quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Onde está o trabalho?


Mercado informal cresce no segundo trimestre de 2018

Por: Aécio de Oliveira Souza, Edvaldo Ferreira da Costa, Gilvanise Lourença de Oliveira, Manuela Ferreira de Lima e Marcelo Nascimento.

Francisco Jairo oferecendo seus produtos aos motoristas que trafegam pela BR 304, em Santa Maria, RN. Foto: Marcelo Nascimento.

Francisco Jairo da Silva, 35, é uma entre tantas pessoas que atualmente trabalham no mercado informal. Jairo já trabalhou formalmente, mas tinha que ficar longe da família. A distância e a saudade fizeram com que ele retornasse ao pequeno município de Santa Maria, no interior do Rio Grande do Norte, para trabalhar às margens da estrada que passa pela cidade.

      Assim como Jairo, milhões de brasileiros encontraram no trabalho informal uma maneira de manter a renda familiar. Uma prova disso são os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, realizada no segundo trimestre de 2018. Os dados apontam que no trimestre encerrado em setembro houve uma redução do desemprego e aumento da ocupação. No entanto, esse crescimento é decorrente de empregos sem carteira assinada e por conta própria. O resultado é positivo, mas voltado para a informalidade.

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontavam, já em 2016, que o percentual da força de trabalho ativa que estava na informalidade era de 45%.  Em 2017, a Reforma Trabalhista sugeria que novas oportunidades de trabalho surgiriam, devido a desburocratização que seria feita. Contudo, segundo o dossiê “Informalidade: realidade e possibilidade”, elaborado pelo projeto Reconexão Periferias, da Fundação Perseu Abramo, a reforma trabalhista, aprovada em novembro de 2017, apenas impulsionou o surgimento de novas configurações de exploração do trabalho, sem criar novas vagas, como prometido.

Para Julia Rocha Araujo, doutora em Economia pela UFPE e professora do Departamento de Economia da UFRN, “diversos fatores levam as pessoas a procurarem o mercado informal. Dentre eles, pode-se destacar o fechamento de postos de trabalho formais em períodos de desaceleração econômica, criando um excedente de mão de obra, assim algumas pessoas buscam na informalidade os recursos que precisam para sobreviver. Além disso, há também casos de pessoas que preferem atuar na informalidade para fugir de questões burocráticas e/ou para não arcar com todos os tributos inerentes das atividades econômicas formais. Na informalidade, elas conseguem obter maior renda líquida”.

Para a economista, “a redução do desemprego dada pelo aumento dos empregos sem carteira assinada revela que as empresas que atuam no Brasil continuam apresentando um elevado grau de desconfiança quanto ao futuro da economia do país. Essa desconfiança inibe que os empresários realizem novos investimentos e aumentem a capacidade produtiva, demandando menos mão de obra.”

A professora esclarece ainda que “o profissional conta própria não é necessariamente informal. Atualmente, a definição de trabalhador informal ganhou força no debate econômico como aquele que não contribui para a Previdência Social. No entanto, caso os trabalhadores sem carteira assinada (como profissionais liberais) ou conta própria contribuam para o sistema da Previdência Social serão classificados como formais”.

Analisando a crescente informalidade e os possíveis impactos que ela pode gerar para o sistema previdenciário, é fato que, de qualquer forma os trabalhadores inseridos nesta modalidade de trabalho, em razão do desemprego, já não contribuíram. Dessa forma, a escassez de postos de trabalhos formais é o real vilão para o sistema previdenciário. “Esses trabalhadores poderiam voltar a contribuir a partir da retomada do crescimento econômico, com a criação de novos postos de trabalho formais”, enfatiza a professora.

Contudo, ainda segundo Julia Araujo, “temos uma situação diferente quando analisamos os trabalhadores que buscam a informalidade para não arcar com os custos e burocracias da formalidade. Esses trabalhadores deixam de contribuir para o sistema previdenciário por não relacionar a contribuição com benefícios futuros. Nos últimos meses, tal desconfiança foi potencializada devido a uma possível Reforma da Previdência”.

É neste cenário que encontram-se pessoas como Josias Hermínio da Silva, 23, um dos companheiros de Jairo, personagem que abriu esta matéria. José relata que “a vida às margens da estrada é difícil, mas é preciso enfrentar para adquirir o sustento da família”. Josias está no ramo informal acerca de um ano e com a venda de milho assado e cozido, castanhas, mel e água mineral, consegue uma renda de aproximadamente um salário mínimo por mês.

  

 Josias em seu ponto de vendas.
Foto: Marcelo Nascimento

Tanto Jairo como Josias relatam que a falta de emprego foi a principal causa deles terem procurado o mercado informal. Os vendedores afirmam que a atividade é bastante insalubre, uma vez que ficam expostos ao sol, à chuva, à poluição dos automóveis e o mais grave, o risco de atropelamento. “A gente trabalha aqui todos os dias, entre 10 e 12 horas, uns minutos de descanso nos ajudam a recuperar as forças”, relata Jairo.

Ainda é cedo para verificar se a Reforma Trabalhista contribuirá de algum modo para o aumento de postos formais no mercado. Hoje o que se pode constatar é que os trabalhadores têm buscado cada vez mais o mercado informal como uma maneira de sobrevivência, aceitando empregos precários como alternativa à falta de trabalhos formais e submetendo-se à condições até subumanas.



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