quarta-feira, 2 de julho de 2025

The Big Bang Theory


 Entre os dois mundos

 

Por Tiago Eneas

 

Em The Big Bang Theory (2007 - 2019, criada por Chuck Lorre e Bill Prady), acompanhamos o cotidiano de Sheldon Cooper (Jim Parsons) e Leonard Hofstadter (Johnny Galecki), dois brilhantes físicos que conseguem solucionar os mais sofisticados problemas da ciência, mas que ainda não desvendaram uma grande questão: como socializar adequadamente. Além dos dois personagens principais, o astrofísico Rajesh Koothrappali (Kunal Nayyar) e o engenheiro Howard Wolowitz (Simon Helberg) também são dois elementos essenciais para a história.

O cotidiano dos quatro altera-se profundamente quando Penny (Kaley Cuoco), uma garçonete aspirante à atriz, muda-se para o apartamento ao lado de Sheldon e Leonard. Ela é sociável, popular e descontraída, diferindo fortemente dos quatro cientistas desajustados. As personalidades distintas e complementares desse grupo proporcionam um núcleo cômico que orbita entre a inclinação acadêmica – e ao mundo nerd –  e uma vida social mais agitada. A posterior inserção de Amy Farrah Fowler (Mayim Bialik) e Bernadette Rostenkowski (Melissa Rauch) também contribuem diretamente para essa lógica.

Os cenários principais da série são o apartamento de Sheldon e Leonard e a Universidade em que trabalham (a Caltech). Não há qualquer trilha sonora, com exceção da tradicional abertura, fazendo com que o principal som sejam as risadas da plateia, o que indica, de certa forma, os momentos humorísticos no episódio (como é típico de sitcoms). As filmagens evitam ângulos muito subjetivos e conservam, normalmente, uma certa neutralidade.

Inicialmente, cada personagem parte de um estereótipo mais ou menos explicitado: Sheldon é o gênio apático, totalmente alheio ao sentimento dos outros; Leonard é um cara boa praça, mas sem muito jeito; Howard é o “engraçadão” e pretenso mulherengo; Raj é o nerd incapaz de falar com mulheres e Penny é a loira burra. O que, em princípio, parece unidimensional, é rapidamente superado em virtude da profundidade e das características únicas de cada um deles.

A produção conta com um vocabulário simples e acessível mesmo quando aborda conceitos ou definições científicas – com exceção de Sheldon, que intencionalmente possui um linguajar complexo e até mesmo caricatural – , algo que facilita a compreensão e imersão do espectador. As cenas dramáticas e os arcos de romance adicionam uma carga adequada de drama, contribuindo para uma narrativa mais densa.

A jocosidade se constitui, principalmente, com base nas piadas e nas interações incomuns dos personagens. Vale ressaltar, contudo, que muitas dessas tiradas, como as de Howard, poderiam não ser bem vistas hoje, principalmente pelo teor machista e misógino – mesmo que isso seja uma etapa necessária para a desconstrução do personagem que, como mencionamos, parte de um arquétipo.

 No que tange à mudança dos personagens, é inevitável destacar o fato de que Raj não amadurece tanto como os outros três. Sheldon se torna muito menos robótico, mais empático e menos egoísta; Howard – o que mais muda dentre os quatro – torna-se alguém completamente diferente, abandonando suas piadas problemáticas e atingindo um grau mais elevado de independência emocional; Leonard consegue, de certa maneira, trabalhar seus traumas emocionais e consolidar seu relacionamento com Penny. Koothrappali, por sua vez, parece lidar com os mesmos problemas do início ao fim, sem muito progresso. É um fato que ele consegue falar com mulheres, mas mostra uma imaturidade característica do personagem que também era na primeira temporada. Não consegue estabelecer um relacionamento por essa falta.

Por fim, pode-se dizer que The Big Bang Theory é apaixonante, tanto em relação aos erros quanto aos acertos. O que em princípio poderia ser nichado, agradável somente aos “nerds”, furou a bolha. Por meio de personagens cativantes e complexos, a série aborda conflitos humanos de uma maneira palatável para todos os públicos.

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