Matheus Henrique Silva dos Santos
Retratada em duas épocas distintas, Desalma caminha no suspense sobrenatural e no drama. A série – de apenas uma temporada até então, e com um total de 10 episódios – é uma produção do Globoplay, com autoria de Ana Paula Maia e direção de Carlos Manga Jr. As bruxas, os espíritos, os rituais, a floresta misteriosa, a troca de almas e os segredos fazem a trama acontecer nos anos de 1988 e 2018. Brígida, pacata cidade do sul do Brasil que cultua tradições ucranianas, têm suas crenças voltadas ao irreal e possui as mesmas memórias após uma fatalidade que aconteceu em uma festa local, realizada todos os anos.
A trama conta a história da cidade através de uma tragédia ocorrida no ano de 1988 com Halyna, vivida por Anna Melo, e que envolveu os jovens Roman (interpretado por Eduardo Borelli e Nikolas Antunes) e Aleksey (vivido por Nicolas Vargas), ambos da família Skavronski; e que envolveu também o jovem Boris (interpretado pelos atores Lucas Soares e Ismael Caneppele), da família Burko – o que acabou desencadeando eventos misteriosos com as duas famílias durante o ano de 2018, quando a festa volta a ser celebrada após de ter sido banida da cidade.
Como o enredo apresenta duas épocas, dois contextos diferentes são apresentados, mas em ambos os períodos, a tradição da festa denominada Ivana Kupala chama a atenção dos moradores. Em 1988 e em 2018, a cidade de Brígida anseia a celebração, e neste último ano, a cerimônia é ainda mais aguardada por se tratar de seu retorno, já que não era celebrada há 30 anos.
A bruxa Haia, interpretada por Cássia Kis, é uma das responsáveis pelos acontecimentos sobrenaturais que voltam a rondar Brígida. Eventos para além da realidade começam a marcar e assombrar a vida de Giovana Skavronski, vivida por Maria Ribeiro e de Ignes Skavronski Burko, feita por Valentina Ghiozi e Cláudia Abreu. Isso acontece a partir dos casos extraordinários que se fazem presentes na vida de ambas por meio de membros da família: Anatoli (feito por João Pedro Ribeiro) e Melissa e Emily, vividas por Camila Botelho e Juliah Mello, respectivamente.
Desalma vai mostrando a história de forma intercalada. Os conflitos da época mais antiga do enredo ocorrem por meio dos adolescentes das famílias que protagonizam a série. Tais dilemas fazem com que novos conflitos aconteçam em 2018 – ano atual do seriado – mas desta vez, de maneira sobrenatural. Os personagens presenciam acontecimentos nunca vistos, sem saber do que tudo aquilo se trata.
Ao longo da trama, as "peças" vão se encaixando e todos aqueles que viveram a fatídica noite de Ivana Kupala no ano de 88 começam a rememorar o que ocorreu naquele dia e, a partir disso, associam os acontecimentos da atualidade às tragédias e mistérios da festa de 30 anos atrás. A série conta com um terror mais introspectivo e o ar mais sombrio se dá pela trilha sonora de suspense e uma fotografia mais fria. E em alguns momentos das cenas e pequenos métodos utilizados para a edição, remetem Desalma a série alemã Dark, da Netflix.
A obra brasileira, uma das poucas que abarcam o gênero suspense/terror, empolga com uma trama envolvente que apresenta e deixa questionamentos desde o início. O destaque da série fica por conta das mulheres que lideram as famílias, mas o ponto alto fica por conta do mistério presente na cidade e em toda a sua atmosfera, dando protagonismo e – principalmente – antagonismo ao ambiente, ao invés de se concentrar em apenas um vilão, como acontece comumente.
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