quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Steven universo

 

– UMA HISTÓRIA SOBRE CONEXÕES 

GABRIEL RODRIGUES SANTOS

Na primeira vez que ouvi falar sobre Steven Universo, confesso que não chamou muito a minha atenção — apesar de sempre amar desenhos — esse em questão me soava como algo infantil que não conseguiria tirar nenhum grande proveito, lembro que meu amigo não parava de comentar sobre a criadora chamada Rebecca Sugar, contando de seus grandes feitos em outros desenhos como “A hora de aventura”, sua conquista como ativista LGBT+ e a composição de músicas para inúmeras animações. Mas só após muita insistência dele me dei a oportunidade de conhecer esse universo que hoje sinto que deveria ter conhecido antes. 

Steven é o protagonista de seu própria série de desenho, um garoto que mora em uma cidade litorânea com sua família bastante inusitada, composta por 3 mulheres alienígenas cuja a espécie — chamada Gem — veio ao planeta terra há milênios anos atrás com o intuito não bem sucedido de colonização, em sua forma física dão vida a pedra que as representa, no caso dessa família; Ametista, Garnet e Pérola. Com o desenvolver do desenho entendemos que essas 3 mulheres faziam parte de uma equipe chamada Cristal Gems — Gems rebeldes que negaram seu planeta natal para defender a terra de sua própria espécie — nessa equipe a líder era Rose Quartz, falecida mãe do Steven, que se casou com um humano, fazendo do menino uma nova espécie entre essas duas. 

Tendo em mente que esse desenho foi inicialmente desenvolvido para o público infantil, me impressiona a naturalidade de tratar sobre assuntos que muitas vezes os pais não conseguem desenvolver tão facilmente com seus filhos. Não muito longe do início somos apresentados o conceito de fusão, que seria a união entre duas ou mais Gems através de uma dança formando um novo indivíduo, com sua própria pedra e novos poderes, algo interessante a se ressaltar é que a fusão pode acontecer independentemente da igualdade das pedras — Pérolas com Ametistas, Peridotes com Garnet e assim por diante — algo que em seu planeta natal é visto como uma aberração e infração à ordem natural das coisas. Steven Universo consegue fazer analogias que não passam despercebidas, relacionando as fusões a relacionamentos de todos os tipos.

Um bom exemplo de como o desenho consegue introduzir assuntos que são ratados como impróprios para crianças, é a relação da Lápis Lazúli, que para salvar o Steven vai se fundir com a Jasper — até então vilã do desenho — aprisionando a fusão Malaquita dentro do oceano por uns bons episódios. Após Lápis finalmente conseguir se libertar da fusão com sua inimiga, podemos ver através de falas e expressões que ela está muito magoada e traumatizada com tudo que passou, Steven — como um bom empático que é — tenta de todos os jeitos ajudá-la, fazendo ela dizer o que realmente está sentindo após essa experiência.

Já nesse episódio conseguimos sentir o quão profundo esse desenho vai se tornar, quando Lápis diz que sente culpada por estar com saudade da fusão com Jasper — que tanto a machucou — logo me caiu a ficha ao fazer uma analogia com um relacionamento abusivo, que infelizmente ainda é realidade de muitas pessoas, onde ficamos com parceiros que nos colocam pra baixo e nos magoam, mas ainda sim é muito difícil sair dessa situação e muitas vezes a saudade vai ser um sentimento recorrente.

Fui surpreendido positivamente ao encontrar em um desenho dito infantil tantos debates que não ocorrem tão naturalmente em filmes e séries para adultos, Steven em contramão do pensamento retrógrado da maioria, consegue atingir com maestria seu principal objetivo de levar a empatia, amor e respeito a todos que tiram um momento ara embarcar em seu vasto universo.


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