DE
JESIEL AOS CLOWS DE SHAKESPEARE:
UMA REFLEXÃO SOBRE O TEATRO EM NATAL
Por Adri Torquato, Allan Almeida,
Maurilio Medeiros, Mycleison Costa, Paula Cunha e Ranyere Fonseca
Embora distante de ribaltas mais poderosas, a cena teatral natalense
sempre teve luz própria. Analisando bem a história da “noiva do sol”, veremos
que talento artístico nunca foi um problema para ela. Um dos nomes mais
expressivos dessa história, ainda nas décadas 70 e 80, foi o do legendário
ator, diretor, produtor e professor de teatro, Jesiel Figueiredo (1938 – 1994),
que na sua arte era múltiplo e único, um “enfant terrible”.
Obstinado, genial, polêmico e
absolutamente apaixonado pelo seu ofício, Jesiel emocionava e conscientizava
adultos, enquanto divertia as crianças com suas obras milimetricamente
planejadas. Essa expressiva figura dos palcos potiguares faleceu em um acidente
de carro, no ano de 1994, mas antes ainda teve de padecer em uma outra “morte”,
o despejo do local onde funcionava o seu teatro. Jesiel e seus emblemáticos
personagens ficaram sem um lar por falta de condições financeiras para custear
o aluguel do imóvel. Esses que, talvez, foi o primeiro sinal de que nas terras
de Poti nem sempre o talento segue a mesma direção dos incentivos para o seu
cultivo.
Seguindo os passos de Jesiel
Figueiredo, outros artistas vêm ao longo dos anos preenchendo os palcos da
capital potiguar, seja de maneira independente ou através de grandes grupos de
teatro. Francismar da Silva, ator e formado em licenciatura em teatro pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, é um desses jovens atores que
mesmo sem incentivo público busca fazer a chama do teatro continuar crepitando
em Natal.
Líder da cia. Osloucos.com, uma
companhia de teatro independente que realiza apresentações em Natal e na região
metropolitana, Francismar conta que iniciou no teatro ainda muito cedo.
“Comecei a fazer teatro com 8 anos de idade na escola. Um pouco mais tarde,
queria expandir minhas vertentes e foi na faculdade que encontrei meu estilo.
Isso aconteceu após a criação de um grupo de teatro entre amigos da graduação”.
Dono de um sorriso fácil e de uma
imensa afinidade com o humor, Francismar enxerga no teatro uma função social
tão importante que, por vezes, o faz driblar as dificuldades da falta de
investimento. “O meu coletivo trabalha dentro de uma comunidade carente
circundada pela violência e criminalidade. Vejo nosso trabalho como uma
sementinha que estar brigando e resistindo a tudo isso. Desempenhamos o teatro
vocacional, que é um tipo de teatro feito pela comunidade e para comunidade.
Nele, crianças, pais e jovens se inserem e devolvem os espetáculos que
elaboramos juntos. Acredito neste tipo de teatro que inclui as pessoas e as
incentiva a fazer algo pela comunidade, para além de ficarem sujeitas à
violência”.
Já Dudu Galvão, ator da tradicional
companhia de teatro Clowns de Shakespeare, que há 26 anos leva shows aos
teatros potiguares e de todo o Brasil, diz que fazer teatro em Natal passa pela
arte de saber se reinventar para não sucumbir as dificuldades. “Nossa companhia
tem focado mais em ações pedagógicas, em parceria com a prefeitura de
Parnamirim, com o projeto de formação de teatro para jovens e adultos, são essas
ações que vamos fazendo para que nosso trabalho não perca sua força. Temos
sempre de nos reinventar. É um exercício diário. Não podemos depender apenas do
poder público, se não a gente morre”.
O Clows de Shakespare é a prova que
acreditar na arte como meio de transformação pode render bons frutos. Fundado
em 1993, o grupo viveu tempos áureos no início da década passada, contudo, com
a crise política e a redução das verbas destinadas a cultura, veio a sofrer
assim como muitos outros grupos. No
currículo, os Clowns já levaram alegria a cerca 80 de cidades brasileiras,
dentre elas 24 capitais e o Distrito Federal, além de cruzarem as fronteiras do
país subindo em palcos portugueses, espanhóis, chilenos, equatorianos e
uruguaios.
Dudu Galvão, que assim como Francismar
começou cedo no teatro, acredita que a arte é, antes de tudo, uma escolha de
vida. “É a forma como eu me vejo no mundo contribuindo para a humanidade. É uma
forma de expressão artística, uma faculdade. Um meio de vida que contribui para
alimentar a alma das pessoas”. Para Dudu, além de tudo isso, o teatro é também
“dia a dia”, “cotidiano” e “muito trabalho”, não só nessas terras de Jesiel,
mas em todo o país.
Ele
pontua que produzir espetáculos em uma terra onde todos os teatros públicos
encontram-se fechados significa “viver na resistência” e estar sempre buscando
“ir para a rua”, não podendo se restringir apenas a ideia de um teatro
tradicional. Fato que mostra como o teatro ainda segue vivo e buscando trazer
alegria para os natalenses, seja com a Clows de Shakespare, os Osloucos.com ou
com a lembrança de Jesiel Figueiredo.
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