quarta-feira, 19 de julho de 2023

livro novo


 Uma pergunta simples: a vida é um jogo? A vida é algo que disputamos, em que há vencedores e perdedores? Acredito que não, mas que talvez a vida esteja se tornando um jogo. Ou que talvez ela seja um jogo que eu jogue sem saber. Eis um quebra-cabeça de minhas ideias, agora formando uma imagem maior e mais abrangente que o universo narrativo: o lúdico. 

O lúdico existe antes do outro, antes da história/escrita, não é exclusivamente humano. Está na base pré-verbal da atividade cognitiva. Os jogos aqui eram ritualizações das narrativas, memória e atualização das crenças arcaicas. 

Com a escrita e a história, há uma domesticação do brincar pela necessidade de atenção contínua, surgem as regras e os jogos. O lúdico passa a ser mais competitivo e se configura como uma estratégia de poder. Os jogos passam a sublimar conflitos e se tornam jogos de poder. 

Então se, por um lado, o jogo foi sendo progressivamente domesticado pelo poder e suas narrativas; por outro, o lúdico permaneceu parcialmente selvagem (a incerteza lúdica) e absorveu a estrutura linguística e cultural que o enquadrava. E agora, na pós história? O lúdico se tornou 'gamificação'? A gamificação das práticas sociais ameaça a democracia como método de decisão coletiva?

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sábado, 8 de julho de 2023

Chernobyl

 

Fernanda Victória Marcelino Alves


Com uma narrativa envolta em drama, a minissérie “Chernobyl” retrata com maestria os detalhes da maior tragédia radioativa da história da humanidade. A minissérie produzida pela HBO Max mistura o gênero drama com um enredo documental para trabalhar detalhes desconhecidos do acontecimento de 1986, quando o reator 4 da usina nuclear da cidade ucraniana de Chernobyl explode e causa uma catástrofe de dimensões mundiais. A tensão construída a partir da irresponsabilidade dos líderes políticos da antiga União Soviética em esconder o nível de periculosidade do ocorrido e das consequências em cadeia disso prendem a atenção do espectador para os diversos conflitos da narrativa.

Um dos elementos de maior destaque da série é a sua fotografia construída em tons frios, e baixa luminosidade, que complementam a trilha sonora, a qual carrega uma tensão crescente em todas as partes da história. Indubitavelmente a trilha sonora é um dos principais componentes de toda a atmosfera catastrófica. Utilizando ruídos de contador Geiger (equipamento utilizado para medir o nível de radiação), silêncio e efeitos sonoros a narrativa desperta sentimentos de revolta, tensão, agonia, etc, os quais fortalecem a construção da trama.

A série é trabalhada em enredos paralelos, os quais se complementam e mostram diversas perspectivas do ocorrido. A sequência de 5 episódios passam por todos as etapas do acontecimento história, desde o fatídico dia do acidente, todas as consequências provocadas por este, até as resoluções da problemática. Informações políticas e científicas são transmitidas para o público de forma didática e fácil em cenas longas e bem trabalhadas.

A direção de arte e de figurino trazem a atmosfera da União Soviética dos anos 80 com maestria, com detalhes e referências diretas aos líderes e contextos regionais e mundiais que envolviam a nação. A ambientação do filme é baseada também na alternâncias entre plano geral para demonstrar a grandiosidade do acidente, primeiro plano para as cenas de diálogos científicos/políticos e com exploração do ângulo ¾ em muitas das cenas.

Assim, apesar de ser uma produção estadunidense há um destaque para os personagens principais como sendo heróis de uma grande tragédia. A minisérie é ótima para ter um contato com detalhes realistas do que foi a catástrofe de Chernobyl. A direção de Johan Renck não deixa a desejar entregando todos os detalhes de uma narrativa completa e bem produzida, a qual prende a atenção do espectador do início até o final e vale a pena ser assistida.

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Comer, Rezar, Amar


 Luana Queiroz


"Comer, Rezar, Amar" é uma adaptação cinematográfica do célebre livro de memórias de Elizabeth Gilbert. O filme conta a história de Liz, uma jornalista bem sucedida que decide embarcar em uma jornada de autoconhecimento após um divórcio complicado. A mulher decide viajar para três destinos totalmente diferentes - Itália, Índia e Bali - em busca de prazer, espiritualidade e equilíbrio emocional.

Um dos pontos fortes da obra é a sua fotografia. Os cenários na Itália apresentam paisagens criativas e fascinantes, as cores vivas da Índia transmitem uma sensação de conexão espiritual e a beleza exuberante de Bali é retratada de forma enérgica. A trilha sonora também é envolvente, traduzindo com maestria as diversas emoções vivenciadas pela protagonista ao longo da jornada.

O enredo é leve e cativante. Ele tem o poder de inspirar o espectador a sair da sua zona de conforto e mudar a rota da vida. O filme revela, a cada cena, a intrigante ação de recomeçar, e pode ser um divisor de águas ou um gatilho (assim como foi para mim), na história de muitos que o assistem.

Embora o longa-metragem seja carismático e interessante, há muita discussão em relação à maneira como o filme trata determinados aspectos culturais. A apresentação dos lugares visitados por Liz por vezes beira a superficialidade, retratando-os de maneira estereotipada e simplista. Isso fica especialmente evidente na representação da cultura indiana, que acaba sendo reduzida a clichês e estereótipos.

No geral, "Comer, Rezar, Amar" é visualmente atraente e possui trama convidativa, mas peca na profundidade de abordagem das culturas locais. Entretanto, certamente, o que fica de registro pessoal é a mensagem central do filme: a protagonista vive incessantemente em busca de equilíbrio, porém Elizabeth Gilbert deixa claro em sua obra que a vida é feita de momentos altos, baixos e de equilíbrio e nunca será uma entidade singular.

ESTÔMAGO

 


THAIS DANTAS DE FREITAS


"Estômago" é um filme brasileiro dirigido por Marcos Jorge, lançado no ano de 2007. Esta produção cinematográfica é uma coprodução brasileiro-italiana, realizada segundo os mecanismos do Acordo Bilateral de Co-Produção Brasil-Itália, que disserta sobre a história de Raimundo Nonato, um imigrante cearense que chega na cidade de São Paulo em busca de uma melhor qualidade de vida.

Devido a sua ingenuidade, ele acaba descobrindo logo no primeiro dia um pequeno bar em uma rua deserta da capital, logo após, sentou-se para comer duas coxinhas, salgados esses, que não tinha dinheiro para pagar, sendo assim o senhor Zulmiro, dono do bar, o ameaça e oferece a Nonato que lave os pratos de seu restaurante, bem como preparar alguns alimentos em troca de moradia no local, o explorando sem ao menos pagar salário para ele, o personagem da trama, sem perspectiva, aceita o combinado. Em poucas semanas, o local que não era frequentado por muitos, começou a ganhar reconhecimento pelo sabor dos salgados que Nonato fazia, a partir disso, inicia-se a trajetória envolvendo o mundo da culinária, experiências gastronômicas e pela sua jornada pessoal de sucesso e vingança.

Uma das grandes qualidades de "Estômago" é a forma como o diretor retrata a relação intrínseca entre a comida e a cultura. O filme utiliza a gastronomia como uma forma de representação da sociedade brasileira, abordando questões como desigualdade social, corrupção, traição e poder. Através dos pratos elaborados por Raimundo, somos transportados para um universo repleto de sabores e sensações, onde a comida se torna uma metáfora para a vida.

Os pontos chave da obra é a forma como o diretor retrata a relação entre a culinária e a realidade social dos grandes centros urbanos, uma vez que, aborda temas como xenofobia, prostituição, desigualdade, hierarquia e ambição. Através das cenas culinárias de Raimundo, podemos aos poucos acompanhar a transformação, não somente de sua personalidade, como também vivências e experiências que podem de certa forma, justificar a trajetória que findou acontecer.

A atuação de João Miguel, que interpreta o protagonista Raimundo Nonato, foi extremamente profissional, fazendo com que o telespectador transformasse o sentimento de pena do personagem em algo completamente diferente, semelhante a raiva ou aversão total. Porém, devemos destacar, sem sombra de dúvidas, o empenho da atriz Fabíola Nascimento, com a cativante performance de "íria", mulher que manteve breve relacionamento com Raimundo Nonato. Ela, torna-se peça chave para justificar a prisão e decadência do personagem, que havia projetado um amor que nunca existiu. Além disso, o elenco de apoio também merece elogios por suas atuações sólidas e genuínas.

Outro ponto positivo do filme é a sua fotografia e sua sonoplastia. As cenas de preparo dos alimentos são retratadas de forma poética, com riqueza de detalhes. Quem assiste o filme, se prende com as belas cenas de preparo dos pratos. Quanto aos sons utilizados, podemos destacar a trilha sonora utilizada para dar um ar requintado para compor juntamente com os cenários, enquanto em alguns momentos podemos ouvir a amplificação dos sons de mastigação, que para muitos, pode transmitir sensações estranhas para quem ouve. A ambientação dos espaços, contribui diretamente para imersão na trama, pois a partir dessa, podemos ver as diferenças sociais presentes subjetivamente no filme.

No entanto, apesar de todas estas qualidades, o filme possui uma montagem lenta, com poucos planos sequência. Além disso, algumas cenas podem causar desconforto nos telespectadores, tais quais, preparo de insetos nas receitas, falta de higiene, ou até mesmo canibalismo, o 'que pode ser considerado ultraviolência, e pode vir a limitar o público alvo, incomodando espectadores mais sensíveis.

Não é ato que "Estômago" foi premiado em diversos países, sua trama é completamente envolvente, quem assiste se enche de curiosidade sobre a cronologia do filme, pois a história se projeta em dois tempos diferentes. Um no presente, onde ele está preso e outro antes de ser preso, a obra em questão transmite de forma equilibrada o drama e a comédia, porém sabemos pouco sobre a vivência no nordeste em que Raimundo morou, porém há tantos elementos gráficos e criativos, que até a dúvida se torna algo elementar e necessário. Quem ama gastronomia e Cultura italiana há de se identificar entre as cenas que retratam queijos, vinhos e massas. Seu enredo bem construído, atuações convincentes e abordagem original fazem deste um filme brasileiro uma obra prima. Embora apresente algumas falhas, pode ser considerado um dos melhores filmes produzidos em solo nacional. O sucesso foi tanto, que o filme foi disponibilizado no streaming Netflix e na Globoplay, além disso, está ocorrendo desde 2022 a gravação de uma continuação da obra, que se chamará "Estômago 2" e tem previsão de estreia para o primeiro semestre de 2024.

domingo, 2 de julho de 2023

a mentira


Mayla Agnes Vicente Pereira


Filme: A mentira – Direção Will Gluck / Roteiro: Bert V. Royak / Elenco: Emma Stone, Malcolm McDowell, Patricia Clarkson.

O filme “A mentira” é uma comédia adolescente lançada em 2010, dirigida por Will Gluck e estrelada por Emma Stone, como atriz principal. O filme se passa em uma escola secundária e conta a história de Olive, uma estudante inteligente, mas socialmente invisível, que decide inventar histórias sobre sua vida amorosa para melhorar sua popularidade. No entanto, as consequências de suas mentiras rapidamente saem do controle, levando-a a enfrentar dilemas morais e a questionar a autenticidade de suas relações.

“A Mentira" é uma comédia ágil e inteligente que examina os temas da imagem pessoal, as consequências da mentira e a importância da autenticidade. O roteiro bem escrito e repleto de diálogos afiados proporciona momentos hilariantes, mas também oferece reflexões mais profundas sobre a pressão social e os desafios emocionais que os adolescentes enfrentam.

A direção de Will Gluck é contagiante, mantendo um ritmo rápido e uma estética visual atraente. Ele utiliza elementos visuais, como cores vivas e enquadramentos criativos, para realçar a atmosfera cômica e expressar os sentimentos internos dos personagens. A trilha sonora desempenha um papel importante, complementando o humor do filme e estabelecendo o tom em diferentes cenas.

Emma Stone entrega uma atuação brilhante como Olive, trazendo carisma e autenticidade. Ela transmite a evolução do personagem de forma convincente, desde uma adolescente insegura até uma jovem que aprende importantes lições sobre honestidade e autoaceitação. O restante do elenco também oferece desempenhos sólidos, contribuindo para a química e o humor do filme.

"A Mentira" vai além de uma simples comédia adolescente ao abordar questões mais profundas sobre a pressão para se encaixar nos padrões sociais, a importância da verdade e a construção da identidade pessoal. A personagem de Olive reflete os desafios comuns enfrentados pelos adolescentes de se encaixar e serem aceitos pelos seus pares. Sua decisão de criar histórias inventadas para melhorar sua popularidade revela as expectativas sociais que muitos jovens enfrentam em relação à sua imagem.

No entanto, o filme mostra as consequências negativas de viver uma vida baseada em mentiras. À medida que Olive se vê envolvida em uma teia de histórias fictícias, ela percebe que a autenticidade é fundamental para construir relacionamentos significativos e para o próprio crescimento pessoal. A jornada de Olive é um lembrete importante de que ser verdadeiro consigo mesmo é mais valioso do que a aprovação superficial dos outros.

Além disso, "A Mentira" destaca a necessidade de questionar e desafiar os estereótipos de gênero e as expectativas sociais impostas às mulheres jovens. Olive desafia as normas de comportamento e aparência feminina, desafiando as ideias preconceituosas e celebrando sua individualidade. O filme nos lembra que é importante ser fiel a si mesmo, mesmo que isso signifique desafiar as expectes.

Elvis

Viva Rock Vegas !


Ester Tavares


Ao se propor a mostra a vida pessoal de uma figura artística que está envolta de mistérios sobre sua queda, a cinebiografia "Elvis" vai acompanhar a ascensão e o declínio do denominado Rei do Rock e sua relação com seu agente, o Coronel Parker, um homem de passado misterioso e intenções que nem sempre estão de acordo com o bem-estar de seu cliente.

Embora esta que vós escreve não possua nenhuma ligação afetiva com a figura do Elvis, este filme foi capaz de despertar o desejo de ouvir mais sobre o mesmo, sentimento que é mostrado não apenas com as músicas que marcaram a sua carreira, como também pela interpretação de Austin Butler que conseguiu absorver a personalidade do Elvis, trazendo a sensação de que ele ainda estava vivo, ou mesmo que esse filme já havia sido gravado na época em que o mesmo ainda estava entre os que caminham sobre a Terra.

Esse filme foi indicado ao Oscar de 2023 nas categorias de Melhor Filme e Melhor Ator e ainda Melhor Figurino, entretanto, não levou nenhuma estatueta para casa naquela noite, apesar de ser uma obra muito elogiada pela crítica.

Algo que vale destacar sobre este filme é a maneira como ele traz a tona assuntos poucos conhecidos sobre a fama e a vida de Elvis Presley, como a sua ligação com a comunidade negra e as lutas que ele veio a enfrentar por possuir tal ligação na época em que viveu, mas ao mesmo tempo, sem fazer com que o mesmo aparente ser algum tipo de "salvador" da cultura afroamericana.

Está é uma obra para honrar a vida e a carreira de Elvis, não só de maneira saudosa para aqueles que já conhecem o artista, como também para apresentá-lo a uma nova geração, para que sua memória não seja apagada pelas areias do tempo.

“Que Horas Ela Volta?”

EMANUELE DA ROCHA VENÂNCIO


Com uma narrativa calma e envolvente e fotografia extraordinária, o drama brasileiro que leva qualquer um à reflexão - escrito e dirigido por Anna Muylaert, e protagonizado por Regina Casé - foi eleito um dos cinco melhores filmes estrangeiros do ano pela organização norte-americana National Board of Review em Dezembro de 2015.

Lançado em 2015, Que Horas Ela Volta? evidencia a relação de poder presente na convivência entre a patroa Bárbara, uma mulher branca de classe A , e a empregada doméstica que reside em sua casa, Val, uma mulher nordestina que deixou sua família e viajou a São Paulo em busca de melhores oportunidades de emprego. Ao desenrolar da narrativa, ele também promove a discussão sobre os desafios que envolvem a maternidade, independente de classe.

O título do longa remete a uma pergunta feita pelos filhos de Bárbara e de Val quando eram crianças e suas mães saiam para trabalhar, entretanto em contextos completamente diferentes devido às suas condições sociais. Enquanto Fabinho - filho de Bárbara - perguntava por uma mãe que voltava para casa após o expediente, mas não era presente em sua vida, Jéssica - filha de Val - perguntava por uma mãe que nunca voltaria devido a necessidade da mudança para São Paulo. Caracterizado por ser um filme que aborda temas sensíveis, podemos destacar alguns outros como o assédio sexual, a gravidez na adolescência e o consumo de drogas como subterfúgio por exemplo.

A obra possui um ritmo mais lento, revelando e desenvolvendo os conflitos retratados aos poucos, enquanto a narrativa e o roteiro são bem contínuos. A direção e a atuação dos personagens foram excelentes, resgatando muito bem os elementos do cotidiano brasileiro. A fotografia do longa é bem diferenciada e me cativou logo nas primeiras cenas. Ela explora planos abertos, caracterizados por serem planos de ambientação. Além disso, há um excelente manejo da iluminação para transmitir as sensações que são retratadas em cada cena, mas o que predomina são os tons frios de azul, que estão relacionados diretamente com a sensação do drama do filme.

Em suma, na minha perspectiva Que horas ela volta? trata-se de um filme calmo, porém bem dramático e provocativo, que evidencia a realidade brasileira, contando com personagens cativantes e um final um tanto reconfortante, por insinuar a interrupção no ciclo de exploração trabalhista e abandono afetivo, apesar de não representar o desfecho da maioria da população. Por fim, o longa possui uma produção excelente, desde suas características técnicas até a história retratada em si e é extremamente significativo nas telas brasileiras e estrangeiras, por isso recomendo a todos apreciarem essa verdadeira obra.

The Walking Dead


 episódio “TS-19” 


Matheus Gadea


Baseado na história em quadrinhos de mesmo nome escrita por Robert Kirkman, a série “The walking dead”, produzida pela AMC, foi um grande sucesso desde sua estreia em 2010. Na história, acompanhamos a jornada de Rick Grimes e seu grupo como sobreviventes do mundo pós-apocalíptico, na busca por moradia, suprimentos e principalmente, sobreviver neste mundo no qual já  não se sabe se as maiores ameaças são os humanos ou os mortos-vivos.

Decisões questionáveis dos produtores e modo “arrastado” com que a obra foi levada em seus anos finais, foram alguns dos fatores que fizeram com que a série perdesse qualidade e parte de sua popularidade. Porém, a produção não deixa de ter suas características extremamente positivas e episódios memoráveis. Como é o caso do sexto episódio da primeira temporada: “TS-19”.

No enredo principal do episódio, Rick e seu grupo conseguem acesso ao prédio do CCD (centro de controle de doenças), em busca de ajuda. No local, eles conhecem Edwin Jenner, cientista que trabalhou meses na busca de uma cura para o vírus zumbi. Após o cientista contar ao grupo que não existe uma salvação para a doença que aflige todo o mundo e que o prédio está prestes a entrar em autodestruição, o grupo escapa da instalação e segue sua jornada em busca de suprimentos, na esperança de continuarem vivos.

Este episódio é muito impactante, pois até o momento, os personagens achavam que alguma solução poderia existir a respeito do vírus zumbi, como uma cura. Após as revelações do Dr. Jenner, todos são entregues à uma onde de terror de que não á nada que possa ser feito, a não ser ter a esperança de sobreviver naquele mundo que já não é mais o que conheciam. O ato de aceitação do cientista de que a morte instantânea é menos dolorosa do que tentar sobreviver em um mundo tomado pelos mortos-vivos  mostra como ter esperança pode não ser o suficiente para continuar a existir no Apocalipse. Vale ressaltar que na parte técnica, ângulos de câmera que davam o ar documental a situação vivida pelos personagens e a melhor profundidade dos diálogos, são alguns dos elementos que a obra careceu em sua continuidade .

após o sol

AFTERSUN


Marina Cínthia de Oliveira Dantas


Existe um clichê no cinema que com certeza você já viu: o personagem sofre uma desilusão amorosa, passa por uma dificuldade e sai para dançar. A cena é clássica, ambiente fechado e escuro, luzes coloridas, muita gente ao redor e o personagem principal no centro, dançando loucamente, olhos fechados, cabelos suados e bagunçados.

Em Aftersun, de Charlotte Wells, esse clichê é muito bem utilizado. Num filme que causa incômodo e angústia do início ao fim, é preciso esforço para entender o que está acontecendo nesses momentos em que a cena é escura e as luzes piscam. São flashes quase ininteligíveis nos quais se vê Calum dançando e Sophie, sua filha, já adulta, olhando para ele, inicialmente de longe.

O filme se passa num resort na Turquia, onde o pai (Calum, interpretado por Paul Mescal) e a filha (Sophie, interpretada por Frankie Corio) vão passar férias. A fotografia belíssima e permeada por tons de azul é intercalada com filmagens caseiras, feitas com uma câmera de mão dos anos 90. São muitas a cenas que se passam em completo silêncio e outras sob a trilha sonora original de Oliver Coate que transmite angústia e tensão mesmo em cenas muito alegres, com pulos na piscina e mergulhos no mar. A composição das cenas também não é óbvia, como quando Sophie observa uma conversa pelo buraco da fechadura ou quando vemos pai e filha conversar pelo reflexo de uma televisão de tubo desligada.

Desde o início, a conexão entre pai e filha, o afeto e o cuidado ali existentes tocam o telespectador. Mas aos poucos se vai percebendo que para além dessa relação existem dois indivíduos, cada um passando por seus processos. Sophie está entrando na puberdade e não quer brincar com as crianças mais novas ao mesmo tempo em que é difícil se enturmar com os adolescentes hospedados no hotel, pois estes ainda a enxergam como criança. Mas a sua atenção sempre se volta para a tensão sexual entre eles e ela acaba presenciando cenas de beijos e bebedeiras com bastante interesse.

Já Calum, por mais que tente não transparecer suas fragilidades para a filha, está claramente passando por um momento de sofrimento. Ele fuma, chora, dá um mergulho no mar a noite. Tudo escondido da filha.

O filme dá algumas pistas de que aquela viagem teria sido o último momento que passaram juntos, como o cartão postal que ele escreve para ela pedindo para que ela não o esqueça, a insistência para que ela aprenda a se defender, a despedida demorada e as possíveis tentativas de suicídio anteriores – o braço enfaixado, a entrada no mar – nos levam a crer que em algum momento próximo dali ele possa ter concretizado o que vinha tentando.

Calum se mostra um pai muito atencioso e cuidadoso, por isso o grande anticlímax do filme se dá quando ele deixa a filha sozinha, momento no qual ela se perde dentro do resort e quando consegue achar o quarto ela não tem a chave e ele está dormindo tão pesado que não abre a porta para ela. No fim, ela consegue entrar com ajuda do pessoal do hotel. Nesse momento, então, surgem sentimentos antagônicos: como um pai pode esquecer e se descuidar da filha dessa forma? E acabamos por lembrar que antes de ser pai Calum é um indivíduo lutando contra os seus próprios demônios e foi nessa mesma noite que ele entrou no mar, possivelmente com a intenção de se matar.

Na última noite da viagem Calum chama Sophie pra dançar, ele diz que adora dançar e faz alguns movimentos que segundo ela são vergonhosos. A música que está tocando é Under Pressure do Queen, uma música muito significativa para esse momento que fala sobre sentir o mundo desmoronar ao seu redor, e no final tem trecho que se encaixa muito bem: “porque o amor é uma palavra tão fora de moda/ e o amor te desafia a se importar com as pessoas a beira da noite/ e o amor desafia você a mudar nosso modo de nos preocupar com nós mesmos/ esta é a nossa última dança.”

A letra da música parece se encaixar muito bem nesse momento vivido por Calum em que há claramente um sofrimento e até uma intenção de tirar a própria vida, mas há também o amor que ele tem pela filha. 

Ao final da viagem eles se despedem e, para a Sophie adulta, parece que tudo que restou foi a fita gravada durante a viagem e esses flashes em que ela vê o pai dançar e que não sabemos se é real, sonho ou imaginação.

Não sabemos, portanto, o que realmente aconteceu e por mais curiosidade que isso possa causar, não acredito que seja esse o ponto do filme. Para mim é um filme sobre uma conexão muito bonita entre pai e filha, sobre uma troca e uma convivência entre duas pessoas que se amam e se sentem felizes com a existência uma da outra. Afinal como Sophie fala, mesmo que eles não estejam no mesmo lugar e não estejam realmente juntos, eles estão debaixo do mesmo céu, então eles estão mais ou menos juntos.