segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Branca de Neve

 


MOANA RAQUEL


O primeiro longa-metragem de animação da história, Branca de Neve e os Sete Anões, da Disney, quebrou paradigmas ao deixar sua marca na história. Poucos acreditavam em seu potencial em 1937 (ano em que a obra foi lançada), mas o filme arrecadou mais de 8 milhões de dólares em bilheteria. Ele conta a história da princesa Branca de Neve, que, perseguida pela Rainha Má devido à sua beleza, se abriga na casa de sete anões em troca de seus serviços domésticos. Porém a Rainha a encontra facilmente e, disfarçada de mendiga, envenena a Princesa com uma maçã. Branca entra em um sono profundo, assemelhado à morte, mas é trazida de volta pelo “beijo de amor verdadeiro”.

O filme tem uma animação incrível, com cores vivas, e, apesar de tudo, suavidade nos movimentos, com exceção dos olhos da princesa, que raramente são vistos abertos. Os elementos usados nos momentos de medo e confusão foram muito bem pensados e conseguiram passar as emoções facilmente, sem mostrar nenhum tipo de cena explícita de sangue, envenenamento ou algo do tipo. Contudo, relevaram altamente outros tipos de violências “amigáveis” que os anões dividem entre si de tapas e batidas, bem como o beijo na boca de um homem praticamente desconhecido a uma mulher desacordada e, supostamente, morta.

Visto a partir da visão de uma mulher no século XXI, o longa poderia facilmente mostrar uma crítica à desvalorização comercial da beleza de mulheres acima de 40 anos e, até mesmo, a dificuldade de mulheres tidas pela sociedade como “bonitas” viverem normalmente sem o olhar e toque indesejado de homens. Mas a obra apela para a rivalidade feminina, onde uma bruxa, que poderia facilmente fazer uma poção para ficar mais bonita, escolhe criar uma maçã envenenada para matar a única pessoa que, segundo seu espelho mágico, é mais bonita do que ela. Como se não fosse o suficiente essa ser a relação das duas únicas mulheres retratadas na trama, suas histórias não são aprofundadas e o objetivo da protagonista não passa de algo supérfluo guiado pelo desejo de se casar com um príncipe com quem nunca conversou, sem grandes ambições além disso. E a Rainha Má, que poderia ter diversas outras preocupações na mente, administrando um reino, desvia de sua vida somente para matar quem é mais bonita que ela e supõe ser uma ameaça.

Portanto, apesar de ser um lindo musical de animação, visto atualmente, não passa de um deleite aos olhos, já que todas as suas representações, incluindo a dos anões, são extremamente distorcidas e não servem para nada além da alienação de jovens meninas.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Ó Paí, Ó

Ó Paí, Ó (2007), de Monique Gardenberg


Maria Emanoela da Silva Cadó


“Ó Paí, Ó” é um daqueles filmes que parecem estar desde sempre no imaginário do brasileiro, especialmente o brasileiro negro e nordestino. Algumas cenas icônicas e piadas foram tão reproduzidas desde seu lançamento, em 2007, que a sensação é de que todo mundo já o assistiu. Entretanto, para a geração daqueles nascidos na virada do milênio, as memórias podem ser difusas; a verdade é que, à época do seu lançamento, eu era uma criança. E somente agora, aos 25 anos, resolvi parar para assisti-lo do início ao fim, e foi uma experiência e tanto.

O cinema brasileiro pós retomada trouxe uma grande variedade de histórias e abordagens, numa época em que as grandes produções internacionais eram marcadas pelo advento das tecnologias de efeitos especiais. Na falta dos recursos dos grandes estúdios, nosso foco era narrativo e de olhar. “Ó Paí, Ó” surge nesse contexto, com um elenco

recheado de atores globais, e destaque para Lázaro Ramos, Dira Paes e Wagner Moura. Trata da vida de um conjunto de moradores de um cortiço no centro histórico de Salvador, precisando lidar com as adversidades da vida na periferia em pleno Carnaval. É baseado na peça homônima escrita por Marcio Meirelles e estrelada pelo Bando de Teatro Olodum, ao qual o filme é dedicado nos créditos finais e do qual fez parte grande parcela do elenco.

O desenrolar dos fatos ocorre quando a dona do edifício, a evangélica fervorosa Joana (Luciana Souza), resolve interromper o fornecimento de água do prédio como forma de punir os moradores por estarem curtindo a festa. São vários núcleos que se conectam: Roque (Lázaro Ramos) é um pintor e aspirante a cantor, de coração bom e apaixonado pelo Carnaval, que se interessa por Rosa (Emanuelle Araújo), afilhada de Neusão (Tânia Tôko), dona do bar local que frequentemente reúne a comunidade em festa; Reginaldo (Érico Brás) é um malandro taxista que trai a esposa grávida Maria (Valdinéia Soriano) com diversas

mulheres, incluindo a travesti Yolanda (Lyu Arisson), também moradora do cortiço, e Psilene (Dira Paes), irmã de Carmem (Auristela Sá), enfermeira que realiza abortos clandestinos e mantém um pequeno orfanato em sua casa. Em meio a tudo, os pequenos filhos de dona Joana, os inteligentíssimos Cosme e Damião (Vinícius Nascimento e Felipe Fernandes) saem pelas ruas do Pelourinho buscando as mais diversas maneiras de ganhar dinheiro dos turistas escondidos da mãe.

“Ó Paí, Ó” é, também, um musical. Com coordenação de trilha sonora de Caetano Veloso, traz seleção riquíssima e com a qual muitos de nós podemos nos identificar; desde repertório original do Olodum, passando por Edson Gomes, Ilê Ayê e composições do próprio Caetano. São cenas lindíssimas, muito bem construídas e que se conectam muito bem com a narrativa da obra, de maneira direta ou indireta. A estrela é, obviamente, Roque, apresentado como um artista sonhador que interpreta boa parte da trilha sonora, mas o carisma dos demais personagens é evidente.

Ao longo do filme, somos expostos a momentos do cotidiano daquelas pessoas que expressam inúmeros problemas sociais. Com teor humorístico ou não, são cenas que não apresentam dificuldade em comunicar a forma como questões importantes como desigualdade social, violência urbana, racismo e lgbtfobia perpassam a vida daqueles moradores, quase sempre utilizando como contraponto o conservadorismo representado na figura de dona Joana, ou o fato de que o centro histórico de Salvador, especialmente em época de Carnaval, agora vive em função de agradar os turistas, enquanto não há esforço do poder público em melhorar a vida dos moradores, que vivem em constante situação de pobreza e violência. Dessa forma, evidencia-se o significado sintomático do filme, que se torna ainda mais claro com os tristes acontecimentos finais.

Conclui-se, portanto, que este é um filme muito importante. Tanto do ponto de vista da experiência que ele traz, quanto no que diz respeito ao que ele deixa; ao que fica no espectador. É um gosto agridoce, um gosto de Brasil mesmo. Ao fim, nos perguntamos: como pode um lugar ser tão especial e tão sofrido ao mesmo tempo? Como pode tudo simplesmente seguir, paralelo a uma tristeza e uma impotência assim, tão profundas? São perguntas que seguem diariamente sem resposta, mas que já se tornaram parte de nós. E o que nos resta é, realmente, seguir.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Pulp Fiction

 


Eduardo Medeiros Gurgel de Faria


"Pulp Fiction", dirigido por Quentin Tarantino, é frequentemente elogiado por sua originalidade e inovação cinematográfica. No entanto, o que pode ser considerado como uma obra prima para alguns, pode não ser recebido com olhos tão apaixonantes assim por outros. “Pulp Fiction” tem uma falha grave que é uma das piores que um filme pode apresentar: a película tem um vazio imenso de significado.

Pulp Fiction conta com uma narrativa não linear inovadora que realmente é um de seus pontos fortes, mas, mesmo com esse quebra-cabeça narrativo admirável, a superlotação embaralhada de cenas mais atrapalha do que ajuda no desenvolvimento da trama. Essa obra audiovisual consiste basicamente em histórias cruas lançadas e organizadas seguindo uma sequência lógica a qual não parece ter nenhum elemento interessante responsável por uni-las. Na verdade, há sim um elemento, a violência, e essa violência se expressa potencialmente na obra de três formas: verbal, física e sexual.

Porém, a violência é um elo fraco do filme. Não que ela não se manifeste bem, muito pelo contrário, ela se manifesta até demais; e é justamente por isso que é um elo fraco; ela acaba se tornando apelativa e empobrece o filme ao invés de enriquecê-lo. A não ser que você seja o tipo de pessoa que goste de ver cenas macabras e sanguinárias e episódios pesados de muito sangue e guerra pelo puro prazer de vê-los, esse filme não irá te acrescentar nada de novo. Eu não tenho absolutamente nenhum problema com filmes violentos, até gosto, mas esse tema deve ser bem trabalhado na proposta para que valha a pena ter dependido tempo em visualizá-lo. Inclusive posso citar aqui filmes violentos os quais acho fantásticos e que dialogam coesamente com essa temática: “Tropa de Elite” e “Clube da Luta”.

A primeira vez que assisti ao Pulp Fiction pensei “qual a mensagem que esse filme me passou?” e cheguei à conclusão de que não havia me passado nenhuma. E isso realmente pode não ser um problema para um telespectador específico, mas para outros (como a mim por exemplo) pode ser. Quando assisti novamente obtive a seguinte mensagem: “o que uma arma apontada para a sua cabeça não é capaz de fazer”, todavia, acredito que essa mensagem foi mais mérito da minha criatividade do que da comunicação fílmica da obra em sim e talvez nem tenha sido exatamente o que o Tarantino quis comunicar ali.

Não tenho nada contra entretenimento por entretenimento, até gosto, mas quando se trata de temas tão sensíveis quanto a violência, acho que precisamos ter cautela e designar um objetivo claro do porquê estamos mostrando aquilo e o que queremos passar para quem está nos assistindo, porque se for só para testemunhar crueldade pura é preferível assistir ao noticiário local.

Também não tenho nada contra as cenas que não acrescentam em nada para a história principal, acho que, dependendo de como forem feitas, elas ajudam até a suavizar a narrativa e desopilar quem está assistindo. Porém, quando a quantidade dessas cenas é tanta que preenchem quase a totalidade da trama - aí sim vira um problema. Quase todas as cenas de Pulp Fiction são altamente descartáveis, embora que muito bem filmadas e dirigidas. Se o intuito do longa metragem era mostrar o poder de mise-en-scène do diretor, então ele cumpre seu papel e eu me calo, contudo, no quesito história, que é o mais importante para mim e para tantos outros, ele peca e muito.

Em resumo, enquanto "Pulp Fiction" é elogiado por muitos como um marco na história do cinema, seu apelo excessivo pela violência tanto física, quanto verbal e sexual e ainda a falta de uma mensagem central clara podem ser pontos de crítica para aqueles que preferem uma abordagem mais convencional e coesa no cinema. Se cada parte desse filme fosse uma obra curta isolada, elas receberiam isoladamente nota 10, mas quando se juntam e formam o longa por completo, não conseguem a coesão necessária e suas autossuficiências caem por terra quando unidas no que chamamos de Pulp Fiction.


Donnie Darko



PEDRO CAVALCANTI


Dirigido por Richard Kelly, “Donnie Darko” (2001) é um complexo filme que mescla elementos de drama, ficção científica e psicologia. Lançado em 2001, o filme explora a vida do personagem homônimo, um adolescente problemático que lida com questões existenciais e experiências temporais após escapar da morte, quando um homem vestido em uma fantasia de coelho amedrontadora o salva de uma turbina de avião que cai em cima de sua cama. A partir desse momento, a narrativa intrigante se desenrola com uma atmosfera sombria e misteriosa, apresentando um cronômetro para o “fim do mundo” e deixando espaço para interpretações subjetivas.

A obra mergulha nas confusões da mente de Donnie, abordando temas como isolamento, medo da morte e o desafio de encontrar significado na vida. A presença do coelho imaginário, Frank, adiciona uma camada surreal à trama, representando as ansiedades e influências obscuras que permeiam a psique de Darko. A conexão emocional é aprofundada pela trilha sonora envolvente e pela atuação impactante de Jake Gyllenhaal, que transmite efetivamente a angústia do protagonista, juntamente com os eventos que o interligam aos demais personagens da trama. Inclusive, toda a trajetória vivida por Donnie constrói um personagem mais maduro, corajoso, conformado, e que entende o seu principal propósito no plano intertemporal apresentado. Plano esse que consiste em recriar o momento da sua morte, e permiti-la para evitar o fim de tudo.

Sob a ótica técnica, Kelly utiliza elementos visuais e narrativos de maneira magistral. A cinematografia emprega uma paleta de cores sombrias para transmitir a atmosfera melancólica, enquanto a direção habilmente manipula a percepção temporal, desafiando as convenções narrativas. A trilha sonora, com destaque para "Mad World" de Gary Jules, intensifica as emoções e complementa a abordagem visual. A edição precisa contribui para a complexidade da trama não linear. "Donnie Darko" transcende as fronteiras tradicionais do cinema, proporcionando uma experiência cinematográfica rica e emocionalmente envolvente.

"Donnie Darko" se destaca não apenas por sua trama curiosa, e por vezes de desafiadora compreensão, mas também pela habilidade técnica e emocional que permeia cada cena. O filme revela a maestria de Kelly ao explorar temas profundos e complexos, oferecendo ao público uma experiência que transcende o convencional, e fazendo do longa-metragem uma peça única no panorama cinematográfico contemporâneo.


quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

tudo em todo

 


TUDO EM TODO LUGAR AO MESMO TEMPO


Thaís Medeiros Fernandes


Todo mundo com um mínimo de interesse por cinema ou até física já ouviu falar de multiversos, teoria que explodiu na cultura pop nos últimos anos, apesar de não ser nada nova. Desde Rick and Morty ao universo da Marvel, esse conceito tem sido utilizado por diversos diretores e a dupla Daniel Scheinert e Daniel Kwan não fica de fora.

No filme “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, lançado em junho de 2022, os Daniels exploram a ideia de diversos universos existindo ao mesmo tempo, como bem aponta o título. A ficção científica conta a até então monótona história de Evelyn Wang, proprietária de uma lavanderia mal sucedida com seu marido excessivamente otimista Waymond. As coisas vão de monótonas a completamente instigantes quando outra versão de Waymond pula do alfaverso, onde humanos aprenderam a saltar para suas diferentes versões, para o mundo em que Evelyn estava. A partir daí, o conceito de multiverso é introduzido tanto aos telespectadores quanto a Evelyn, a quem recai a tarefa de salvar o mundo (todos eles) da grande vilã Jobu Tupaki.

É impossível resumir a grande e deliciosa bagunça dessa obra. Cheio de “plot twists”, absurdidades cômicas e ideias inimagináveis, o filme tem um ritmo que não deixa a desejar em momento algum, fazendo da loucura o grande tema dele. Parece que para a dupla de diretores, nenhuma ideia era doida demais para as telas – sério, o cenário mais insano que conseguir imaginar, os Daniels colocaram o dobro disso.

Para além de todo esse caos do multiverso, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” fala também sobre a experiência e as emoções humanas. O coração da história e a mensagem deixada é que, apesar de parecermos pequenos e irrelevantes dentro de todos esses universos, a simplicidade de ser humano, do amor e da empatia é o que dá sentido à vida. Em meio a tanta loucura, os Daniels conseguiram fazer uma ficção científica cômica, caótica e comovente (tudo ao mesmo tempo), e que com certeza vale a pena assistir.


O palhaço


 O palhaço, de Selton Mello


Eliel Hebertt


Lançado em 2011, “O palhaço” é um longa-metragem nacional dirigido e estrelado por Selton Mello. A narrativa da história nos mostra um grupo de circo, um daqueles clássicos - com malabaristas, músicos, palhaços, atrizes - que vivem viajando e se estabelecendo nos interiores do estado de Minas Gerais. E se de um lado vemos toda a comédia e magia do circo, do outro vemos a dor, o existencialismo, a paixão, a dúvida, a vida - instável, como ela é. O nosso protagonista, o palhaço Benja, nos mostra uma faceta peculiar que se contrasta com a alegria dos tablados de apresentações de comédia. A narrativa do longa nos faz mergulhar em uma sensação de desespero, de inadequação e de crise de identidade, e todos aspectos técnicos da obra intensificam essa sensação.

A fotografia pálida, sem vida, nos mostra o cotidiano de uma forma cinematográfica, porém totalmente tangível e realista. A direção do filme traz o melhor dos atores/atrizes para as telas do cinema, nos carregando de todos os sentimentos que nas cenas ocorrem. O som e a trilha sonora trazem pausas dramáticas para a apreciação da atuação do filme, nos colocando imersos em um mundo sonoro de tristezas e alegrias. A montagem e ritmo do filme, no entanto, são arrastados, o que pode trazer insatisfação aos espectadores que preferem filmes mais rápidos e ritmados - o que não foi prejudicial nas minhas experiências com o filme, pelo contrário, acredito que o ritmo traz uma melancolia e monotonia que são necessários para uma misancene nostálgica.

Mas o ponto alto do filme está no roteiro. Da forma de como a história é contada e de como o arco do personagem principal é desenvolvido. O sentimento e sucesso do roteiro filosófico é acentuado pela atuação fidedigna de Selton Mello, que nos mostra a dualidade da alegria e da tristeza, da euforia ao recorte intimista de um adulto comum que não vê mais sentido algum no que faz.

As histórias secundárias são o que nos trazem o alívio cômico em certos momentos, os músicos que mentem pelo adiantamento do dinheiro, o homem que gosta de pular a cerca e acaba colocando todo mundo em uma delegacia, a circense que desvia dinheiro do dono, o filho do prefeito que se apresenta pela primeira vez no circo e erra a fala. Todas essas histórias secundárias geram o ar cômico que é oposto do arco do personagem principal.

“O palhaço” é o segundo longa-metragem do ator e diretor Selton Mello, que chegou a ser escolhido para concorrer a 85º edição do Oscar, porém, o longa não conseguiu trazer esse feito ao Brasil. No entanto, o filme é premiado no Brasil à fora e está dentre os 100 melhores filmes segundo a Abraccine (Associação Brasileira de Críticos do Cinema).

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Rebecca

 


Vitoria Nogueira


"Rebecca, a Mulher Inesquecível," é uma obra cinematográfica de romance e mistério dirigida por Hitchcock na década de 40, mergulhando os espectadores em uma trama surpreendentemente envolvente. A história gira em torno de Joan, uma órfã de origem humilde que, durante suas férias em Monte Carlo, se casa apressadamente com o rico viúvo Maxim. Ao se mudarem para a imponente residência do marido, a recém-casada sra. de Winter se vê assombrada pela sombra persistente da ex-esposa, Rebecca, cuja presença parece persistir mesmo após sua morte.

A trilha sonora desempenha um papel fundamental na trama, intensificando a atmosfera de mistério e a angústia vivida pela protagonista. Cada menção ou referência a Rebecca evoca melancolia, irritação e retração em Maxim, enquanto a governanta e outros personagens expressam uma adoração intensa pela falecida, adicionando complexidade à narrativa.

O enigma em torno da morte de Rebecca suscita expectativas sobre a verdadeira natureza da relação entre ela e Maxim. O filme habilmente constrói a dúvida: teria Maxim sido o responsável por sua morte, ou estaria ele sendo injustamente acusado?

A relação entre Joan e Maxim proporciona uma reflexão sobre os papéis tradicionais de marido e mulher, especialmente na década de 40. A rápida materialização do romance e a submissão aparente da sra. de Winter revelam o padrão dos relacionamentos da época, deixando claro a lógica da entrega e aceitação. Sua ingenuidade a faz ignorar sinais potencialmente perigosos em Maxim. Sua falta de clareza, honestidade e responsabilidade afetiva são alguns pontos de destaque, fazendo com que a recente esposa viva sob constante pressão psicológica.

O plot, ainda que criminoso, muda a visão de Maxim, do homem inescrupuloso para um homem acometido pelo acaso. Ainda que o filme vitimize Maxim pela morte acidental de sua ex-esposa. O roteiro, a encenação e a total entrega de amor de sra. de Winter por Maxim suavizam nosso olhar sobre o homem distante do começo do filme e o casal passa a ter contornos meigos e ideias.

O longa "Rebecca" se destaca não apenas por sua trama envolvente, mas também por elementos técnicos impecáveis, como roteiro, direção, fotografia e atuações profundamente trabalhadas. Os personagens principais ganham profundidade psicológica, tornando-os complexos e cativantes.

A trama é habilmente construída. Por um olhar mais amplo, "Rebecca" aborda temas profundos como casamento, infidelidade, devoção, entrega, impunidade e privilégios, enriquecendo a narrativa com camadas de significado e reflexão sobre a natureza humana.

O segredo além do jardim.


 

 Weyller Cinel


O Segredo Além do Jardim (2014) é uma série de animação que combina elementos de fantasia e mistério, explorando temas filosóficos e existenciais. A trama segue dois meio-irmãos, Wirt e Greg, enquanto viajam por uma floresta mágica. A narrativa é rica em simbolismo, referências literárias e desenvolvimento de personagens.

A série aborda questões profundas, como a busca de identidade, a natureza do medo e a jornada para a maturidade. A estética visual é única, misturando um estilo reminiscente de contos de fadas com toques sombrios, contribuindo para a atmosfera única da série.

A trilha sonora desempenha um papel significativo, realçando a atmosfera melancólica e misteriosa. Além disso, os personagens secundários e suas histórias adicionam complexidade à trama, permitindo que diferentes camadas de significado se revelem ao longo da narrativa.

No entanto, alguns críticos podem apontar que a complexidade da história pode tornar-se densa para alguns espectadores mais jovens. Além disso, o final ambíguo pode gerar interpretações diversas, o que pode ser um aspecto positivo para alguns e desafiador para outros.

Em resumo, "O Segredo Além do Jardim" é uma obra rica e envolvente que oferece uma experiência única, mas sua abordagem complexa pode ser um ponto de consideração para determinados públicos.

La La Land


Victor Bruno Cavalcanti Santos


La la land, musical de 2016, dirigido por um dos nomes mais proeminentes do cinema norte-americano da atualidade, Damien Chazelle, já nasceu como um clássico moderno instantâneo. O longa conta a história da atriz Mia e do pianista Sebastian que, após um romance avassalador um tanto quanto improvável, tentam estabelecer suas carreiras na grande Los Angeles, e esforçam-se para conseguir lidar seu relacionamento com a competitividade implacável da “Cidade das estrelas”.

Quando digo que La la land já nasceu como um clássico moderno instantâneo é devido a lição de casa que a produção do filme fez para constituir tal obra. O diretor busca em suas inúmeras fontes de inspiração para moldar um filme que é antigo, com sua fórmula de romance igual grandes clássico como “E o vento levou” e “Casablanca”, mas também moderno com sua linguagem dinâmica e com avanços da modernidade, como o aprofundamento na personagem feminina retratada, que também é uma das protagonistas, como uma mulher empoderada e não dependente de um homem para realizar suas ações. Com tudo isso em sua

bagagem, Chazelle também bebe de diversas fontes de filmes musicais para referenciar em sua obra, o mais evidente deles “Cantando na chuva”, com suas cenas musicais grandiosas e com vários planos sequência apoteóticos. A escalação de Emma Stone como Mia, a qual rendeu o Oscar de melhor atriz, foi extremamente certeira, pois seu carisma e talento movem completamente a narrativa, especialmente devido ao seu vocal, o que já não se pode dizer sobre Ryan Gosling como Sebastian. Gosling atua assertivamente e entrega o que o roteiro pede, especialmente no quesito das coreografias, entretanto, seu vocal não chega nem aos pés da parceira, Emma Stone, deixando uma estranheza quando os dois cantam juntos, pois é perceptível claramente a diferença vocal entre ambos. Apesar disso, a experiência com o filme não se perde, principalmente devido aos quesitos técnicos da obra. A fotografia da película, com tons de roxo, azul e vermelho bem vibrantes, constroem uma cidade quase como fantasiosa, a “cidade das estrelas”, onde tudo é possível. Além disso, outro aspecto extremamente importante do filme é sua trilha sonora impecável, a qual utiliza principalmente do Jazz para moldar os sons ouvidos durante toda a narrativa.

Visto isso, a obra em questão embarca você em uma jornada apaixonante sobre música, romance, busca pela fama e reconhecimento, além de apontar a importância da valorização do passado para a perpetuação da cultura. Dessa forma, La la land não se propõe em revolucionar o cinema ou reinventar a roda, ele busca achar um lugar ao sol, referenciando os grandes clássicos que vieram antes dele, reconhecendo o valor que eles tiveram, e mostrar para hollywood que filmes originais e singulares, sem precisar se escorar em uma grande franquia, ainda podem ser produzidos e que as pessoas ainda querem ver obras originais bem feitas como a obra de Chazelle.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

a cor do romã


 Victor do Nascimento


"A Cor da Romã" é uma única e deslumbrante, dirigida pelo cineasta armênio Sergei Parajanov em 1969. O filme é uma experiência visual e poética que transcende as convenções narrativas tradicionais, oferecendo uma abordagem visualmente rica e simbólica para contar a história da vida e da cultura armênia. A trama é, em grande parte, não linear e não convencional, centrando-se na vida do poeta e músico armênio do século XVIII, Sayat-Nova.

No entanto, a obra é mais do que uma biografia convencional; é uma meditação artística sobre a identidade cultural, espiritualidade e a interconexão entre a natureza, a religião e a arte.

O filme é notável por sua abordagem visual única, onde cada cena parece ser cuidadosamente composta como uma pintura. Parajanov utiliza uma paleta de cores vibrantes e uma composição visual intrincada para criar imagens que são ao mesmo tempo belas e simbólicas.

Os planos longos e os movimentos de câmera fluidos adicionam uma sensação de contemplação e imersão ao filme. A ausência de diálogos convencionais e a ênfase na imagem e na música fazem do filme uma experiência cinematográfica desafiadora, mas profundamente gratificante para aqueles que apreciam a linguagem visual e simbólica. A trilha sonora, composta por Tigran Mansurian, é uma parte essencial da narrativa, intensificando a atmosfera poética e cultural do filme.

Além da estética, o filme explora questões filosóficas e espirituais, explorando temas como a dualidade da vida, a busca pela verdade e a relação entre o terreno e o sagrado. Cada cena pode ser lida como um poema visual, repleto de metáforas e símbolos que convidam o espectador a considerar questões mais profundas. Embora a obra tenha sido inicialmente boicotada pelas autoridades soviéticas pela sua abordagem e simbolismo cultural, ao longo dos anos ganhou reconhecimento internacional como uma obra-prima cinematográfica.

Por fim, o filme permanece como uma joia cinematográfica incomparável, transcendendo as barreiras do tempo e da cultura. A visão ousada e poética de Sergei Parajanov oferece uma experiência única, desafiando as convenções narrativas tradicionais em prol de uma linguagem visual rica e simbólica. Cada cena é uma pintura em movimento, carregada de significado e beleza, enquanto a trilha sonora envolvente de Tigran Mansurian intensifica a atmosfera poética. Este filme não apenas conta a história de Sayat-Nova, mas também serve como uma meditação profunda sobre a identidade cultural, espiritualidade e a interconexão entre a natureza, a arte e a vida. 

"A Cor da Romã" é uma obra-prima que continua a inspirar e cativar diversas pessoas, consolidando seu lugar como uma contribuição duradoura para o mundo do cinema.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Maria Antonieta


Rafael Endres Moreira Campelo


Maria Antonieta: Por que devo assisti-la?

A obra Maria Antonieta, que foi escrita e dirigida por Sofia Coppola, mescla a ambientação clássica com a moderna ao trazer a época luxuosa da monarquia francesa com músicas da contemporaneidade, tornando-se referência em estilística no audiovisual. 

Maria Antonieta, nascida na Suécia, é enviada à França para casar-se com o príncipe Luís XVI, no século XVIII. Sua história foi marcada por fofocas, mentiras, festas e muito luxo. Ela foi, na vida real, uma importante figura do reino francês, e o filme a retratou como uma mulher doce, meiga e poderosa. Dessa forma, para além de entretenimento, é uma forma de se contar um período da memória europeia.

Lançado em 2006, o quadro móvel do filme, analisando-o sob uma perspectiva de David Bordwell, teve uma montagem recheada de inovações para o cinema mundial. Assim, é marcado por diversos elementos de composição fílmica, como ângulos plongée, contra-plongée, planos sequências, entre outros. Agora um ponto negativo a se destacar foi o uso incoerente do plano subjetivo, que trouxe filmagens desestabilizadas, mas que não retratavam a visão de uma personagem.

As técnicas estilísticas dessa obra definitivamente são o ponto alto. Tudo milimetricamente bem executado. Vestimentas, objetos, móveis, imóveis e campos no estilo da realeza conseguiram, de forma unânime, passar a mágica dos reinos imperiais europeus. Para aqueles que se interessam pela alta moda o filme pode ser ainda mais atrativo. A obra fez uma composição de figurino extraordinária, que remetem ao século XVIII na Europa. Vestidos longos (rococó), roupas de gala, penteados surpreendentes, marcam ele.

A continuidade temporal é algo a se destacar. O filme tem cortes bruscos, pulando dias, ou até meses, de uma só vez, e sem contextualizar o que possa ter ocorrido. Para os leigos da história europeia, e, claro, mundial, esses cortes podem fazer com que a obra seja mal interpretada. Dessa forma, a estrutura organizacional pode deixar a desejar.

Concluo esta resenha com a afirmação de que Maria Antonieta é um filme muito bonito de se assistir, sua estética é bem executada, seu roteiro é uma excelente e fiel adaptação da história de uma das rainhas mais renomadas da história. Assim, mesmo com apontamentos não tão positivos da continuidade temporal na obra, é um filme suave e delicado para se assistir em um dia de clima ameno. Ele traz romance, amizades, intrigas, guerras e traições.

E, assim, mantém o espectador bem entretido.


Alice no País das Maravilhas


layla thauanna

O filme “Alice no País das Maravilhas” de 2010, foi uma adaptação do livro de Lewis Carroll de 1865, dirigido por Tim Burton, conhecido por muitos trabalhos “fantasiosos” e “sombrios” como “A Noiva Cadáver” e “A Fantástica Fábrica de Chocolate”. Dirigiu a história de Alice, que se passa após a os acontecimentos do primeiro livro e filme, se tratando de uma animação produzida por Walt Disney, já nos seus 19 anos e está prestes a ser pedida em casamento pelo seu pretendente, mas após um conflito de interesses, Alice se depara com um coelho que lhe leva diretamente para o País das Maravilhas, onde ela apenas tem memórias de sonhos da infância. 

O longa conta com diversos atores bem-conceituados de Hollywood, como Mia Wasikowska (Alice), Johnny Depp (Chapeleiro) e Helena Bonham (Rainha Vermelha). 

Alguns críticos questionaram a atuação, principalmente de Johnny em relação ao exagero, mas ao se tratar de uma obra extremamente fantasiosa e tendo como base a animação lançada em 1951 por Walt Disney, acredito que os exageros foi um dos grandes destaques nessa produção, enquanto Mia (Alice), fez seu papel de jovem, com uma atuação tranquila, talvez até demais para uma pessoa que acabou de cair em outro mundo através de um buraco por estar perseguindo um coelho branco. 

A obra conta com uma trilha sonora extremamente marcante até mesmo para quem não o assistiu. Possui uma filmografia magnífica e bons efeitos especiais, apesar do ponto positivo, o filme se perde um pouco ao seu foco muito grande nesse quesito, deixando o aprofundamento dos personagens meio de lado. 

Particularmente o que me encanta no filme depois de adulta, já que se trata de uma obra com público infantil, é a complexidade que existe por traz de sua história mirabolante, com altas analogias feitas através de cada personagem e vários questionamentos psicológicos. Tanto que até hoje para os apreciadores da obra, são lembradas muitas frases marcantes. 

O filme não deixou de ser um grande clássico e aclamado pelo público, apesar dos pontos negativos, mas Burton perdeu a oportunidade de trabalhar melhor uma das histórias mais complexas e incríveis da literatura infantil, deixando o filme com uma história raso e personagens sem aprofundamento, conhecido muito mais pela sua estética e excentricidade.

a vida de Brian



Fernando Medeiros Pereira


"A Vida de Brian", dirigido por Terry Jones e produzido pelo grupo Monty Python, é uma obra-prima da comédia satírica que transcende as décadas desde seu lançamento em 1979. A narrativa segue Brian Cohen, que nasce acidentalmente na manjedoura ao lado de Jesus, e, erroneamente, é confundido com o Messias. O filme é extremamente apimentado, carregado de piadas religiosas, de época e políticas, além de trazer uma estética Trash para a ambientação e com personagens absurdamente caricatos, muitas vezes tendo os mesmos atores para representá-los. Exatamente por todos esses motivos, ironicamente, esse filme se tornou meu favorito.

A força do filme reside na sua capacidade de utilizar o humor para lançar críticas afiadas à cegueira religiosa, ao fanatismo, à política e à manipulação ideológica. A sátira é simplesmente inteligente e muitas vezes desconfortavelmente pertinente. É possível citar, por exemplo, a cena do apedrejamento, onde as mulheres eram proibidas de participarem, porém todos os personagens na cena eram mulheres disfarçadas de homens, onde até mesmo chega ao ponto de uma delas ser um homem atuando como uma mulher disfarçada de homem. Esse desprendimento com a captação realista deixa a cena toda ainda mais inusitada e, claro, engraçada.

A narrativa surrealista mostra o trajeto de Brian desde seu nascimento, sendo confundido com Jesus, até sua morte por crucificação, onde o filme termina com a música “Sempre olhe para o lado bom da vida” enquanto dezenas de pessoas, inclusive o protagonista, estão condenados à morte pela cruz. No meio do trajeto de sua vida, ele é confundido com um tipo de Messias, criando até mesmo religiões divergentes sem querer.

No entanto, é notório que a abordagem irreverente é ofensiva para certos espectadores, obviamente, cristões ferrenhos e especialmente aqueles com sensibilidades religiosas à flor da pele, tornando o filme claramente uma obra que não é para qualquer um.

Além disso, algumas piadas são estendidas demais, perdendo a graça ou até mesmo a lógica, como a cena em que Brian cai dentro de uma espaçonave, gastando quase cinco minutos em tela que parece uma eternidade dele viajando pelo espaço e caindo no mesmo lugar apenas para dizer que é uma piada de Deus Ex Machina.

Por fim, "A Vida de Brian" é uma joia do humor subversivo e sua mensagem continua relevante atualmente. Como falado anteriormente, sou suspeito para falar, afinal, esse se tornou meu filme favorito, porém, não é um filme para qualquer um. É preciso ter uma mente aberta para aproveitá-lo ao máximo, mas com certeza é uma experiência inesquecível.

A Cantiga dos pássaros e das serpentes


ASTON MARLEY SILVESTRE DOS SANTOS


Dirigido por Francis Lawrence, é um filme “prequel” que busca contar a história do vilão principal da saga, o presidente Coriolanus Snow. Com o roteiro de Michael Arndt e Michael Lesllie, o filme adapta a história do livro, então eles tiveram um desafio de agradar tanto um novo público quanto os amantes dos livros, e no geral, eu digo que conseguiram.

O filme tem uma boa direção, nada muito grandioso, porém é bastante competente, o diretor consegue mostrar bem o mundo, o contexto de um país que ainda está se recuperando da guerra entre os distritos e a capital, porém tudo acontece de forma muito rápida, principalmente no início, onde tive a impressão de que tudo foi apressado demais.

A direção de fotografia é muito linda, com quadros que realmente poderiam ser quadros e que ao mesmo tempo que são belas, mostram a distopia e a atmosfera opressora de Panem, com cores mais pasteis e amenas do lado de fora da cidade e nos distritos, porém em certos momentos a luz e a saturação de cores se mostram vivas, o que da um belo contraste entre os cenários, contexto e momentos de cada cena.

Sobre a dupla principal do filme, os atores Rachel Zegler (Lucy Gray) e Tom Blyth (presidente Snow), cumprem bem seus papéis e fazem uma ótima dupla. Mas apesar de conseguirem interpretar bem seus personagens, o roteiro não ajuda muito no desenvolvimento dos dois, por vezes o telespectador pode se cansar de acompanhá-los durante o filme.

O desenvolvimento sozinho do presidente Snow por outro lado, é muito interessante de acompanhar, apesar de sabermos quem ele será no futuro, quem assiste até concordar com certas atitudes tomadas pelo personagem, grande parte disto é graças a atuação de Blyth que realmente te cativa e faz você torcer por ele, o que dá um certo remorso em saber que você está torcendo pelo vilão da história.

Apesar de ser visualmente muito lindo, o filme não consegue chegar nem na metade do impacto os filmes principais, a trama infelizmente é bastante corrida e atropela certos acontecimentos que deveriam ser desenvolvidos com mais calma, e enquanto algumas partes deviam ser mais rápidas, eles erraram a administração do tempo em várias partes do filme. Isso tudo faz com que apesar de ter coisas boas, o telespectador se canse pouco depois da metade para o fim.

Jogos Vorazes: A cantiga dos pássaros e das serpentes é um bom filme, porém não é muito memorável e infelizmente apesar de fazer parte da saga oficial, é um membro não muito relevante desta família, e fica na sombra dos seus antecessores.


Os Sete Crimes Capitais

 

Allan Gabriel


"Se7en - Os Sete Crimes Capitais," dirigido por David Fincher, é um thriller psicológico que mergulha nas profundezas da mente humana através de um intricado enredo centrado em crimes brutais inspirados nos sete pecados capitais. Lançado em 1995, o filme estrela Brad Pitt como o detetive impulsivo e otimista David Mills e Morgan Freeman como o veterano e desesperançoso detetive William Somerset, que investigam uma série de assassinatos grotescos em uma cidade decadente.

O roteiro, escrito por Andrew Kevin Walker, é uma obra-prima de suspense. Walker tece uma narrativa envolvente, repleta de reviravoltas que mantêm o espectador à beira da cadeira. A cinematografia de Darius Khondji acentua a atmosfera sombria, enquanto a trilha sonora de Howard Shore intensifica a tensão. As atuações notáveis de Pitt, Freeman, que ambos por meios de diálogos e ações conseguem contribuir um para o outro uma forma de completar os personagens que estão atuando. E Kevin Spacey como o antagonista contribuem para a intensidade emocional das cenas finais do filme.

A obra transcende o gênero ao explorar temas profundos de moralidade e ética. A busca do assassino por justiça através de punições severas ecoa as ideias de Immanuel Kant. O filme questiona até que ponto a violência pode ser justificada em nome da ética, conectando-se à abordagem kantiana da moralidade baseada na razão e na obrigação moral. A narrativa desafia os espectadores a refletirem sobre a natureza humana e as escolhas éticas em face do mal. Seven discute bastante a capacidade inerente da sociedade de ser violenta, de quebrar o individuo e faze-lo soltar todos os desejos reprimidos de insanidade e crueldade já que estamos refém da violência que nos molda, mas por sermos racionais nunca á liberamos. 

Há também a uma imensa critica a desonestidade presente em todos os lugares da sociedade, principalmente ao sistema de polícia americano, que é rodeado de corruptos e ignorantes aos casos que trabalham, outro ponto que faz Somerset concordar que o mundo não é tão bom assim e seria melhor só se entregar a ele e sua insanidade. Cabe bem ao filme por David Mills o protagonista com síndrome de herói lado a lado do vilão John Doe, Mills reprime totalmente as ações de John Doe e é confortável a ele, e a nos, categorizarmos ele como louco e doente, pois se aceitarmos que o mundo está infestado de outros ‘’John Doe’s’’ viveríamos com uma imensa desesperança no mundo, Mills se pudesse espancaria John Doe se não existisse consequências, mas há, por isso não a fez em todo o filme, se o fizesse com certeza seria categorizado como insano. O filme capta bem essa luta que todos nos temos em segurar nossos lados mais obscuros enquanto enfrentamos todos os dias a injustiça e a desonestidade presente no mundo.

"Se7en - Os Sete Crimes Capitais" é uma obra-prima do suspense que transcende as convenções do gênero. Com um roteiro envolvente, performances excepcionais e uma atmosfera sombria, o filme se destaca como um clássico atemporal. A exploração profunda da moralidade, combinada com o impacto visual e emocional, solidifica a posição de "Se7en" como uma experiência cinematográfica inesquecível que continua a influenciar e intrigar os espectadores.

Oppenheimer

 


Gabriel Nogueira De Andrade Lima


Oppenheimer, lançado em 21 de julho de 2023, foi escrito e dirigido por Cristopher Nolan e estrelado por Cillian Murphy. O filme biográfico, se baseou no livro Prometheus Americano, e retrata a vida, mentalidade e as consequências para o cientista J. Robert Oppenheimer, ao construir a bomba nuclear.

Apesar de ser um filme longo e retratar temáticas políticas que pode não entreter a todos é inegável a qualidade do longa-metragem. O filme possui o trabalho de explicar as muitas facetas de um homem no mínimo complexo e para retratar isso, Nolan usa de cenas coloridas, escritas no roteiro em primeira pessoa, para mostrar a experiencia subjetiva do protagonista, e as cenas em preto e branco, escritas em terceira pessoa, exibe uma visão mais objetiva da história. Na primeira metade do filme o espectador é mostrado que embora seja um dos homens mais brilhantes de sua época o cientista tem nítidas falhas de cárter, sendo um homem egocêntrico e difícil de se lidar, isso faz com que suas relações pessoais sejam complicadas, o que fica evidente nas talentosas intepretações dos atores e atrizes coadjuvantes. Já na segunda metade mostra o cientista aflito com as consequências de sua invenção, tentando evitar o mal uso de sua invenção, mas sendo perseguido por uma investigação tramada por um rival.

Mas o diferencial dessa produção cinematográfica, não está somente nos personagens complexos e nas excelentes atuações, está também em sua parte técnica. Em que a elevada qualidade de áudio juntamente com o uso brilhante da trilha sonora faz com que o expectador se sinta dentro do filme. Isso fica evidente, principalmente, na cena do teste da bomba, em que o crescimento da trilha sonora nos momentos antes da explosão vai gerando um dos melhores escalonamento de tensão da história do cinema, mas no momento da explosão a expectativa é quebrada com o silencio e o som da respiração do protagonista, porém quando a cena está para acabar vem um efeito sonoro tão potente que o espectador sente através do som o impacto da explosão. Além disso, um dos fatores que mostra a grandeza desse filme é a reflexão deixada no final, que a partir da criação da bomba nuclear os dias da humanidade podem estar contados.

Por fim, graças ao trabalho talentoso do diretor do elenco, que conta com nomes de peso como Cillian Murphy, Florence Pugh, Robert Downey JR, Emily Blunt, Matt Damon e da equipe de pós produção, resultou em cenas carregadas de emoção que deixa o espectador na ponta da cadeira, e particularmente me deixou anestesiado no final com um final impactante e reflexivo. Tornando-se uma das melhores experiencias cinematográficas de 2023.

Revolta, Rebelião e Revolução

 


RRR (Revolta, Rebelião e Revolução)

Maria Cecília de Souza Barateiro


RRR(Revolta, Rebelião e Revolução) dirigido por S. S. Rajamouli, nos apresenta uma história ficcional inebriante, baseada no contexto histórico de independência da Índia. De primeira somos introduzidos a trama com os vilões, os britânicos da elite cruéis que regiam o local, que levam a menina Malli forçosamente de sua tribo, se tornando o objeto de resgate de um dos protagonistas. Em seguida temos a primeira aparição de Alluri Sitarama Raju, um dos protagonistas, como soldado do império inglês apesar de ser indiano, na cena chocante onde Raju se põe contra centenas de indianos ao mesmo tempo, numa coreografia de luta maravilhosa. Após Raju, temos uma ótima introdução de Komaram Bheem sem que ele apareça de fato, a menção do pastor que tem como objetivo resgatar sua ovelha é posta em jogo dando ao personagem uma áurea poderosa antes mesmo que ele apareça para confirmar sua fama. Em consequência Raju é escalado para encontrar e levar o “Pastor” até os ingleses em troca de seu posto especial na elite inglesa. O enredo então segue com a colisão e amizade dos dois personagens sem que saibam quem são em busca de cumprir suas metas.

O filme é uma poderosa obra de resistência indiana, com a cultura amplamente valorizada e usada como objeto de enredo, as músicas e as danças e crenças. Gosto especialmente das associações e símbolos dos elementos e dos animais, como na introdução da elite britânica o governador vem acompanhado de cachorros raivosos assustadores e em uma das cenas posteriores um dos irmãos de Bheem diz: “um cão nunca pode caçar um tigre”, remetendo ao animal que lutou contra o protagonista em sua introdução. O filme traz várias associações fantasiosas e magnificas e exageradas. Peca um pouco na caricatura um tanto quanto forçada dos ingleses, embora charmoso para todo o exagero do filme, cria uma polarização de bem e mal bastante simples em contraste com a personalidade mais complexa dos heróis.

Assim, RRR foge da mesmice de ação hollywoodiana, com coreografias impressionantes, personagens cativantes até demais, musicais que contribuem com a progressão da narrativa e um estilo novelesco super charmoso que fez minha mãe assistir ao filme inteiro sem saber que eram 3 horas de duração, com seu ritmo frenético e incansável. O filme possuí um exagero característico, mas faz um balanceamento entre o cômico e sóbrio numa linha tênue que deixa tudo melhor e divertido. Simplesmente inesquecível.