terça-feira, 13 de agosto de 2024

Godzilla: Minus One

 


Victor Luiz da Silva Albuquerque


Quando o contato mais recente que o publico tem com a figura do Godzilla é a versão de filmes americanos, com o mostro gigante surgindo como uma criatura heroica ou pelo menos “mal necessário”, um filme criado nas terras originarias do kaiju - quem diria, não é? – trouxe de volta a essência perdida da fera gigante e destrutiva do tempo da sua criação, com uma nova e emocionante releitura. 

Para muitos que acompanham ou não curtem a cultura pop, a informação a seguir é irrelevante, mas agora com esse novo filme o publico teve a oportunidade de conhecer o primeiro significado da criação do Godzilla. Assim como o Superman criado por artistas judeus em um período de guerra e perseguição ou Charles Xavier e Magneto inspirados em figuras do movimento negro americano, respectivamente Martin Luther King e Malcolm X, o Godzilla também é inspirado em um contexto de seu tempo, o final da segunda guerra mundial. Foi essa natureza de pós-guerra que o diretor Takashi Yamazaki entregou nessa película, a incomoda sensação de recomeçar após a grande guerra, ou pior, após a derrota sobe bombas nucleares no final da guerra. 

Nesse filme, acompanhamos Koichi Shikishima (Ryūnosuke Kamiki) um piloto kamikaze que foge do seu proposito inicial de soldado e retornar ao seu país, deve reconstruir sua vida, juntamente com algumas pessoas que entram em sua vida.

Descrevendo assim, não aparenta ser um filme de mostro gigante como estamos acostumados e é exatamente com isso que o diretor conta. O Godzilla nada mais é do que o resultado desse desastre nuclear para o Japão e nessa ficção serve como um lembrete da destruição causada pela guerra.Chega até a parecer sem proposito como o mostro surge, assim como a guerra que eles enfrentaram.

Toda a população mostrada na trama esta fragilizada e tentando se reerguer, porém alguns ainda estão apegados a uma espécie de orgulho “patriótico” mesmo quando estão claramente estão em condições de abandono e perda, isso é refletido pelo próprio protagonista que abandonou sua “função” por que tinha medo.

A obra trata da devastação da guerra e da união de um povo em prol da própria paz e reestruturação de sua comunidade. O Godzilla é introduzido como um elemento de destruição a deriva, sem rumo ou alvo, assim como a própria guerra que afeta a todos independe da posição ou função.

Durante sua divulgação e crescimento de popularidade, esse filme ficou popular por seu “pequeno orçamento” de 15 milhões, ganhando muita admiração do seu feito inacreditável. Não de fazer uma obra com esse valor, mas de fazer uma excelente obra com esse valor. Chega a ser assustador imaginar que foi gasto “apenas isso”. Considerando a qualidade de efeitos visuais, quantidade de elenco, cenários, e qualidade narrativa, o diretor merece os elogios por fazer com que cada escolha pareça ser acertada e pensada. Quando assistimos, não parece que vemos que quer perder tempo, a cada momento um personagem esta sendo desenvolvido e mais uma camada sendo acrescentada a obra. E sim, cada momento que o mostro aparece é um terror. Se não houvesse mostro, já é difícil ver a dificuldade do povo para se reerguer, imagina quando aquele réptil radioativo aparece. A sensação de impotência fica presente e ainda entrega ao publico o medo de perder algum personagem querido.

Essa pode ser chamada de releitura ou resgate do “Godzilla original”, mas como qualquer obra, sua mensagem vem em primeiro e é lindo ver como ela consegue ser entregue de maneira clara, emocionante e sem certas firulas narrativas. Godzilla Minus One é uma obra que merece ser vista e revisitada, não por que é um bom entretenimento, mas uma peça cinematográfica completa para agradar tanto quem quer um bom filme quanto ao cinéfilo que busca sempre um pouco a mais.

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