Uma série diferente
Desde sempre os seriados e filmes policiais nos chamam atenção, pessoas da lei que esbanjam justiça e moral, criminosos inescrupulosos capazes de fazer de tudo, investigações tensas que nos prendem até o fim da trama, e a violência as vezes glamourizada ou exagerada. Assistimos narrativas pela perspectiva dos agentes da lei, como é o caso de “Tropa de Elite”, “Duro de Matar”, “Bad Boys”, etc. E também assistimos obras que contam a visão dos infratores da lei, como é o caso de “Scarface”, “Poderoso Chefão”, Breaking Bad. Geralmente em ambos os casos, vemos as visões de figuras importantes nessas situações criminais, desde chefões do crime, traficantes de droga, e policiais experientes e determinados. Contudo, a Netflix lançou em 2017 uma série que quebra um pouco desses paradigmas.
Ozark conta a história de Marty Bird (Jason Bateman) e Wendy Bird (Laura Linney), em decorrência de um erro do sócio de Marty, eles são ameaçados de morte por um cartel mexicano, e após isso precisarão levar sua família disfuncional para lavar dinheiro no interior dos EUA em troca de suas próprias sobrevivências. O casal é forçado a entrar nessa situação e, mesmo desejando sair dela, vão perdendo toda a inocência com o tempo. Enquanto isso, eles precisam conciliar a vida criminosa com a familiar, omitindo o real motivo daquela situação para os filhos.
A série não foca em um macrocosmo criminal, tiroteios intensos, maquiavelismos e violência fantástica são quase inexistentes, prioriza-se mais o desenvolvimento psicológico da família Bird e daqueles envolvidos na vida criminosa da cidade interiorana de Ozark. A fusão do núcleo familiar e criminoso do casal de protagonistas permite uma dinâmica angustiante, possibilitando colocar aquelas personagens no seu limite, garantindo uma atuação excepcional de Jason Bateman e Laura Linney.
O roteiro surpreende, apesar da previsibilidade de sabermos que a família está protegida pela narrativa, pois caso morram a história não prosseguirá, o mesmo não vale para as personagens a sua volta. Ozark investe uma parte considerável de seu tempo de tela no desenvolvimento de coadjuvantes e até antagonistas, não há maniqueísmos, as personagens tem motivações, crenças e traumas provocadores de suas atitudes. Observa-se isso bastante na personagem Darlene Snell (Lisa Emery), sua personalidade impulsiva e caótica é responsável diversas vezes em criar reviravoltas narrativas, das quais resultam em problemas para os planos dos protagonistas e na subversão de crenças por parte do telespectador.
Mesmo com o enorme sucesso, Ozark planeja encerrar sua história na 4ª temporada. É valorosa a forma que a série nos faz ter empatia, vibrar e temer por figuras criminosas e facilmente detestáveis na vida real. A história do casal que lava dinheiro não se propõe a tornar grandiosa e arquetípica como tantas outras, não assumindo que tramas que optem por essa abordagem sejam inferiores ou ruins, porém Ozark tem outra abordagem. A série nos conta um drama familiar intenso, principalmente o do casal principal, e, ao mesmo tempo, um problema externo ameaçador de toda a vida daquela família. Com isso, recomendo a série para quem gosta de bons diálogos, personagens bem construídos e uma trama inteligente que surpreende quando ninguém espera. Em meio a tantas séries produzidas pela Netflix, pode-se dizer que Ozark é uma joia rara entre elas.
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