segunda-feira, 7 de julho de 2025

QUERIDO HONGRANG

 

Dyana Prynce

A série sul- Coreana, criado por Kim Jin-ah no qual escreveu o roteiro, e dirigido por Kim Hong-sun. Recém estreada no Stream Netflix, 2025, vem recebendo muitas críticas positivas tanto da atuação de seus atores quanto pela própria trama que nos envolve misturando mistério, rituais místicos, romance e duelos. Porém muitos, assim como eu, sentiram que o final foi insatisfatório mas no conjunto a obra foi bem satisfatória, contando com uma excelente trilha sonora tais como: Burning Petals. 4BOUT — para mim a melhor música da série —; YOAMJAE. Kwon Jin Ah ; Fate. Tejong ; Unveiled. Choe Jeong In ; Where My Heart Goes. KIM YEON JEONG, que deixou a atmosfera ainda mais próxima do público, fazendo-nos sentir como parte do ambiente.

Querido Hongrang se passa na dinastia Joseon, e conta com um elenco de peso. Em meio a uma onda de desaparecimentos de crianças associado a um ser sobrenatural conhecido como Fantasma Branco, o mesmo não passa de uma peça nas mãos do antagonista da trama o Príncipe Herdeiro Han-pyeong, que utiliza-se de seu codinome “Pintor” para por em prática seus devaneios.. Aos oitos anos de idade Hong-Rang (Lee Jae-Wook), filho de comerciantes poderosos, desaparece sem deixar vestígios, por sua vez sua meia-irmã Jae-Yi (Cho Bo-Ah), que era bem próxima, jamais perde as esperanças de um reencontro. O desaparecimento de Hong- Rag abala toda a família, sua mãe Min Yeon-Ui (Uhm Ji-Won) fica no estadodepressivo no qual se utiliza de medicamentos para se recuperar, seu pai Sim Yeol-guk (Park Byung-eun), embora abalado, decide adotar Mu-jin (Jung Ga-ram) para fazê-lo de seu sucessor, embora sua esposa não esteja de acordo. Após doze anos em meio a buscas einúmeros impostores, Hong- Rag reaparece, agora sem memórias, mas com muitos vestígios que confirmam sua identidade. Embora sua meia-irmã Jae-Yi não acredite, sua ânsia por um reencontro a faz ter sentimentos profundos e confusos, um amor começa a surgir. Mu-jin percebe o que está acontecendo entre os dois e tenta de todas as formas desmascará-lo, mas isso os aproxima cada vez mais. O Hong-Rang, que retorna infelizmente não é o filho legítimo, o verdadeiro Hong-Rang morreu após uma queda e bater a cabeça mas seu corpo fora escondido por uma das empregadas. Este homem que se apresenta como tal, foi criado pela Kkot-nim ex-amante de seu “pai” para destruir a família, mas ela não contava que ele desenvolvería sentimentos por sua irmã, no qual também se apaixona por ele e ambos decidem fugir juntos.

Hong-Rang é apenas uma vítima em meio às mentiras e corrupções daquele lugar cresceu em uma vida de sofrimento, físicos e psicológicos, o mesmo foi um dos meninos sequestrados pelo pintor e seus peões, o qual desejava obter a perfeição e ser um ser divino na terra. Utilizando-se de produtos químicos, queria transformar “seus meninos” telas vivas os marcando com pinturas de talismãs para um ritual ao completar sua coleção. 

Embora sua alma estivesse cheia de traumas, ele decide curá-los ao lado de Jae-Yi, os dois fogem para viver uma nova vida juntos ressignificando tudo o que passou. Porém os produtos, afetam a saúde de Hong-Rang, o qual o faz adoecer e morrer. Mas antes ele mata o ser que tanto lhe causou sofrimento, cortando suas mãos para que enterre de vez dor e sofrimento causado a todos inocentes. Após sua morte, Jae-Yi, sentisse mais forte e expõe as corrupções de sua família, Kkot-nim decide se vingar de Yeol-guk, porém Mu-jin que tanto amou Jae-Yi morre a protegendo-a. Ano depois a mansão que cresceram torna-se um orfanato, mostrando que houve restauração naquele lugar e que todas as dores da alma foram cicatrizadas. Para mim Querido Hong-Rang é uma das melhores séries já produzidas na atualidade. Nos leva a uma atmosfera histórica que nos envolve e nos faz nos comovermos com todos os personagens, deixando as ideias de mentira e verdade serem refletidas de outras maneiras. Uma das melhores indicações para assistir na netflix no momento.

O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN

 

Dyana Prynce 

O filme francês “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le fabuleux destin d’Amélie Poulain, de 2001, teve seu roteiro escrito por Jean-Pierre Jeunet e Guillaume Laurant, e direção pelo próprio Jean-Pierre Jeunet. Com duração de 122 min. e conta com uma trilha sonora de Yann Tiersen, Amelie Poulain é dos filmes mais singelos e fortes ao mesmo tempo, Ele demonstra as relações humanas de uma forma desinibida e de como elas nos afetam como seres sociais. A fotografia das cenas é um dos pontos mais fortes do filme, o olhar para a simplicidade da vida , de forma lúdica, enxergando beleza nas rotinas do dia a dia. 

Embora seja um clássico que nunca se enjoa, e tenha ganhado inúmeros prêmios, os recursos narrativos que ajudam na composição dos personagens, para a geração atual, parece um tanto estranho e cafona. Ao pararmos para assistir pela primeira vez nos causa um certo estranhismo, chegando a ser tediosa estas tais narrativas. 

Filme estrelado por Audrey Tautou (Amélie Poulain), a história se passa em Paris, onde Amélie é garçonete no Café des Deux Moulins (Café dos Dois Moinhos), uma garota solitária que visita seu pai aos domingos. O início do filme conta sobre sua infância e sua relações com seus pais, uma com nervos à flor da pele, e um pai um tanto que distante, médico que cuidava de sua saúde uma vez ao ano, no qual o contato físico fazia o coração de Amelie disparar e seu pai achar que ela tinha uma doença. Sua mãe morre na porta de uma igreja, ao saírem uma jovem que estava se suicidando cai em cima dela, a vida de Amélie ficou ainda mais solitária o pai se fecha ainda mais. O abandono da infância faz com que Amelie tenha sérios problemas para se relacionar com outras pessoas, em até conhece algumas pessoas, mas nunca dá certo, no fundo ela anseia por ser amada. Ao descobrir um azulejo quebrado como uma espécie de cofre secreto onde um menino deixará uma caixinha com vários coisas de sua infância, em seu banheiro no dia da morte da Princesa Diana, Amelie decide então encontrar seu dono e a partir deste fato outras histórias vão sendo desenroladas. Amelie une um casal de seu trabalho, ajuda um cego a atravessar a rua, ajuda a seu pai a sair de um luto eterno e sair de casa para viver, faz justiça para o funcionário de uma banca de hortifruti onde o dono era abusivo, ajuda a um escritor a divulgar seu livro, escreve uma carta de amor para a vizinha como se os correios a tivesse se perdido na entrega anos atrás se passando por seu marido que a traiu, ela o amava mas carrega uma grande decepção por ele , e deixou de viver. 

Amelie ajudou várias pessoas, mas precisava ser ajudada, ela sofria com tamanha solidão que sentia, ela sonhava com um grande amor em sua vida, na trama o senhor com ossos de vidro que também era seu vizinho é seu maior amigo e apoio neste momento, ele ajudava Amelie a expor o que sentia, uma vez que havia conhecido um rapaz chamado Nino Quincampoix (Mathieu Kassovitz), um jovem com uma história de vida parecida com a de Amélie, também solitário, que coleciona fotografias das cabines fotográficas estações de trem, que são jogadas nas lixeiras, ele trabalha em um sexy shop e as quartas em um trem fantasma, Amelie se identifica com ele, ela se apaixona profundamente por ele. A história mistura fantasia, com a vida real, onde personagens inanimados ganham vida e se comunicam com Amélie e com Nino evidenciando ainda mais as estratégias criadas pelas eternas crianças para driblar a solidão. Amelie decide correr atrás de seu amor e no final eles conseguem viver seus finais felizes um ao lado do outro, eles são daqueles casais que nunca se separam, são tão encaixados perfeitamente que um completa o outro. 

O cenário, a fotografia, as cores, os contrastes, a trilha tornam de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, um dos filmes mais água com açúcar de tão perfeito que é. Amelie pode ser assistido todos os domingos com uma rotina em família, que ele jamais perde seu encanto e essência, cada assistida é uma nova visão, como ela mesma fala no filme “ prestar atenção aos detalhes que ninguém ver”. O vento que faz os corpos dançarem suavemente em cima da toalha da mesa, a quantidade de orgasmos daquele exato momento, a mão que se enfia entre a saca de grãos, o jogar de pedra no Canal de Saint-Martin, entre tantas simplicidades que deixamos passar por não olhar a vida de uma maneira mais lúdica, com um olhar inocente de uma criança. 

O filme é isso, cativante, doce, e humano, mostra as vivências e sentimentos que todos nós temos dentro da gente, cada personagem tem uma parte nossa, que muitas vezes são escondidas, no filme eles são expostos, e colocados para reflexões, o filme é sobre a naturalidade do ser humano, olhado de uma forma encantadora.

sábado, 5 de julho de 2025

Com Carinho, Kitty

 

Marcelo Isaac

Em janeiro de 2025, chegou na Netflix a segunda temporada de Com Carinho Kitty (Netflix), série spin-off da trilogia de filmes Para Todos os Garotos que Amei, também da Netflix. Neste segundo ano, a trama inicia-se retomando os acontecimentos deixados em aberto na temporada anterior, sendo um deles a expulsão de Kitty (Anna Cathcart) da escola KISS e as mudanças que ocorreram na direção e corpo docente em virtude dos escândalos envolvendo a ex-diretora.

Agora, há um foco maior em desenvolver a bissexualidade da protagonista. Para isso, há a adição de mais personagens no elenco e o retorno dos antigos amigos da Kitty. Apesar de positivas para as narrativas secundárias e formulação de conflitos amorosos, algumas questões, como o romance do Quil (Anthony Keyvan) com seu adversário no atletismo ou a aproximação de Yuri (Gia Kim) e Alex (Peter Thurnwald) como irmãos, foram apresentadas de forma rasa, sem muito desenvolvimento.

Sobre o triângulo amoroso principal, é nítido que o os 4 primeiros episódios focam mais na relação da Kitty com a Yuri e em como a protagonista está desenvolvendo sentimentos pela amiga, algo que no decorrer da série foi perdendo relevância para dar destaque, nos últimos 4 episódios, ao romance entre kitty e Min Ho (Sang Heon), explorando, assim, seus dois interesses amorosos.

Outro aspecto positivo, foi a aproximação da personagem principal com suas raízes coreanas. Nesta temporada, a cultura sul-coreana foi mais representada não ficando apenas na superficialidade do k-pop. Além disso, o encontro da Kitty com sua família coreana e seu esforço em aprender o idioma local são pontos emocionantes na história.

Não podemos deixar de lado as participações especiais do Peter Kavinsky (Noah Centineo) e da Margot (Janel Parrish), que trazem conforto para Kitty e os fãs, como também aproxima mais a série spin-off dos filmes Para todos os garotos que já amei, deixando pontas soltas para o grande retorno de Lara Jean (Lana Condor) novamente neste universo.

Com Carinho Kitty mistura alguns clichês Hollywoodianos com elementos de K-dramas e torna-se bem agradável de assistir. Todo o elenco é muito carismático e vai divertir aqueles que gostam de uma história leve e cheia de dramas adolescentes ou são fãs do universo criado por Jenny Han.

Com Carinho, Marcelo

Como Treinar o Seu Dragão (Live Action, 2025)

Jamilly Cristina Araújo da Silva Souza


O live action de Como Treinar o Seu Dragão (2025) emociona ao recontar, com fidelidade e beleza, a jornada de Soluço: um jovem viking que vive em uma vila onde todos são treinados para caçar dragões. Mas ele não se encaixa nesse destino. Frágil, sensível e curioso, Soluço teme não ser suficiente — especialmente para seu pai, o chefe da aldeia, um guerreiro orgulhoso e resistente a mudanças.

Ao encontrar Banguela, um dragão ferido, Soluço toma uma decisão que muda tudo: em vez de capturá-lo, estende a mão. É a partir dessa escolha que nasce uma amizade verdadeira e uma revolução silenciosa. Ele enfrenta o medo de decepcionar seu pai, enfrenta a tradição de sua vila, e se torna corajoso justamente por não agir como todos esperavam.

Tecnicamente, o filme impressiona: os atores remetem visualmente aos personagens da animação, as falas preservam a memória do desenho, e o CGI de Banguela é tão realista que emociona. É impossível não sentir que ele está vivo — cada gesto, olhar e expressão aproximam o espectador da fantasia.

A cena em que o Soluço é salvo por Banguela fecha o ciclo com força simbólica. O homem que desprezava os dragões, o pai de Banguela, tem a vida de seu filho protegida por um — e isso só é possível porque seu filho ousou pensar diferente. A transformação da vila começa com a coragem de um jovem que, mesmo com medo, escolheu fazer o que era certo.

No fim, o filme nos inspira a acreditar que não é preciso gritar para ser ouvido — e que, às vezes, o verdadeiro ato de coragem é ser gentil.

“Pobres Criaturas” (2023)

Sarah Lorena Cruz Fernandes

Dirigido por Yorgos Lanthimos e protagonizado por Emma Stone, a história de Pobres Criaturas gira em torno de Bella Baxter, uma mulher adulta com o cérebro implantado de um bebê. A narrativa segue uma jornada de emancipação, na qual Bella passa da inocência à autonomia, confrontando normas sociais da Era Vitoriana.

A construção visual do longa é um espetáculo à parte, com cenários surreais, figurinos exuberantes e a fotografia que alterna entre o preto e branco e o colorido vibrante para marcar os ciclos da personagem. À medida que Bella percorre diferentes cidades da Europa, seu crescimento é refletido tanto no campo social quanto intelectual. O caminho que percorre compõe um processo de autoconhecimento e libertação — desde a vontade de explorar o mundo, passando pela descoberta da própria sexualidade e pela busca por expandir seus conhecimentos por meio da leitura e da educação até ao descobrimento do seu passado.

Contudo, embora o filme aparente propor uma crítica ao sistema de dominação patriarcal e apresente elementos transgressores, há momentos em que tal intenção parece contraditória. Isso pode ser percebido no período em que a personagem principal passa a trabalhar em um bordel. Ao situar a prostituição como somente um estágio para alcançar a independência financeira de Bella, o filme carece em contextualizar os impactos sociais, políticos e históricos que atravessam essa atividade, especialmente sob a ótica das desigualdades de gênero e classe, reduzindo-a a uma alegoria liberal idealizada da liberdade feminina.

Ainda assim, Pobres Criaturas é uma obra provocativa, que desafia o espectador pela sua linguagem subversiva, experiência estética e protagonista cativante. Com atuações audaciosas e memoráveis, o filme apresenta um conto cômico de ficção científica e empoderamento e oferece uma metáfora sobre uma trajetória de amadurecimento e construção do “Eu”.