Zidney Marinho Oliveira de Mello
Santo Forte foi produzido em 1997 no contexto da visita do Papa João Paulo II ao Rio de Janeiro. O objetivo era mostrar características e experiências religiosas de moradores da Vila Parque da Cidade, comunidade carente da Zona Sul da Cidade Maravilhosa. Foram realizadas várias entrevistas com humildes moradores do local. Essas entrevistas denotaram, claramente, a complexidade da visão religiosa daquelas pessoas uma vez que é mostrada uma mistura de crenças distintas, como é o caso do cruzamento entre as religiões católica e umbandista, por exemplo.
De maneira sublime, sem nenhuma pitada de invasão, Eduardo Coutinho faz perguntas enfáticas quanto às crenças e experiências dos entrevistados. Confortavelmente, eles o respondem. Uma delas, Thereza Ferreira, idosa, relatou experiências relativas às suas vidas passadas, onde afirmou ter sido rainha, em uma antiga vida sua. Também foi relatada, por Thereza, uma experiência a respeito da morte de sua irmã, onde, segundo ela, uma pomba gira teria sido a responsável pelo falecimento. Outra entrevistada, Carla, disse que, quando criança, era fanática religiosa e estava começando a ter paranoias. Por isso, sua mãe a proibiu de frequentar a Igreja Universal do Reino de Deus. Após esse afastamento, Carla se aproximou da umbanda, onde sofreu com surras de santo. Por esses motivos, ela optou por dar um tempo nas religiões.
Essa mistura de crenças provoca uma pequena confusão mental no espectador, o que faz com que este se interesse ainda mais pelas histórias ali contadas. Para as pessoas consideradas em cima do muro quanto a religião, no sentido de prática religiosa, Coutinho os indaga quanto à sua "religião oficial". Talvez por comodidade social, no que diz respeito a discriminação religiosa e preconceito, a grande maioria se diz católico apostólico romano. O fato de seguirem e acreditarem em mais de uma religião, certamente, não os incomoda a ponto de acharem que estão equivocados com essa prática visto que a fé que possuem se mostra como alicerce de enfrentamento das dificuldades e alegrias da vida cotidiana.
O grande mérito de Santo Forte é o foco em ouvir. Outro fator interessante e dinâmico da obra é o fato de mostrar alguns dos entrevistados assinando autorização de direitos de imagem, sendo pagos pela produção e, também, presenteados. Através de personagens simples e cheios de fé, Santo Forte obtém êxito em apresentar o Brasil das diferenças, que, ao mesmo tempo, é o Brasil das semelhanças e da pluralidade. O documentário de Eduardo Coutinho é sensível e humano. Por fim, Santo Forte encanta por enaltecer os entrevistados, os enchendo de orgulho e alegria por terem sido participantes diretos da obra por meio do conto de experiências e ensinamentos a respeito de suas crenças e religiões.
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