possível ocorrer avanços nas sociedades do mundo. Em seus estudos, postulou ainda conceitos sobre os meios de comunicação e acabou por classifica-los em “quentes e frios”, a depender da forma como se relacionavam com o público. Para ele, os quentes são os meios que não exigem elevado grau de participação do receptor para a compreensão da mensagem, enquanto os frios suscitam mais de um sentido do corpo humano, além da percepção de cada indivíduo para a construção completa da mensagem.
Essas noções podiam ser consideradas no ano de 1964, data em que foram teorizadas pelo autor, mas, hoje, os meios e as sociedades se modificaram, tornando tais classificações inconsistentes. Ainda assim, a importância de McLuhan se dá nos estudos teóricos da comunicação, levando em conta a forma como o pensador não se iludiu que suas teses eram mais que um retrato de um momento e que cinema, rádio e TV estariam caminhando para algo novo.... No todo, ele sempre apostou na evolução, não apenas dos meios, mas das sociedades através destes. É por isso que apesar de difícil, ainda no início do século XX, se pensar a internet e os inúmeros avanços tecnológicos a partir dela, não se fez impossível para McLuhan vislumbrar e criar o conceito chave que melhor descreve o papel da internet na contemporaneidade. Em 1962, ele cunhou o termo “aldeia global” para designar a interação que conhecemos hoje entre pessoas de diversas culturas em diferentes países, através da rede mundial de computadores. A exemplo concreto desta ideia está o Facebook que, por sua vez, surgiu apenas em 2004.
O pensador canadense Marshall McLuhan (imagem retirada do Google)
Mas o que será que esse “profeta da comunicação” diria se vivesse nos dias atuais? Ao se deparar com a TV interativa, o Xbox, as inúmeras redes sociais, as rádios online e os portais de notícia? O que pensaria quando evidenciasse que grande parcela dos relacionamentos se iniciam após uma reação em foto e que ao invés de pedirem informação na rua todos usam o google maps? Seria então capaz de prever um futuro ainda mais inimaginável? Para além de carros voadores e robôs falantes?
Para Andrezza Tavares, professora do Instituto Federal do Rio Grande do Norte, psicóloga e comunicadora, além de historiadora e crítica da arte, “a internet é uma tendência, um caminho sem volta”. Tal como MacLuhan ela também aposta em inovações que sempre modifiquem os meios anteriores, mas adverte: “pode ser uma moeda de dupla face”, ao constatar que apesar dos avanços tecnológicos, não necessariamente todas as mudanças são positivas. Assim como o teórico atentava para as “sociedades frias e quentes” em contato com “meios frios e quentes”, a educadora também destaca fatores sociais que necessitam ser trabalhados em um mundo que adentra na era virtual cada vez mais depressa, “as pessoas que dispõem de acesso ao suporte de Internet passam a ganhar níveis de inclusão social e cultural muito acima de pessoas que não o têm” ressalta.
Andrezza Tavares em seu gabinete (Foto: Aldayr Cordeiro)
Já Enoleide Farias, jornalista no estado do Rio Grande do Norte, atenta para a modificação no papel do profissional da notícia. Critica a forma como as redes sociais facilitaram a divulgação de conteúdo de má qualidade e de notícias falsas, dispensando a ética que é essencial na comunicação. “A rede é ocupada por pessoas que não possuem uma formação ética para a divulgação das notícias, que se acham no direito de publicarem informações, agindo como se fossem profissionais” opina. Sua ressalva é ao despreparo da sociedade frente a tantas informações diárias. Mas Farias não é a única a pensar dessa maneira, pois, apesar da internet possuir seus avanços, também é alvo de críticas no que diz respeito a sua condução. Bettina Rupp, Doutora em História e professora na Ufrn, ressalta que “as pessoas estão mais instantâneas” ao propor uma análise das reações online que são imediatistas e que tal noção é transposta para o mundo concreto. Frisa que a maneira de as pessoas se relacionarem se modificou com a chegada dos avanços na comunicação.
Enoleide Farias em seu gabinete (Foto: Winny Castell)
Contudo, tais julgamentos estão relacionados a condução dessa tecnologia, não a um pedido de retrocesso. O mundo hoje necessita da internet tanto quanto os mensageiros romanos necessitavam de seus cavalos antes de Cristo. A humanidade sempre buscou aperfeiçoar ferramentas para a troca de mensagens, para a comunicação. Hoje, essa ferramenta possibilita o diálogo de forma imediata e um bombardeio de informações diariamente. A sociologia analisa e se preocupa, a medicina estuda, a engenharia inova e todas as áreas tentam adivinhar um futuro de infinitas possibilidades. É complexo tentar imaginar qual será a próxima grande rede social ou se os carros de fato irão voar. Eis que Marshall McLuhan previu um dia em que seria difícil demais prever adiante, pois, em uma era instantânea onde todos querem se surpreender a todo momento, o principal trend topic é: qual será o próximo grande passo para a humanidade?
Cena de Black Mirror, série de ficção científica que reflete sobre a era virtual (retirada do Google)
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