White problems com diversidade
Marina Nobre da Rocha Viégas
“Caro leitor...” É com essa frase de teor misterioso, eloquente e levemente cômico que a personagem-narradora Lady Whistledown introduz a primeira temporada de Bridgerton, adaptação literária da Netflix a partir de uma série de livros escritos por Julia Quinn, à moda de Gossip Girl, outra famosa série. E com isso, Bridgerton introduz a volta de séries sobre elite e fofocas desde a última temporada de Gossip Girl, mas com teor um tanto romântico e catártico, isto é, Bridgerton veio com o propósito em prender tanto os amantes dos livros de Quinn quanto os demais espectadores às telas, sobretudo no que se refere à inclusão racial à série, indo de encontro às características originais de alguns dos personagens dos livros. Em síntese, o showrunner Chris Van Dusen resolveu criar um universo alternativo a partir da inclusão de atores negros à série, o que lhe renderia uma série de questionamentos e, de certa forma, um avalanche de opiniões diversas e antagônicas.
Escrita por Chris Van Dusen e produzida pela Shondaland (de Shonda Rhimes), que por sua vez produziu séries de sucesso como Grey’s Anatomy, Scandal e a ainda inédita Inventing Anna (que será exibida em 2022), Bridgerton chamou atenção do público pelo simples fato: a série incluiu atores negros, o que de longe despertou e dividiu opiniões. Em outras palavras, a inclusão de atores negros, como Regé-Jean Page, Adjoa Andor e Golda Rosheuvel, provocou uma divisão de opiniões: enquanto que uns aprovaram a escolha destes atores para os personagens originalmente brancos devido à sua excelente performance, outros, especialmente leitores – aos extremos – de Julia Quinn, criticaram esta escolha por motivo temporal – a fim de se situar, a trama se passa na Inglaterra Regencial – e autoral, isto é, numa época em que negros, asiáticos e índios eram subjugados pelos brancos, não havia representatividade do tipo, ainda mais o lugar na sociedade. Mas que isso – no caso a representatividade negra – não passou despercebido pelo público, isso é fato, o que é característico para se criar uma história alternativa numa narrativa de época, onde os brancos originalmente predominavam nas mazelas sociais.
Assim como a série de livros, Bridgerton não segue necessariamente uma ordem natural ao contar a história de cada um dos irmãos Bridgerton desde o mais velho – detalhe: para cada temporada, um dos oito irmãos Bridgerton protagoniza cada uma das oito temporadas – a começar pela primeira filha mulher e quarta dos oito irmãos, Daphne Bridgerton (interpretada por Phoebe Dynevor), que é introduzida à temporada social para conseguir pretendentes, quando ela conhece Simon Basset, o Duque de Hastings (vivido pelo então aplaudido Regé-Jean Page). A princípio, devido a um passado turbulento, o duque se recusa a casar-se, despertando o interesse das jovens da alta sociedade, assim como Daphne desperta paixão em pretendentes, mas com o desejo de se casar. Nisso, Simon e Daphne pretendem manter aparências até que o destino os une de maneira surpreendente. Além de nos mostrar as trajetórias do casal e dos constantes questionamentos tanto dos personagens quanto do público sobre quem é – de fato – a Lady Whistledown, Bridgerton também esbanja palavras e interpretação dos atores ao nos mostrar, em forma de crítica e sátira, como a alta sociedade é cheia de segredos, onde cada integrante da alta sociedade possui um segredo a ser cavoucado pelos colunistas de modo a provocar um alvoroço neste círculo importante da Regência Britânica.
Conforme a gente vê cada episódio de Brigerton, podemos perceber que van Dusen se manteve fiel ao livro a um certo ponto, mas que, no decorrer da trama até o final, onde há um gancho para a segunda temporada, a narrativa vai se tornando cada vez mais densa, romântica, dramática e de certo modo quente, como que se vê no polêmico sexto episódio da série. As atuações dos atores, sobretudo de Page, são a cereja do bolo para o sucesso da série, que promete ser um dos carro-chefe da Netflix (junto com Stranger Things), o que lhe rendeu uma indicação ao Emmy.
Bridgerton se encontra atualmente no catálogo da Netflix para quem quiser ver, enquanto que a segunda temporada, que deve contar com o primogênito dos Bridgertons, Anthony, está a caminho, e que com isso deve prometer mais opiniões, elogios e premiações, não sem antes de encarar os folhetins da coluna social de fofocas da Lady Whistledown, vivida com maestria na voz de Julie Andrews.
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