segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Estruturas machistas

As dificuldades de manter o futebol feminino no RN
Os obstáculos vão além da questão do gênero e comprometem a existência do futebol Norte-rio-grandense

Por: Alberto Ferreira, Andre Samora, Hogla Geovanna, Lucas Rodrigues, Maria Eduarda Macêdo e Rangel Alves


Seleção do Cruzeiro de Macaíba. (Foto cedida pela entrevistada)

O campeonato estadual de futebol feminino de 2018 começou no dia 15 de novembro e encerrará no dia 9 de dezembro. No entanto, as dificuldades para manter as mulheres no nesse esporte são persistentes.

O primeiro vestígio de futebol feminino no Rio Grande do Norte foi com a participação do ABC, na Copa do Brasil de 2007. A equipe foi eliminada pelo Tiradentes-PI, na segunda fase. Em 2008, o estado alcançou seu melhor resultado em uma competição nacional com a equipe do Parnamirim, que foi eliminado nas quartas de finais da Copa do Brasil. 

O futebol brasileiro não possibilita uma carreira estável para as mulheres. Elas não têm contratos a longo prazo, carteiras assinadas ou garantias mais concretas. Os pagamentos são apenas para ajuda de custos e essa é a realidade dos times potiguares. Em alguns casos, as atletas precisam tirar o dinheiro do próprio bolso para pagar as passagens até os treinamentos. As jogadoras não podem pensar apenas no futebol, elas necessitam ter outro trabalho que assegure seus gastos pessoais. 

“A falta de apoio ao esporte faz com que muitas vezes tenhamos que nos desdobrar para conseguir se manter neste ramo, principalmente no que diz respeito às questões financeiras.” problematiza a jogadora do Cruzeiro de Macaíba, Jéssica Natália, 21.



Jéssica Natália, durante o treinamento do Cruzeiro de Macaíba. (Foto cedida pela entrevistada)

Tendo em vista que a base de todos os obstáculos enfrentados pelos times femininos está na diferença de gênero e no preconceito, a atleta de 21 anos surge como exceção à regra.  “Creio que ao contrário de muitas meninas, tive mais pessoas que me apoiaram do que pessoas que julgaram como algo negativo, mas acredito que isso se deu pelo fato de as pessoas me conhecerem e saberem que sou apaixonada por esporte, nesse sentido, associavam mais o futebol ao esporte propriamente dito do que ao aspecto cultural de que futebol é coisa de homem.”

A Confederação Brasileira de Futebol, ao tentar dar oportunidades para estados que não têm representatividade, como o Rio Grande do Norte, criou em 2017 a segunda divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino. Não logrando sucesso, o RN foi eliminado na primeira fase pelo São Gonçalo- CE.

A jogadora expõe sua visão sobre a falta jogos no ano “Outra dificuldade é manter-se sempre motivado, devido ao calendário de poucas competições. É difícil passar vários meses treinando com um intervalo de seis meses de uma competição para a outra. Portanto, acredito que as dificuldades sempre vão aparecer, sendo assim, somos campeãs por superar essas barreiras”.

Se a realidade nacional é essa, a situação do estadual é bem pior. Só há informações de cinco edições do campeonato potiguar. Em 2013 apenas duas equipes jogaram. E para piorar, em 2014 e em 2016 a competição não ocorreu. E, nesse ano, a Federação Norte-rio-grandense de Futebol (FNF) concedeu apenas três dias para as equipes realizarem as inscrições. Foram inscritos: o Cruzeiro de Macaíba, o Palmeiras das Rocas e o Parnamirim. Devido à estrutura precária de muitos estádios potiguares, o estádio Dr. José Jorge Maciel está sediando todos os jogos do campeonato deste ano.

Esse campeonato deveria servir para dar visibilidade para o futebol feminino no RN, entretanto, só serve para não deixar os times do estado inativos. Além disso, outro objetivo da competição é classificar o campeão para a segunda divisão do brasileiro. 

O potiguar sequer tem transmissões dos seus jogos, entretanto, há um projeto da Rádio Universitária 88.9 FM que pertence à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, denominado da Universidade do Esporte, que visa transmitir, no facebook, e dar notoriedade ao campeonato estadual. 

O treinador do Cruzeiro de Macaíba, Francisco Bernardes Filho, 43, relata com orgulho o seu trabalho na equipe e reclama de quem é contra o futebol feminino: “Quando ensinamos algo, esperamos que os nossos alunos/atletas possam reproduzir aquilo que treinamos e acredito que estamos no caminho certo. Não acho que as mulheres tenham que mostrar nada, pois o esporte é para todos. Quem pensa diferente deveria ir ao médico, pois deve ter algum distúrbio”.



Francisco Bernardes, treinador do Cruzeiro de Macaíba. (Foto cedida pelo entrevistado)

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