quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Anne With An E

 Ranile Maria da Silva Araújo


Anne With An E é uma série canadense baseada no livro Anne of Green Gables, publicado em 1908 e escrito por Lucy Maud Montgomery. Adaptada e produzida por Moira Walley-Beckett, a série foi lançada no Brasil em 12 de maio de 2017 pela Netflix, contando com 3 temporadas. A história segue Anne (Amybeth McNulty), uma menina órfã que é adotada por engano pelos irmãos Marilla (Geraldine James) e Matthew Cuthbert (R. H. Thomson). Inicialmente, os irmãos buscavam um menino para ajudar nas tarefas da fazenda, pois já estavam em idade avançada.

Embora se passe no final do século XIX e início do século XX, Anne With An E aborda temas de grande relevância social que eram tabus na época, como feminismo, homossexualidade e racismo. A série se destaca por sua capacidade de tratar esses temas de maneira sensível e acessível ao público contemporâneo, sem perder a autenticidade do período em que a trama se desenrola.

O feminismo é uma questão central na série, sendo abordado continuamente através da posição da mulher na sociedade da época. Um exemplo marcante é a personagem da professora, que desafia os padrões ao usar calças e empregar métodos de ensino inovadores. Uma verdadeira revolução, algo definitivamente a frente de seu tempo.

A homossexualidade é outro tema abordado com sensibilidade, revelando como, no contexto da época, as pessoas precisavam esconder sua verdadeira identidade. Personagens como Cole (Cory Gruter-Andrew) e Tia Josephine (Deborah Grover) exemplificam a realidade de muitos que viviam à margem da sociedade devido à sua orientação sexual.

O racismo é explorado através da amizade entre Gilbert (Lucas Jade Zumann) e Sebastian (Dalmar Abuzeid), um homem negro que enfrenta o preconceito dos moradores locais. A série reflete a realidade de uma sociedade ainda marcada pela escravidão e pelas desigualdades raciais, mas também mostra a possibilidade de mudança e aceitação ao longo dos episódios.

Além dos temas profundos, Anne With An E cativa o público com personagens bem desenvolvidos que evoluem significativamente ao longo das temporadas. A chegada de Anne à comunidade de Avonlea provoca uma reflexão coletiva sobre os tabus e valores que moldavam a sociedade da época. O cenário também merece destaque, com as belas paisagens da Ilha do Príncipe Eduardo, no Canadá, que enriquecem a estética da série e contribuem para a imersão do espectador.

Anne With An E é mais do que uma simples história de superação,é uma poderosa lição sobre o poder feminino, a força de vontade,a quebra de padrões e a busca quase utópica pelo seu lugar no mundo. Anne, que antes era órfã e não frequentava a escola, acaba por fazer uma graduação fora da cidade onde mora sua família adotiva. A série, portanto, não é apenas um drama histórico, mas um convite à reflexão sobre temas ainda relevantes.

Com uma abordagem cuidadosa, Anne With An E aborda questões universais de forma envolvente e acessível. É uma série que merece ser vista e revisitada, por sua relevância e impacto emocional.

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Modern Family


WENNYA LIMA


 Modern Family é uma série de comédia que foi ao ar de 2009 a 2020, criada por Christopher Lloyd e Steven Levitan. Apresentada no formato de falso documentário, a série acompanha o dia a dia de três núcleos familiares interconectados, todos membros da família Pritchett.Jay Pritchett, o patriarca, é casado com Gloria, uma mulher colombiana muito mais jovem, mãe do pré-adolescente Manny. A filha de Jay, Claire, é casada com Phil, e eles têm três filhos com personalidades distintas. Já Mitchell, o filho de Jay, vive com seu parceiro Cameron e a filha adotiva, Lily, formando uma família homoafetiva.

A série se destaca das demais com o mesmo formato por retratar, com humor e sensibilidade, as complexidades da família contemporânea, abordando temas como diversidade, inclusão e mudança nas dinâmicas tradicionais. A estrutura narrativa, com cortes rápidos e personagens interagindo diretamente com a câmera, permite que o público se conecte de maneira pessoal com os dilemas e as peculiaridades de cada personagem.

A inclusão de uma família homoafetiva, representada por Mitchell e Cameron, foi um avanço significativo para a representação LGBTQIA+ na TV. Episódios como “The Wedding” (Temporadas 5, Episódios 23 e 24), que retrata o casamento de Mitchell e Cameron, foram aclamados por normalizar relações homoafetivas de maneira leve e divertida. A série apresenta o casal enfrentando desafios típicos de qualquer relacionamento, desde inseguranças até o desejo de serem bons pais para Lily, ao mesmo tempo em que lida com os preconceitos sutis e as situações cômicas geradas pela convivência com familiares.

As relações interraciais também são exploradas, principalmente através do casamento entre Jay e Gloria. A série frequentemente aborda as diferenças culturais, como o choque entre as tradições latinas e a visão pragmática de Jay. Em episódios como “Fulgencio” (Temporada 4, Episódio 13), em que Glória deseja dar ao filho um nome tradicional colombiano, e Jay resiste, são explorados os conflitos gerados por diferenças culturais e como eles são resolvidos com empatia e respeito.

Modern Family pode ser vista como uma representação da pluralidade e da transformação das estruturas familiares no século 21. A série desafia a noção da “família tradicional” ao mostrar que laços afetivos, aceitação e amor são os verdadeiros alicerces de uma família, independentemente de formações convencionais. A narrativa destaca que as famílias modernas são formadas por diversidade cultural, orientação sexual e modos de vida que, longe de enfraquecer, enriquecem e fortalecem essas relações.

A combinação de humor e temas sociais relevantes faz de "Modern Family" uma das obras televisivas mais importantes para entender as novas dinâmicas familiares e a maneira como as relações estão se redefinindo no século 21. A série não apenas diverte, mas também educa ao apresentar a diversidade com leveza, mostrando que as diferenças são parte essencial da identidade familiar moderna.

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Raposo


 Fantástico Sr. Raposo (2009) e a celebração do diferente


Vitória Ciro


O Fantástico Sr. Raposo (2009), dirigido pelo aclamado Wes Anderson, é uma animação stop-motion inspirada na obra de mesmo nome de Roald Dahl voltado para o público infantil, mas que também encanta os mais velhos por suas reflexões sobre a vida e relações familiares. No longa conhecemos a vida do Sr. Raposo, um ex ladrão de aves, que após anos vivendo uma vida tranquila com sua família decide mudar e quebra a promessa feita à esposa, realizando um - no caso três - último assalto.

Apesar do ar infantil, a narrativa é repleta de reflexões sobre identidade e laços familiares, retratadas através do protagonista que passa pelo processo de redescobrimento de si e compreende o reflexo de suas ações em seu núcleo familiar. Além disso, insegurança, medo da perda e aceitação são retratados de forma descontraída pelos personagens mais novos, Ash e Kristofferson, filho e sobrinho do protagonista.

A narrativa linear que consegue encantar todas as idades é cativante não apenas por suas mensagens, mas também pela direção e estilo marcante de Wes Anderson, que investe em planos simétricos, movimentos de câmera verticais e horizontais, paleta de cores em tons pastéis e trilha sonora igualmente marcante, produzida por Alexandre Desplat.

Em conclusão, a primeira obra infantil de Wes Anderson é, como o próprio nome diz, fantástica e uma celebração ao diferente e à aceitação de sua verdadeira essência, citado pela Sra. Raposa: “Todos somos (diferentes). Mas tem algo de fantástico nisso, não?”.

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Climax


 Igor do Nascimento 


Climax, filme de 2018, dirigido e roteirizado por Gaspar Noé, é uma obra original e diferente das obras atuais que vemos no terror. Dançarinos são contratados para uma turnê e em uma celebração ao final de um dos ensaios, eles descobrem que a bebida da festa estava contaminada com LSD (dietilamida do ácido alérgico), uma substância alucinógena.

O filme conta com uma trilha sonora forte e marcante quase que a trama completa, cores vibrantes e chamativas, principalmente a cor vermelha, que nessa produção trará um sinal de perigo/socorro e que vai se intensificando com o decorrer do filme, uma locação pequena e que nos passa uma sensação de claustrofobia ou de lugar sem saída, coreografias intensas, e várias cenas produzidas em plano sequência, que foi uma das características que deixou a obra conhecida nos festivais de cinema.

O roteiro trata de não desenvolver os seus personagens, mas traz consigo algumas peculiaridades e alguns pontos chaves que quem prestar atenção, perceberá que a apresentação inicial não é algo que foi colocado ali ao acaso. E assim colocando o foco principal em como eles irão se comportar ao descobrir que aquela festa ocasionará em deverás consequências para o grupo, e para seus corpos que até então eram suas ferramentas de trabalho.

Com cenas e performances perturbadoras, núcleos revoltantes e intrigantes, Clímax é capaz de agitar até a mente mais calma e deixá-lo(a) de olhos bem abertos, atento(a) para tudo que pode acontecer numa comemoração que passou a se tornar um dos maiores pesadelos para aqueles dançarinos, e de queda nos presenteia com uma obra educativa sobre o uso excessivo de drogas e seus efeitos colaterais.

Mulan (1998)

 

Ellen Luiza Tinôco Nunes


“Um grão de arroz pode virar a balança, um homem pode ser a diferença entre a vitória e a derrota.” essa é a frase ao qual o imperador da China utiliza ao decretar que cada família ceda um homem para o exército imperial chinês para lutar contra os invasores, os mongóis. Nesse cenário de guerra iminente, Mulan, para poupar a vida de seu pai, se disfarça de homem e se apresenta no alistamento em nome de sua família.

Com o pano de fundo sendo caos e destruição de conflitos entre países, a história principal de Mulan é sobre outro tipo de caos, o caos que você vê no reflexo do espelho, o questionamento diário de auto reflexão: Sabemos o nosso valor? Sabemos quem nós somos? Sabemos o que é honra? Muitas perguntas complexas, mas Mulan sabe as respostas simples.

A magia da animação de 1998 não é Mushu ou o grilo, é representar de maneira universal o medo de não se sentir pertencido a um lugar. O que faz Mulan ser diferente de outras animações não é apenas o subentendido empoderamento femino ou uma representação cultural versão Disney, é o fato dela ter dúvidas sobre si mesma tão genuinamente humanas. Você, telespectador, tem o prazer de assistir Mulan ser a última e a mais bela flor a desabrochar no jardim da família enquanto vira a balança do império chinês, vira o herói épico da história e mais importante, vira Mulan.


terça-feira, 13 de agosto de 2024

Mamma Mia (2008)


 Luiz Mauricio de Souza Gomes 


Mamma Mia! é um musical dirigido por Phyllida Lloyd em 2008, que se destaca por sua vibrante adaptação das músicas do icônico grupo sueco ABBA. Visualmente deslumbrante, o filme captura a beleza paradisíaca de uma ilha grega, utilizando cores vibrantes e cinematografia panorâmica que contribuem para a sensação de escapismo e alegria. A direção de Lloyd mantém um ritmo dinâmico, essencial para prender o espectador durante os enérgicos números musicais. A simplicidade do roteiro, escrito por Catherine Johnson, favorece o filme, permitindo que a música e as performances brilhem sem a necessidade de uma trama complexa.

Meryl Streep, no papel de Donna, entrega uma performance central carismática e vulnerável, destacando-se especialmente em números como “Dancing Queen” e “The Winner Takes It All”. Amanda Seyfried, interpretando Sophie, traz doçura ao papel, embora sua performance vocal não tenha o mesmo impacto que a de Streep. Os potenciais pais de Sophie, interpretados por Pierce Brosnan, Colin Firth e Stellan Skarsgård, trazem charme e humor ao filme, apesar de suas habilidades vocais menos refinadas. Ainda assim, a autenticidade e o apelo cômico de suas performances criam uma atmosfera leve e divertida.

A trilha sonora, repleta dos maiores sucessos do ABBA, é o grande destaque, com as canções integradas de forma orgânica à narrativa. A coreografia, enérgica e bem elaborada, complementa a música, apesar de algumas sequências parecerem exageradas. O design de produção, que inclui uma ambientação visualmente impressionante e figurinos nostálgicos dos anos 70, contribui para a imersão do público na história.

Em resumo, Mamma Mia! é um filme que, embora não seja inovador em termos de narrativa ou técnica cinematográfica, se sobressai pela sua execução vibrante, direção eficaz, e pela alegria contagiante que proporciona ao público. É um exemplo de como um musical pode capturar a essência de uma época e proporcionar uma experiência cinematográfica memorável.


Godzilla: Minus One

 


Victor Luiz da Silva Albuquerque


Quando o contato mais recente que o publico tem com a figura do Godzilla é a versão de filmes americanos, com o mostro gigante surgindo como uma criatura heroica ou pelo menos “mal necessário”, um filme criado nas terras originarias do kaiju - quem diria, não é? – trouxe de volta a essência perdida da fera gigante e destrutiva do tempo da sua criação, com uma nova e emocionante releitura. 

Para muitos que acompanham ou não curtem a cultura pop, a informação a seguir é irrelevante, mas agora com esse novo filme o publico teve a oportunidade de conhecer o primeiro significado da criação do Godzilla. Assim como o Superman criado por artistas judeus em um período de guerra e perseguição ou Charles Xavier e Magneto inspirados em figuras do movimento negro americano, respectivamente Martin Luther King e Malcolm X, o Godzilla também é inspirado em um contexto de seu tempo, o final da segunda guerra mundial. Foi essa natureza de pós-guerra que o diretor Takashi Yamazaki entregou nessa película, a incomoda sensação de recomeçar após a grande guerra, ou pior, após a derrota sobe bombas nucleares no final da guerra. 

Nesse filme, acompanhamos Koichi Shikishima (Ryūnosuke Kamiki) um piloto kamikaze que foge do seu proposito inicial de soldado e retornar ao seu país, deve reconstruir sua vida, juntamente com algumas pessoas que entram em sua vida.

Descrevendo assim, não aparenta ser um filme de mostro gigante como estamos acostumados e é exatamente com isso que o diretor conta. O Godzilla nada mais é do que o resultado desse desastre nuclear para o Japão e nessa ficção serve como um lembrete da destruição causada pela guerra.Chega até a parecer sem proposito como o mostro surge, assim como a guerra que eles enfrentaram.

Toda a população mostrada na trama esta fragilizada e tentando se reerguer, porém alguns ainda estão apegados a uma espécie de orgulho “patriótico” mesmo quando estão claramente estão em condições de abandono e perda, isso é refletido pelo próprio protagonista que abandonou sua “função” por que tinha medo.

A obra trata da devastação da guerra e da união de um povo em prol da própria paz e reestruturação de sua comunidade. O Godzilla é introduzido como um elemento de destruição a deriva, sem rumo ou alvo, assim como a própria guerra que afeta a todos independe da posição ou função.

Durante sua divulgação e crescimento de popularidade, esse filme ficou popular por seu “pequeno orçamento” de 15 milhões, ganhando muita admiração do seu feito inacreditável. Não de fazer uma obra com esse valor, mas de fazer uma excelente obra com esse valor. Chega a ser assustador imaginar que foi gasto “apenas isso”. Considerando a qualidade de efeitos visuais, quantidade de elenco, cenários, e qualidade narrativa, o diretor merece os elogios por fazer com que cada escolha pareça ser acertada e pensada. Quando assistimos, não parece que vemos que quer perder tempo, a cada momento um personagem esta sendo desenvolvido e mais uma camada sendo acrescentada a obra. E sim, cada momento que o mostro aparece é um terror. Se não houvesse mostro, já é difícil ver a dificuldade do povo para se reerguer, imagina quando aquele réptil radioativo aparece. A sensação de impotência fica presente e ainda entrega ao publico o medo de perder algum personagem querido.

Essa pode ser chamada de releitura ou resgate do “Godzilla original”, mas como qualquer obra, sua mensagem vem em primeiro e é lindo ver como ela consegue ser entregue de maneira clara, emocionante e sem certas firulas narrativas. Godzilla Minus One é uma obra que merece ser vista e revisitada, não por que é um bom entretenimento, mas uma peça cinematográfica completa para agradar tanto quem quer um bom filme quanto ao cinéfilo que busca sempre um pouco a mais.

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

MIDSOMMAR (2019)


 MATHEUS DE LIMA

Midsommar é um filme de terror psicológico dirigido por Ari Aster. A trama segue Dani, uma jovem que, após uma tragédia familiar devastadora, viaja para uma remota aldeia sueca com seu namorado Christian e seus amigos. A aldeia celebra um festival de verão que ocorre apenas uma vez a cada 90 anos, mas o que começa como uma experiência tranquila logo se transforma em um pesadelo macabro.

Visualmente, o filme se destaca por sua fotografia brilhante e diurna, contrastando com a escuridão que normalmente caracteriza o gênero. A trilha sonora e o design de produção reforçam a atmosfera opressiva e onírica, com um foco em rituais, tradições e elementos de folclore nórdico. Midsommar pode ser visto como uma desconstrução de várias narrativas e convenções do horror. O filme subverte expectativas ao ambientar sua história de terror em plena luz do dia, rompendo com a tradicional associação do medo com a escuridão.

O filme explora a fragmentação da identidade, tanto individual quanto cultural. A aldeia Harga, com suas práticas rituais, atua como um "Outro" cultural que desestabiliza as percepções ocidentais tradicionais. Dani, por sua vez, vive um processo de dissociação emocional que reflete sua desorientação e eventual transformação. A trama, portanto, questiona as noções fixas de cultura, identidade e poder, expondo como essas categorias são fluídas e construídas através de rituais e narrativas sociais.

"Midsommar" desafia o espectador a reconsiderar as fronteiras entre o familiar e o estranho, o natural e o sobrenatural, mostrando que o horror pode emergir tanto da conformidade quanto da ruptura com as normas sociais. Aster não oferece respostas fáceis, mas sim um convite para explorar as complexas e muitas vezes perturbadoras relações entre o indivíduo, a cultura e o poder.

Diários de um Vampiro

 


ANA BEATRIZ DOS SANTOS BARBOSA


“Diários de um Vampiro” é uma série de televisão americana que teve sua estreia em 2009 e é inspirada nos livros de L.J Smith. A história acompanha a jovem Elena Gilbert, que se envolve em um triângulo amoroso com dois irmãos vampiros, Stefan e Damon Salvatore, em uma pequena cidade chamada Mystic Falls. Ao longo da série são abordados temas como amor, sacrifício, amizade e perdão misturados com o foco principal da série, o mundo sobrenatural, incluindo vampiros, bruxas, lobisomens e outros seres sobrenaturais. A série contém oito temporadas, dando vida a este universo com uma variedade de personagens e subtramas. A série combina de forma eficaz o drama adolescente com o universo sobrenatural.

“Diários de um Vampiro” atrai o público ao apresentar personagens capazes de se desenvolver diante dos conflitos, o que reflete em uma ótima mensagem e em ensinamentos para o público, principalmente adolescentes. Ainda sim, desenvolvendo tramas que mesmo algumas sendo consideradas clichês, conseguem manter o espectador interessado.

É possível entender a mensagem que a série passa com facilidade, através de uma metáfora das lutas internas que muitos enfrentam ao crescer. Os vampiros lidam com questões semelhantes que os adolescentes passam, como identidade, pertencimento, amor e perda. A imortalidade nos faz refletir sobre o desejo de escapar da mortalidade e do sofrimento, como se fosse a solução para alguns problemas, podendo questionar o preço a ser pago por essa fuga.

A série também aborda questões mais sombrias, como a busca por redenção e a essência do mal. Damon, por exemplo, é um personagem que está sempre batalhando contra sua natureza vampírica e procura se redimir por suas ações passadas, o que pode ser interpretado como uma reflexão sobre a habilidade humana de transformação e aceitação de si mesmo.

As oito temporadas também conseguem encantar o espectador através da sua trilha sonora, recheada de músicas maravilhosas que se encaixam perfeitamente com as cenas.

Muitas músicas têm relação com os personagens e os conflitos que estão enfrentando e dentro dela, podemos mergulhar na nostalgia das músicas dos anos 2000, além de incluir o jazz dos anos 40 e 50.

A fotografia e a cenografia trazem uma identidade única para “Diários de um Vampiro”, as cores utilizadas são essenciais para criar a atmosfera sombria e envolvente da série. Sendo recheada de sombras, tons mais escuros e uma iluminação suave. 

Por fim, como toda obra audiovisual, “Diários de um Vampiro” também tem seus altos e baixos, como ter constantes ressurreições, trazendo de volta temas que já poderiam se concluir. Assim como, as duas últimas temporadas da série que não foram capazes de agradar os fãs, depois da saída da atriz principal, Nina Dobrev, onde aconteceu a adição de personagens sobrenaturais que não puderam ser bem desenvolvidos e trouxe subtemas entediantes e desgastantes.

Porém, mesmo assim, não deixa de ser uma obra que marcou uma geração e se estabeleceu como um ícone do gênero sobrenatural, garantindo seu lugar na cultura pop. “Diários de um Vampiro continua sendo uma ótima recomendação, mesmo com as suas imperfeições.

CLOSE (2022)

 ISALANE DA SILVA PEREIRA


Um dos filmes mais interessantes e comoventes que chegou ao catálogo da Netflix neste ano de 2024, foi o filme Belga, Close. Indicado à Palma de ouro em Cannes no ano de 2022, e ao Oscar, em 2023, como melhor filme internacional. Close, dirigido por Lukas Dhont, conta a história de Remi e Leo, dois jovens garotos de 13 anos que compartilham uma amizade pura e bonita. Essa amizade é colocada à prova ao passar por fofocas e bullying no colégio, o que afasta Leo de seu melhor amigo. E acaba resultando no fim trágico para Remi; e na amizade desfeita entre eles para a vida toda.

O filme consegue explorar bem as belas paisagens do ambiente onde os personagens vivem e suas cores, que servem como pano de fundo para a cenografia e para a história que está sendo contada. As cores e a iluminação intensificam tudo que o seu olhar é capaz de enxergar e tudo que você é capaz de sentir. A câmera registra a história quase que de forma simples e manual, sem muita sofisticação e exuberância. Mas, os closes nos personagens os aproximam da história potente e do público; e as técnicas sutis escolhidas pelo diretor fazem toda a diferença para a composição do filme como um todo.

As cenas passam pela tela como se passa as folhas de um livro, de forma leve e intensa ao mesmo tempo. As próprias cores mudam com o decorrer dos acontecimentos. As cores vibrantes talvez representassem a amizade fraterna que existia entre os dois personagens. Já as cores mais escuras e neutras dessem lugar ao fim desta amizade, ao luto, à culpa que Leo sente por ter se afastado de Remi, e ao fim trágico que Remi cometeu contra si mesmo.

Close nos ensina que um filme com um bom enredo, com boas atuações, às vezes é o principal para se fazer um bom filme. Pois, conseguir captar a emoção das pessoas por meio de uma história que tem tudo pra ser jovial, e ela é. Mas, ao mesmo tempo, é uma história profunda que aborda questões existenciais problemáticas existentes em todos nós, como: a perda da inocência, a dor da perda de alguém, sentimentos obscuros, a culpa que podemos levar para nossa vida, relacionamentos que ficam à deriva em nossas vidas. Questões essas, que são levantadas pelo filme e que servem de análise para quem está assistindo. E isso, acaba nos aproximando da história do filme e dos personagens. Os nossos sentimentos se misturam com os sentimentos confusos de Leo, com a dor de Remi e com todos que são próximos a eles. Close se resume nos detalhes e a sentimentos. Esse filme é, sim, uma obra prima do cinema contemporâneo Europeu, é a prova de que o cinema existe e é criado para além de sua fronteira, para quem consegue sentir. E tem tudo para emocionar a quem se render a ele. Eu sempre me rendo a um bom filme.

Baby Driver (2017)

 

Baby Driver (2017)

Pedro Vinicius Maciel de Vasconcelos

Baby Driver (2017), dirigido por Edgar Wright, é um filme de ação, que se utiliza da música para ditar o ritmo da narrativa. Acompanhado a vida de Baby como piloto de fuga, vemos que essa não é a vida que ele quer seguir, após se apaixonar e finalmente pagar a dívida que possuía, Baby finalmente tem a chance de mudar, mas não vai ser tão fácil assim sair da vida do crime.

Ação é um gênero cinematográfico onde a edição é um elemento crucial na narrativa do filme e na percepção do espectador sobre a obra, criando a atmosfera necessária para ficarmos engajados. Aqui em Baby Driver, o diretor utiliza essa ferramenta em conjunto com a trilha sonora para ditar o ritmo em que a história vai ocorrer e evitar que cenas visualmente belas, se tornem monótonas.

A escolha de fazer com que a música inteira no ritmo do filme faz sentido dentro na narrativa, com o Baby sempre escutando música para abafar um zumbido que ele sempre escuta, decorrente de um acidente de carro na infância que acabou por matar seus pais, a música se torna uma forma de esquecer esse dia traumático.

Praticamente em todas as cenas de ação do filme os personagens e elementos então em sincronia com a música demonstrando mais uma vez a visão de Baby do mundo, fazendo com que tudo pareça um clipe musical.

Ao final do filme Baby tem sua audição prejudicada algo que é uma gigantesca mudança na forma como Baby começa a interagir com o mundo, começando a sentir as batidas da música como seu pai adotivo, que é uma pessoa surda. Vemos nosso protagonista mudando moralmente e tendo consequência para os seus atos, nos fazendo sentir que a narrativa avançou, recompensado o expectador.

Podemos observar que esse é um filme onde Edgar Wright atingiu a excelência artística única no visual na forma de contar histórias. Anteriormente podemos ver um pequeno vislumbre dessa identidade em Scott Pilgrim contra o Mundo (2010), essa semelhança é ainda mais perceptiva pelo fato do diretor de fotografia dos dois filmes serem o mesmo. Baby Driver com certeza é um filme que vai agradar e satisfazer quem assistir.

Cutie Honey

 Cutie Honey (2004)

João Victor Santos Correia de Oliveira

É impossível, pelo menos para mim, não manter a expectativa alta ao assistir às obras dirigidas pelo Hideaki Anno, muito pelo fato dele ter feito, em 1995, um anime espetacular que explora a psique humana sob o pano de fundo de batalhas entre ciborgues e criaturas galácticas, Neon Genesis Evangelion.

Em Cutie Honey, o diretor adapta um clássico do autor japonês Go Nagai. O filme inicialmente parece se distanciar dos trabalhos de Hideaki Anno, mas existe algo do imaginário japonês que nos faz acreditar em uma cola que liga essas obras, visto que o diretor cresceu sendo influenciado pela fantasia, horror, ficção científica e até mesmo o erotismo presente nos mangás do Go Nagai. Anno abusa dos seus característicos cortes acompanhados por enquadramentos claustrofóbicos e sequências estilizadas a fim de produzir um efeito dinâmico e cômico nas cenas.

Denota-se que o longa sabe que é, de certa forma, trash e não se envergonha perante a demanda de desenvolver o vínculo necessário entre as personagens principais, interpretadas por Eriko Sato e Mikako Ichikawa. As duas têm um esquema de contraste de personalidades, e mantêm a atuação caricata digna de uma página de mangá. A crítica aqui fica com a erotização do corpo feminino, infelizmente uma realidade que pode ser encontrada em múltiplas obras nipônicas, já que a feminilidade jovial é um aspecto histórico-cultural que assombra e polemiza o país.

Enfim, apesar dos pesares, Cutie Honey é uma ficção científica divertida que pode, portanto, provar que Anno não precisa ficar sob a sombra daquilo que é considerado a sua obra-prima, Evangelion, visto que ele se tornou um profissional prolífico que viria a dirigir a adaptação de outros clássicos da cultura pop japonesa, vulgo Godzilla e Kamen Rider.

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Mãos de Tesoura

 

“Edward Mãos de Tesoura”

Luiz Eduardo de Aquino

 

Lançado em 1990, "Edward Mãos de Tesoura" é uma fábula contemporânea dirigida por Tim Burton e estrelada por Johnny Depp, Winona Ryder e Dianne Wiest. A trama gira em torno de Edward (Depp), um jovem criado por um inventor excêntrico (Vincent Price) que morre antes de completar sua obra-prima, deixando Edward com lâminas afiadas no lugar das mãos.

Vivendo isolado em um castelo gótico no topo de uma colina, Edward é descoberto por Peg (Wiest), uma vendedora de cosméticos, que o leva para sua casa em uma pequena cidade. A partir daí, Edward é gradualmente inserido na comunidade, onde suas habilidades únicas geram tanto fascínio quanto medo.

A obra transborda a estética e a sensibilidade características de Tim Burton. A direção de arte é um dos pontos altos, criando um contraste visual marcante entre o castelo escuro e as casas de cores pastel do subúrbio. Burton utiliza essa dicotomia para explorar temas profundos como a aceitação, a alteridade e a superficialidade da sociedade moderna.

Johnny Depp entrega uma performance memorável como Edward, comunicando uma vulnerabilidade e inocência cativantes através de expressões faciais e gestos sutis, uma vez que seu personagem possui um vocabulário limitado. Winona Ryder, como Kim, a filha adolescente de Peg, oferece uma contraparte terna e eventual interesse amoroso de Edward, trazendo ao filme uma dimensão romântica que enriquece a narrativa.

A obra é mais do que uma história de amor ou uma fantasia gótica; é uma alegoria poderosa sobre a dificuldade de ser diferente em um mundo que valoriza a conformidade. Edward, com suas mãos de tesoura, simboliza o indivíduo marginalizado, cujas peculiaridades o impedem de ser plenamente aceito pela sociedade. A reação da comunidade ao estranho novo morador oscila entre a curiosidade e o medo, refletindo a dualidade humana em relação ao desconhecido.

A obra-prima atemporal combina fantasia, romance e crítica social de forma única. Tim Burton nos oferece um conto de fadas moderno que ressoa profundamente com os espectadores, convidando-os a refletir sobre a natureza da aceitação e a beleza de ser diferente. Com performances inesquecíveis e uma estética visual inigualável, o filme continua a encantar e provocar reflexão, reafirmando seu lugar como um clássico do cinema contemporâneo.

terça-feira, 6 de agosto de 2024

Se7en

 

Por Luiza Fonseca


Se7en - Os Sete Crimes Capitais (1995), dirigido por David Fincher, é um thriller psicológico que oferece uma análise complexa da condição humana através de uma perspectiva crítica. O filme segue os detetives Somerset (Morgan Freeman) e Mills (Brad Pitt) enquanto investigam uma série de assassinatos brutais, cada um correspondendo a um dos sete pecados capitais, que também inspiram  parte do título do filme.

A narrativa de Se7en se desenrola em uma cidade sombria e chuvosa, que não é apenas um cenário, mas um reflexo da tensão e da opressão que permeiam a história. O ambiente urbano e a constante chuva servem para intensificar o sentimento de claustrofobia e desespero, influenciando a percepção do espectador sobre a trama e os personagens. A direção de Fincher e a cinematografia contribuem para criar uma atmosfera de constante inquietação, fazendo com que a cidade se torne quase um personagem ativo na história.

O roteiro do filme explora a moralidade e a justiça de uma maneira que desafia as noções tradicionais. Ao representar os sete pecados capitais como motivações para os crimes, o filme desconstrói a ideia de justiça como algo absoluto e revela a subjetividade dos valores morais. A complexidade dos personagens e suas motivações são exploradas de maneira a questionar a própria natureza do mal e a moralidade. 

Para mim, Somerset representa a racionalidade e a experiência, enquanto Mills encarna a impulsividade e a paixão. A interação entre esses dois personagens não é apenas uma dinâmica de detetives, mas uma representação das tensões entre diferentes concepções de justiça e moralidade.

A trama é construída de forma a revelar gradualmente a lógica distorcida do assassino, que acredita estar realizando um ato de purificação ao punir aqueles que encarnam os pecados capitais. O clímax do filme, com seu plot twist, subverte as expectativas e força o espectador a confrontar a complexidade e a crueldade da condição humana.

No geral, Se7en não é apenas um thriller de mistério, mas uma exploração profunda da natureza humana e como falei antes, dos conceitos de justiça e moralidade. Utilizando uma narrativa que desafia as convenções e um ambiente que amplifica a tensão, o filme provoca reflexões sobre a dualidade entre o bem e o mal e deixa uma marca duradoura na mente do espectador, estimulando uma introspecção sobre os aspectos mais sombrios da existência humana.

A chegada

Guilherme Lima

A Chegada (Arrival), dirigido por Denis Villeneuve e lançado em 2016, é um filme de ficção científica inspirado no conto "História da sua vida" de Ted Chiang. A trama gira em torno da linguista Dra. Louise Banks, vivida por Amy Adams, que é recrutada pelo governo dos Estados Unidos para se comunicar com alienígenas que pousaram na Terra em doze naves espaciais. Sua missão é essencial: desvendar a linguagem dos extraterrestres e entender a razão de sua visita.

Não é comum assistirmos a obras que abordam questões linguísticas (nesse caso, atrelado ao tempo), ou até mesmo comunicação numa escala filosófica, fora de méritos de ordem pessoal ou social. Além disso, o roteiro, direção, fotografia, arte, som, e demais aspectos do filme servem ao propósito de contar a história da melhor forma. Esses aspectos conversam entre si, fazendo com que a linguagem (enquanto campo de estudo), e particularmente a linguagem das criaturas extraterrestres, seja o fio condutor da trama.

Obviamente, o filme não é sustentado apenas na questão conceitual. A história é cativante, e lida com perdas, escolhas, e reflexão de como lidamos com questões essenciais em nossas vidas. Nesse quesito, a interpretação da atriz principal, Amy Adams, brilha. A personagem da atriz tem todo o tempo e ferramentas necessárias para ser desenvolvida e cativar o público em sua jornada.

A trilha sonora de Jóhann Jóhannsson é um dos pontos altos da obra, e enriquece a atmosfera do filme. A música sublinha a tensão e a emoção da história, guiando o espectador através dos momentos mais íntimos. A música tema do filme, On the Nature of Daylight, de Max Richter, chama a atenção para um dos pilares da história: o conflito, a guerra. A música não foi composta para o filme, mas sim antes, no contexto da Guerra do Iraque. Dessa forma, ela possui um tema anti guerra, e tem um forte poder de comoção.

Existem filmes que são como um passeio, ou um período de férias para a mente do espectador. A Chegada não é um desses filmes. Como uma boa ficção científica deve fazer, A Chegada provoca e desperta a necessidade de reflexões. Essas reflexões são de natureza social (estimulando o pensamento crítico), mas também de natureza humana (estimulando o sentimento mais puro de conexão entre as pessoas), e perseguem quem assiste o filme, a partir de quando os créditos sobem, até o resto de suas vidas.