MARIA JAQUELINE LIMA DA SILVA
Dirigido por Elem Klimov, o filme segue Flyora, um adolescente bielorrusso que, em 1943, deseja ardentemente se juntar aos partisans soviéticos para lutar contra os invasores nazistas. Apesar das súplicas de sua mãe, ele consegue se juntar ao movimento de resistência. No entanto, o que ele encontra não é a aventura ou a glória que imaginava, mas um pesadelo de carnificina inimaginável e crueldade. O filme é uma descida gradual e aterrorizante à loucura da guerra, vista pelos olhos de um jovem que perde progressivamente sua inocência e humanidade diante da violência extrema. A face de Flyora, interpretado por Aleksei Kravchenko, vai se transformando dramaticamente ao longo do filme, mostrando o custo psicológico e físico da guerra.
O filme se distingue de outros filmes de guerra com sua abordagem quase experimental e imersiva forçando o espectador a sentir o horror através de uma experiência sensorial avassaladora. O design de som é crucial para o filme, o áudio foi manipulado de forma brilhante, alternando entre o silêncio ensurdecedor que precede a catástrofe e uma cacofonia de tiros, gritos e zumbidos que evocam o estado de choque e desorientação de Flyora. Algumas cenas são baseadas em eventos reais e memórias do co-roteirista Ales Adamovich, que servem de testemunho da desumanização que foi o período da Segunda Guerra Mundial.
Em algumas cenas o ritmo se torna lento ou esticado, mas é de total intenção do diretor, para quem não está acostumado com este tipo de filme pode ser um teste de paciência para alguns espectadores. A sua representação da violência e do trauma pode ser avassaladora e exaustiva, quando acompanhamos Flyora em meio às atrocidades e sua descida à loucura, provoca desconforto e angústia, nos forçando a refletir sobre a capacidade humana para a crueldade e a resiliência diante do sofrimento inimaginável. É uma experiência que pode persistir na mente por muito tempo.
Vá e Veja é uma experiência cinematográfica essencial, uma obra-prima anti-guerra na visão intransigente de Elem Klimov, que deixa uma marca indelével na mente do espectador. É um filme que não apenas nos pede para ver, mas para sentir, lembrar e nunca esquecer.
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