domingo, 20 de abril de 2025

A Onda (2008)

 


A Onda e a Seita


RESENHA:

DIE Welle (Original) A Onda (em Português). Direção de Dennis Gansel. Produção de Christian Becker e Martin Moszkowick. Intérpretes: Jürgen Vogel, Frederic Lau e outros. Roteiro: Dennis Gansel e Peter Thorwharth. Música: Heiko Maile. Alemanha: Constantin Film Produktion Gmbh e Rat Pac Filmproduktion Gmbhk, 2008. (107 min.), son., color. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zG3TfjAhs30&ab_channel=ALuzMcOficial


A onda (2008) é um filme ficcional alemão que conta uma história real: o experimento social da Terceira Onda, realizado pelo professor de história Ron Jones nos anos 70 em Palo Alto, EUA. No filme, o professor colegial Rainer Wenger (Jürgen Vogel) é indicado para ministrar um curso sobre autarquia (e não de anarquismo, como estava acostumado). Para demonstrar a seus alunos (que não acreditavam na possibilidade da Alemanha moderna voltar a ser nazista), Rainer propõem um experimento para mostrar como fácil é manipular as massas.

O professor, então, exige ser tratado por "Herr Wenger", muda as carteiras de lugar, colocando todos de frente para ele e posicionando os alunos segundo suas notas, de modo que cada dupla seja formado por um estudante com notas ruins e outro com notas boas. A ideia é que uns aprendam com os outros. Além disso, todo aluno que quiser fazer alguma colocação deverá levantar a mão e se expressar de forma militar.  Para empoderar coletivamente os alunos, Rainer faz uma marcha sem sair do lugar fazendo com que se sintam parte de uma única entidade, incomodando a turma de anarquismo, que está na sala a baixo da deles. Continuando o experimento, Rainer então sugere que todos os alunos do grupo devem vestir uma camisa branca e calças jeans, para que não haja mais distinções entre os alunos. Mona (Amelie Kiefer), uma aluna relutante a fazer parte da proposta, diz que usar uniformes vai acabar com a individualidade de cada um (e mais tarde troca de turma e passa a integrar a classe de anarquismo). Outra aluna, Karo (Jennifer Ulrich) vai à aula do dia seguinte e descobre ser a única a não aderir ao uniforme. Após uma rápida eleição, o nome "A Onda" (Die Welle) é escolhido. Além do nome, o grupo cria uma forma de saudação, que consiste em imitar o movimento de uma onda com o braço direito em frente ao peito. Criam também um símbolo, que é pichado por toda a cidade, inclusive na fachada do prédio da prefeitura. Além disso, o grupo promove festas onde só membros do grupo podem entrar, e alguns começam a hostilizar os não-iniciados.

A união do grupo altera o comportamento de vários integrantes. Bomber (Maximilian Vollmar) é um badboy valentão que passa de assediador a protetor de seu colega Tim (Frederick Lau). Tim é um dos que mais envolvidos, pois pela primeira vez ele se sente aceito em um grupo. Ele queima todas as suas roupas de marca e mais tarde aparece na casa de Rainer, oferecendo-se para ser seu segurança. Apesar do professor recusar, o rapaz dorme no quintal de sua casa. Sua esposa, Anke (Christiane Paul), também uma professora da escola, acredita que a situação já foi longe demais e pede para Rainer encerre o experimento. Ele, no entanto, a acusa de estar com inveja por ele estar fazendo mais sucesso com os alunos do que ela. Ofendida, ela o abandona.

Em virtude de uma briga generalizada durante o jogo de polo aquático, Marco (Max Riemelt), briga com a namorada Karo e a acusa de ter causado a briga que levou ao cancelamento da partida. Durante o desentendimento, Marco bate em Karo e a faz sangrar. Percebendo o que fez, ele vai até a casa de Rainer, onde pede que ele acabe com o movimento. Rainer então convoca uma assembleia com todos os membros no auditório da escola. No encontro, Rainer fecha as portas e discursa para os alunos, exaltando a atuação da seita e enaltecendo suas chances mudar a Alemanha. Marco protesta e Rainer o acusa de trair a confiança do grupo, pedindo que o tragam para o palco para ser punido. Rainer então faz os alunos perceberem o quão longe foram e como estavam sendo manipulados.

Inesperadamente, no entanto, Rainer decreta o fim do experimento, afirmando que provou seu argumento principal: de que a Alemanha pode voltar a se tornar um regime autoritário, mas Tim saca um revólver, se recusa a aceitar que a seita acabe com medo de voltar a ser sozinho e atira em sua própria boca. O filme termina com Rainer sendo levado preso pela polícia, enquanto os alunos, seus pais e os professores (incluindo sua esposa) o observam.

O filme retrata fielmente o processo de formação de uma Seita. Uma história real, não apenas em relação ao experimento escolar de Palo Alto, mas também de vários outros grupos que se radicalizam em torno da construção de uma identidade coletiva, nos fazendo pensar sobre como abrimos mão da individualidade em troca da aceitação.

A Seita é ‘uma manada que se destaca do rebanho’, incluindo a maioria e excluindo alguns como “bodes expiatórios”, despersonalizando os indivíduos em nome de uma identidade coletiva e de um líder carismático. Há seitas religiosas, políticas e com temas culturais específicos. Uma igreja dissidente, uma tendência de partido político, uma parte da torcida esportiva podem degenerar para o fanatismo identitário e se tornar uma seita.

As duas principais características das seitas são: a liderança carismática-autoritária e as crenças exclusivistas (as seitas frequentemente afirmam uma verdade singular que as diferencia do resto da sociedade).

  Há crenças explícitas e implícitas. Uma seita budista declara a crença nas quatro nobres verdades e na senda óctupla, mas suas crenças não declaradas (a impermanência, o “grande vazio”, a não existência do eu) é que vão diferenciar sua identidade. Da mesma forma, poucos adeptos da Biodanza leem Rolando Toro, mas todos acreditam que a prática é capaz de “dissolver suas couraças”. A Bíblia e o Capital de Marx são livros muito pouco lidos, mas muitos acreditam em vencer na vida pagando dízimo ou que a revolução é uma fatalidade histórica. “Vestir a camisa” da Seita é abraçar suas crenças não declaradas e até inconscientes. As crenças explícitas são apenas para propaganda externa.

Outras duas características secundárias importantes são o isolamento físico e psicológico dos membros (da família e dos amigos que não participam da Seita) e o controle rígido sobre comportamento, pensamento e até emoções, popularmente chamado de “lavagem cerebral”.  

Deste último ponto, é possível também destacar alguns elementos simbólicos importantes: os rituais (iniciações e celebrações) e as várias práticas distintivas: o acolhimento afetivo como tática de recrutamento; a culpa e a cobrança de gratidão como forma de manipulação permanente; e a visão dicotômica do mundo dividido entre "nós" e "eles" (ZAGO, 2022) [1].

No entanto, a característica mais visível é a exploração econômica dos membros. Em muitos casos, há demandas por tempo, dinheiro ou trabalho excessivo em benefício do grupo e do líder, às vezes sob a justificativa de um propósito maior. Na linguagem cotidiana, "seita" muitas vezes carrega um tom pejorativo, associado a grupos manipuladores que exploram seguidores emocionalmente, financeiramente ou até fisicamente. A exploração, muitas vezes voluntária dos adeptos, leva a todo tipo de abuso moral, sexual e a um regime de trabalho próximo ao da servidão. Essas características (vistas no seu conjunto) variam em intensidade e nem todas estão presentes em todos os grupos chamados de seitas.

Pela lógica tribalização/destribalização/retribalização de McLuhan (1972), o ‘bando’ é pré-histórico; o grupo de indivíduos regrados e disciplinados corresponde ao aspecto convencional da modernidade; e a Bolha é a tribo virtual. Ser um indivíduo é uma conquista da modernidade e a Seita é um passo atrás, um retorno ao bando.

O filme A Onda tem pelo menos duas contribuições importantes para uma teoria da Seita: 1) minimiza o sistema de crenças explícito, a ideologia, como fator de radicalização do processo de formação da identidade coletiva da Seita; e 2) também minimiza a importância à exploração econômica da servidão voluntária dos membros aos líderes e à organização.

Assim, o filme não considera relevante justamente as duas características mais visíveis ao senso comum. Ao invés de enfatizar a exploração, há referências ao empoderamento pessoal resultante do trabalho coletivo, em que o resultado conjunto é superior à soma das capacidades individuais graças ao papel do líder, gerente do capital grupal. Já em relação às crenças inconscientes, destaca-se o papel do “bode expiatório”, do inimigo externo ou do traidor. Aqui, ao contrário da situação anterior, o resultado é menor que a soma das partes, pois são inibidos e represados emoções, instintos e sentimentos. Assim, mais do que lucro ou ideias, o importante é que haja um objeto de ódio para ser detestado e um objeto de culto para ser amado.

Nessa perspectiva, os grupos operam em dois regimes distintos: o diurno ou do grupo de trabalho (e de cooperação consciente) e o regime noturno da emergência dos “pressupostos básicos” do inconsciente arcaico estabelecendo sentimentos comuns aos indivíduos do grupo. “Pressupostos Básicos” (BION, 1975) são padrões de comportamento coletivo – situações emocionais arcaicas – que tendem a evitar a frustração inerente à aprendizagem por experiência, quando esta implica em dor, esforço ou sofrimento.

Bion identifica três tipos: dependência; acasalamento; e ataque e defesa diante do inimigo. No pressuposto de dependência, o sentimento de proteção e de adoração em relação aos líderes ou às divindades é representado pela relação autocrática do professor com os alunos em sala de aula. O pressuposto do acasalamento aparece nas festas e no sentimento de esperança no futuro da comunidade.  E, no pressuposto de ataque e fuga diante do inimigo, os sentimentos de medo e de raiva, são utilizados para constituição de objetos de ódios e para formar uma unidade coesa no grupo.

Entre os objetos de ódio, a configuração grupal arcaica mais importante é comumente chamada de ‘bode expiatório’. É a “lata de lixo” emocional do grupo, em vários níveis de intensidade. O mais leve é o ‘ajuste de conduta’ quando todos do grupo debocham de um elemento em relação a algo em particular. Porém, quando o indivíduo não se enquadra no comportamento do grupo começa um segundo nível de ódio, em que, ao invés de forçar a inclusão da diferença pela adequação, deseja excluí-la. É a ‘produção do transgressor’. O complexo de bode expiatório chega ao seu ápice, o terceiro estágio, quando o grupo decide culpar o transgressor de todas as adversidades pelas quais os outros elementos do grupo passam e, então, o sacrificam para se purificarem de seus erros. E isso acontece muito mais comum do que se imagina.

Outra contribuição preciosa do filme é que a formação da ‘Onda’ oscila entre a Equipe (os aspectos positivos) e a Gangue, quando a Seita comete crimes, como acontece nas cenas da torcida organizada no jogo de polo aquático – e, em uma oitava maior, durante toda narrativa. A Equipe (Goffman, 2021[2]) está ligada a alguma forma de performance coletiva (jogo, arte, trabalho), seus integrantes desenvolvam certas habilidades psicológicas e competências subjetivas (além da excelência das qualidades técnicas e artísticas), tais como: afinidade emocional, capacidade de sincronia intuitiva, criatividade coletiva, improviso em conjunto, tolerância com erros secundários e gentileza nas correções necessárias. Essas mesmas habilidades também são necessárias para a produção colaborativa em rede que envolvem vários tipos de artistas e técnicos.

A diferença entre o ‘grupo’ e a ‘equipe’ é que a última ultrapassa a soma das habilidades de seus integrantes através da inteligência coletiva, da capacidade de interagir criativamente em conjunto. Tanto a Gangue quanto a Equipe partilham da cumplicidade emocional das Seitas. A lealdade emocional acima das regras, apesar de antidemocrática e antirrepublicana, é o cimento da sociabilidade. A diferença da Equipe em relação à Seita e à Gangue é o papel da família, das amizades e da comunidade. Na equipe, a lealdade não implica no abandono das relações familiares e de amizade. 

A comunidade é uma estrutura formada a partir da cooperação entre famílias. Não se deve confundi-la com a horda ou com rebanho. Ao contrário, a família tem interesses próprios e entra em oposição com a estrutura centralizadora e desigual da seita. A comunidade provavelmente surgiu da institucionalização sedentária da defesa dos interesses das crianças, mulheres e dos idosos em relação aos objetivos nômades do rebanho. Então, desde o começo da sociabilização existiu um conflito estrutural entre a família e os grupos formados por participação voluntária.

Descrevemos o filme A Onda, apontamos as principais características das seitas (o líder carismático, a doutrina, as crenças inconscientes, o isolamento, o mundo dicotômico e a exploração econômica). Ao contrário do senso comum, que vê a seita como um conjunto de alienados explorados, detalhamos o processo de formação real, oscilando entre o empoderamento de união e a administração dos objetos de ódio; entre a excelência cooperativa das equipes e o uso criminoso da violência das gangues.

Também ressaltamos a oposição estrutural entre a Família/Comunidade e a Seita, pois mesmo que a última absorva a primeira, os interesses sedentários se oporiam à mobilidade dos objetivos táticos do grupo.

Todos temos um sentimento de incompletude, um desejo de união a algo maior que a soma dos esforços isolados, uma compulsão gregária pela Utopia. Fazer parte de alguma coisa significativa, que faça a diferença, empodera e dá segurança. Mas também exige cuidado e controle, pede que sejamos menos do que somos – o que cria um inconsciente grupal cheio de resistências fraternas, inimigos externos e traidores.

 

 

Referências

BION, W. R. Experiências com grupos. Rio de Janeiro: Imago; São Paulo: EDUSP, 1975.

GOFFMAN, Erving. Manicômios, Prisões e Conventos. Tradução de Dante Moreira. Leite. 7ª edição. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001.

MCLUHAN, Marshall. A galáxia de Gutenberg. A formação do homem tipográfico. São Paulo: Cia Ed. Nacional e EDUSP, 1972

ZAGO, Rayhanne Simon Dardengo.  A psicologia das seitas. 1 de setembro de 2022. https://rayhannezago.com/a-psicologia-das-seitas/


[1] Para aprofundar no estudo dos abusos psicológicos em seitas e seu tratamento, v.: https://rayhannezago.com/a-psicologia-das-seitas/

[2] Outro conceito correlato é o de ‘Instituição Total”, organização fechada de confinamento de um grande número de pessoas em que todos os aspectos da vida social (aprendizado, trabalho, residência) ocorrem no mesmo local. Há seitas que nascem de propostas de instituições totais em que a sustentação econômica, a representação política e a vida cultural coincidem na mesma organização.


terça-feira, 8 de abril de 2025

Cinema Novo


 PRIMEIRA FASE: Estética da fome (1960 – 1964)



Rio Quarenta Graus é um filme brasileiro de 1955, com roteiro e direção de Nelson Pereira dos Santos. É considerada a obra inspiradora do cinema novo, movimento estético e cultural que pretendia mostrar a realidade brasileira.

https://youtu.be/mutKYwMc-Jg



Vidas Secas - Baseado no livro homônimo de Graciliano Ramos, o filme acompanha uma família de retirantes que tenta escapar da seca no sertão nordestino. Fabiano, Sinhá Vitória, seus dois filhos e a cachorrinha Baleia vagam sem destino e já quase sem esperanças pelos confins do sertão, sobrevivendo às forças da natureza e à crueldade dos homens.

https://youtu.be/m5fsDcFOdwQ



Assalto ao Trem pagador é um filme brasileiro de 1962, do gênero policial, dirigido por Roberto Farias. Baseado numa história real, o filme retrata o famoso assalto ocorrido contra o trem de pagamentos da Estrada de Ferro Central do Brasil, que aconteceu às 08h30min do dia 14 de junho de 1960, nas proximidades da Estação Japeri (em Japeri, RJ), no km 71 do extinto trecho da Linha Auxiliar da E.F. Central do Brasil que ligava a Estação Japeri à Estação Botais, em Miguel Pereira (RJ).

https://youtu.be/zOtjf16kANA



O pagador de promessa - Baseado na peça teatral homônima do dramaturgo Dias Gomes, é até hoje o único filme brasileiro a conquistar a Palma de Ouro, prêmio máximo de Cannes. O Pagador de Promessas também se tornou o primeiro filme da América do Sul a ser indicado ao Oscar de Melhor filme estrangeiro em 1963.

https://youtu.be/WLqFa-61tkM



Barravento é o primeiro longa-metragem dirigido por Glauber Rocha. É um filme de 1962, do gênero drama. A história acompanha um ex-pescador que volta à aldeiazinha em que foi criado para tentar livrar o povo do domínio da religião. Filmagens na praia do Buraquinho em Itapuã na Bahia.

https://youtu.be/18z3Ppo9lSw



Deus e o Diabo na Terra do Sol é um filme brasileiro de 1964, do gênero drama, dirigido por Glauber Rocha. Considerado um marco do cinema novo, foi gravado em Monte Santo, Bahia.

https://youtu.be/OlgBrV-E0v0



O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, é um filme brasileiro de 1969, do gênero aventura e western, dirigido por Glauber Rocha. O título faz referência à lenda da luta de São Jorge contra um dragão que assolava um vilarejo que visitou.

https://youtu.be/SSEnlffMB5s



Os fuzis é um filme brasileiro e argentino de 1964, do gênero drama, dirigido por Ruy Guerra. Um grupo de soldados é enviado ao nordeste do Brasil para impedir que cidadãos pobres saqueiem armazéns por causa da fome. Juntamente com Vidas Secas, de Nélson Pereira dos Santos, e Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Gláuber Rocha, este filme faz parte da chamada "trilogia de ouro" do Cinema Novo.

https://youtu.be/8aNkRDu4ZtY



SEGUNDA FASE: Política-urbana (1962 – 1968)



Cinco vezes Favela é um filme brasileiro de 1962. O filme apresenta cinco histórias separadas, cada uma delas com diferentes diretores: Marcos Farias, Miguel Borges, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman. Com produção de Leon Hirszman, Marcos Farias e Paulo Cezar Saraceni e, como produtora o Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes. Trilha sonora composta por Carlos Lyra. https://youtu.be/JTcisAwgMM8



Boca de Ouro é um filme brasileiro de 1963, do gênero drama, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, com roteiro baseado em peça teatral de Nelson Rodrigues. O filme conta a história de um bicheiro assassinado, e a tentativa de um repórter em relatar a sua vida a partir do depoimento de uma de suas amantes. As lendas sobre o bicheiro, dentre outras coisas, revelavam que ele usava uma dentadura de ouro. https://youtu.be/AhowL-Iwk-k



O desafio é um filme de 1965 que marcou o cinema novo, dirigido por Paulo César Saraceni, com roteiro de Nelson Xavier e produção de Sérgio Saraceni. Por tratar do romance entre a mulher de um rico industrial, Ada e Marcelo (Vianinha), um estudante de esquerda, foi entendido como apologia do amor entre as classes.

https://youtu.be/-BxAy-R_v_k



A grande cidade é um filme brasileiro de drama de 1966, dirigido por Cacá Diegues. O subtítulo é "As aventuras e desventuras de Luzia e seus 3 amigos chegados de longe". Músicas de Heckel Tavares, Ernesto Nazareth, Villa Lobos e Zé Kéti (compositor do tema "A grande cidade"). Direção musical de Moacir Santos e produção de Zelito Viana.

https://youtu.be/3lohKaEvwmM



Terra em transe é um filme brasileiro de 1967, do gênero drama, roteirizado e dirigido por Glauber Rocha e coproduzido pela Mapa Filmes do Brasil. Em novembro de 2015 o filme entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

https://youtu.be/OqgnXHvy9L0



A falecida é um filme brasileiro do gênero drama de 1965, dirigido por Leon Hirszman. Baseado na obra homônima de Nelson Rodrigues, o filme tem roteiro de Leon Hirszman e do documentarista Eduardo Coutinho. É o primeiro filme de Fernanda Montenegro.

https://youtu.be/SX0oebMhiuw



O amuleto de Ogum é um filme brasileiro de 1974 dirigido por Nelson Pereira dos Santos, com trilha sonora de Jards Macalé.Violeiro cego conta (canta) a história de um menino cujo pai e irmão foram assassinados e que, a pedido da mãe, vai a um terreiro de umbanda para "fechar o corpo" (proteger-se pelos espíritos). Crescido, envolve-se com o crime e a contravenção na Baixada Fluminense, até que se envolve com amante do bicheiro e é jurado de morte — mas conta com a proteção do amuleto de Ogum.

https://youtu.be/Xc0B2AL1WYU



TERCEIRA FASE: Tropicalismo 1968-1974



Macunaima é um filme brasileiro, de 1969, do gênero comédia e fantasia, escrito e dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, baseado na obra homônima de Mário de Andrade. Em novembro de 2015 o filme entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

https://youtu.be/HB52EyGghho



Como era gostoso meu francês é um filme brasileiro de 1971, do gênero aventura, dirigido por Nelson Pereira dos Santos. No Brasil, em 1594, um aventureiro francês com conhecimentos de artilharia é feito prisioneiro dos Tupinambás. Segundo a cultura índigena, era preciso devorar o inimigo para adquirir todos os seus poderes: saber utilizar a pólvora e os canhões.

https://youtu.be/ZmTPHXeCDUg



O Bandido da Luz Vermelha é um filme brasileiro de 1968, do gênero policial, dirigido por Rogério Sganzerla. Inspirado nos crimes do famoso assaltante João Acácio Pereira da Costa, apelidado de "Bandido da Luz Vermelha". Este filme é também classificado como cinema marginal (ou 'undigrudi', em referência a palavra underground).

https://youtu.be/pSbBA4OiqBc



Toda Nudez Será Castigada é um filme brasileiro lançado em dezembro de 1972, dirigido por Arnaldo Jabor, e produzido pela Produções Cinematográficas Roberto Farias, baseado na peça de teatro homônima de Nelson Rodrigues. A interpretação dos diálogos são o ponto alto do trabalho.

https://youtu.be/TQ-CmuWIz_A


sábado, 5 de abril de 2025

Cinema Velho


A ideia aqui é propor um roteiro mínimo para o estudo do cinema brasileiro antes do Cinema Novo.

O primeiro filme brasileiro relevante é Limite (1931) de Maria Peixoto. 

Outro marco importante é Ganga Bruta (1933), de Humberto Mauro. Aliás, toda cinematografia de Humberto Mauro também é relevante para entender a gênesis do cinema brasileiro. O filme foi produzido por Adhemar Gonzaga e pelo estúdio da Cinédia, no Rio de Janeiro.

Por outro lado, em 1945 em São Paulo, surge outro grande estúdio, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, com uma produção impressionante de filmes comerciais. Há no youtube uma série documental de Mariana Granha de três episódios que detalha toda produção do estúdio. 

O filme mais importante da Vera Cruz foi O Cangaceiro (1953) escrito e dirigido por Lima Barreto, com diálogos criados por Rachel de Queiroz.

Vera Cruz faliu e, no Rio, a Cinédia deu lugar à Atlântida e as comédias musicais chamadas de chanchadas. O documentário de Carlos Manga, Assim era Atlântida (1972) é uma síntese da produção desse estúdio.


quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Emily in Paris


Rudson Mendes de Oliveira
 
"Emily in Paris" é uma daquelas séries que dividem opiniões, mas que raramente passam despercebidas. Criada por Darren Star, a mesma criadora de "Sex and the City", a trama acompanha Emily Cooper (Lily Collins), uma jovem americana que se muda para Paris logo quando recebe uma oportunidade de trabalho inesperada. Entre desafios culturais, romances e a vida no mundo do marketing e o luxo, essa produção constrói uma narrativa leve e visualmente deslumbrante. 

Por falar em visual deslumbrante, está na estética o ponto forte da série. Paris é apresentada como um sonho, com ruas charmosas, moda impecável e cenários perfeitos para um cartão-postal. A própria protagonista usa figurinos que chamam atenção por suas cores vibrantes e com um estilo francês. Esse apelo visual é, sem dúvida, o que prende a atenção logo de início. 

No entanto, contém clichês culturais que já foram amplamente criticados. Franceses são frequentemente retratados como mal-humorados, enquanto Emily surge como a americana otimista que resolve tudo com criatividade. Essa abordagem superficial pode ser cansativa para quem espera mais profundidade nas interações. 

Já no enredo, entrega um romance clichê, ótimo para assistir em uma tarde tranquila. Boa parte da trama tem aqueles triângulos amorosos previsíveis e conflitos no trabalho que se resolvem magicamente. Por isso, para quem busca algo despretensioso e divertido, como eu procurei e encontrei, Emily in Paris funciona como entretenimento puro. 

Mesmo sabendo de muitas críticas sobre a série, acredito que ela tem seu charme. É uma produção feita para maratonar em um fim de semana, com diálogos rápidos e personagens que, embora estereotipados, cativam. A mensagem, no fim, é clara: nem tudo precisa ser realista para ser divertido.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

METROPOLIS (1927)


 JOSE LUAN ALVES DA COSTA 


 O filme Metropolis, lançado em 1927, é uma obra-prima do cinema mudo dirigida por Fritz Lang. É considerado um dos primeiros grandes filmes de ficção científica e um marco na história do cinema por sua estética inovadora, narrativa simbólica e crítica social. Metropolis foi originalmente exibido com cerca de 2 horas e 30 minutos, mas cópias foram editadas e cenas foram perdidas ao longo do tempo. Em 2008, foi encontrada uma cópia quase completa em Buenos Aires, permitindo uma restauração significativa em 2010. O filme continua sendo estudado e celebrado como uma das obras mais influentes da história do cinema. Em 2001, foi o primeiro filme a ser incluído no registro da UNESCO "Memória do Mundo". 

O protagonista, Freder, filho do governante da cidade, descobre as condições desumanas dos trabalhadores e se junta a Maria, uma líder espiritual que defende a união entre as classes. A história também envolve um robô (uma das primeiras representações de inteligência artificial no cinema) e explora temas como desigualdade, luta de classes e o perigo da industrialização descontrolada. 

Metropolis é mais do que um filme; é um marco cultural e um exemplo da força do cinema como meio artístico e político. Seus visuais atemporais e sua narrativa universal tornam esta obra essencial para qualquer amante da sétima arte. A mensagem final – que "o mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração" – continua sendo um poderoso apelo por empatia e cooperação em tempos de divisão.

DE VOLTA AOS 15

Uma jornada de reencontros e recomeços 

 KAYLLANI AUGUSTA LIMA DA SILVA 


Já imaginou reviver as descobertas da adolescência, os momentos de diversão junto aos amigos e poder abraçar novamente alguém especial que partiu? Embora a vida real nos permita acessar memórias, seja a partir de fotos, cheiros, ou lugares, somente na ficção a viagem no tempo se torna real. É com base nesse elemento ficcional que a série “De volta aos Quinze” tem seu ponto de partida para contar a história de Anita. 

No enredo, inspirado no livro de mesmo nome escrito pela Bruna Vieira, a jovem é apresentada ao leitor na fase adulta. Aos 30 anos, mora em um apartamento distante da família, coleciona algumas frustrações, mantém apego com o passado e parece não conseguir olhar para a frente. 

No entanto, tudo muda quando Anita consegue voltar aos 15 anos. Mais do que a sensação de nostalgia, a jornada da protagonista revela a importância de reencontrarmos nossos sonhos e não esquecermos da nossa identidade. Além disso, a série questiona as consequências das nossas escolhas e expõe a importância de valorizar o presente como uma nova chance para recomeçar. 

Em termos de ambientação, De volta aos Quinze pode ser um verdadeiro afago para os saudosos pelo início dos anos 2000 no Brasil. Isso porque Anita vivencia os 15 anos em 2006, na cidade fictícia de Imperatriz. Nesse panorama, a série abre espaço para uma trilha sonora composta por artistas como Charlie Brown Jr, Pitty e Skank. 

Os personagens secundários, ainda, exercem um papel central na narrativa. Isso porque todos apresentam conflitos e características capazes de gerar identificação com o telespectador, além de terem tanto seus pontos positivos quanto negativos bem trabalhados na série.

domingo, 19 de janeiro de 2025

Alien: Romulus

 Vinicius Augusto Toscano de Moura

 

Alien: Romulus”,  de Fede Álvarez, é mais um novo projeto da nova franquia Alien que tenta trazer os clímax de medos de uma das criaturas mais famosas do cinema, o filme se passa entre “Alien” (1979) e entre “Aliens: O Resgate” (1986) . O filme segue Rain Carradine (Cailee Spaeny) e um grupo de jovens que invadem uma estação espacial abandonada na busca de recursos para poderem fazer uma longa viagem pelo cosmos, porém ao entrarem na nave, a aventura se revela cheia de horrores não esperados.

Com passagens do Diretor em filmes como “A Morte do Demônio” (2013) e “O Homem nas Trevas” (2016) em mente, o diretor imprime sua assinatura com terror angustiante e ação memorável. Minuciosamente se notam aos efeitos práticos e atuais que criam criaturas e cenas na atmosfera dos primeiros “Alien”.

As atuações são exemplares, com Spaeny representando em sua heroína indecisa e Jonsson como o androide Andy. A relação entre Rain e Andy aproximam ao ponto dramático de emoção ao ceder temas de humanidade e tecnologia entre os personagens.

No geral, o filme em sua essência corre o risco de homenagear demais e trazendo apenas mais do mesmo. “Alien: Romulus” segue só rebuscando fórmula, sem estrear a mitologia de sua franquia com uma originalidade alguma. Talvez a única coisa original no filme seja a cena final que trás uma criatura completamente nova e desfigurada. No entanto, o produto ainda consegue tornar a expectativa de medos e adrenalina em um público que se ansiosamente procura nostalgia.

Existe também outro erro perceptível no filme para quem conhece a obra de filmes anteriores, tanto a nave principal onde se passa o filme como também o androide Ash haviam sido destruídos no primeiro filme da franquia, mas o roteiro do filme simplesmente decidiu que isso não aconteceu, um erro de continuidade bem nítido para os fãs da obra.

No geral, "Alien: Romulus" oferece uma experiência cinematográfica envolvente, com atmosfera densa e sequências bem conduzidas de terror e ação. Contudo, o erro de continuidade e a falta de inovação podem impedir que alcance o status dos filmes mais icônicos da franquia. Para os fãs em busca de nostalgia e adrenalina, ainda é uma jornada interessante, mas para os que esperavam um salto criativo, pode ser um tanto decepcionante.

Coisa Mais Linda


Letícia Meira 

A Coisa Mais Linda é uma série nacional que merece ser destacada não apenas por sua qualidade técnica e narrativa, mas pelo impacto que causa ao trazer temas profundamente conectados ao universo feminino. Com uma abordagem feita por mulheres e para mulheres, a série mergulha em situações que muitas de nós vivenciamos ou reconhecemos, promovendo reflexões sobre empoderamento e sororidade. 

Ambientada no Brasil dos anos 1950 e 1960, a trama acompanha a jornada de Malu (Maria Casadevall), uma mulher que, ao enfrentar traições e desafios pessoais, encontra forças para construir seu próprio caminho no mundo da música. Ao lado de outras personagens femininas igualmente fortes e inspiradoras, a série discute temas como independência financeira, machismo estrutural e os dilemas de equilibrar sonhos pessoais com as exigências da sociedade. 

Um dos destaques é a perspectiva da jornalista Adélia, que enfrenta preconceitos na mídia enquanto luta para fazer sua voz ser ouvida. Essa camada da série não apenas enriquece a narrativa, mas também nos faz refletir sobre o papel das mulheres em espaços historicamente dominados por homens. 

Além de proporcionar lições valiosas, Coisa Mais Linda é uma celebração da força feminina e um lembrete poderoso de que podemos (e devemos) lutar pelos nossos sonhos. É uma produção envolvente, emocionante e inspiradora, que ressoa com as lutas e conquistas de cada espectadora.

sábado, 18 de janeiro de 2025

Bacurau

 

Letícia Meira 


Bacurau é um filme nacional que transcende gêneros, dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, o longa conta a história de um pequeno povoado no sertão brasileiro que, após a morte de uma de suas moradoras mais queridas, começa a perceber estranhos acontecimentos e se vê ameaçado por forças externas. 

O que me encanta em Bacurau é como ele representa o Brasil real, o Brasil profundo e tantas vezes esquecido. É um retrato visceral do povo marginalizado, que resiste às opressões e enganos com força e união. A narrativa é repleta de metáforas que escancaram problemas históricos, como desigualdade social, violência e a exploração de terras e pessoas, mas tudo isso é mostrado, sem perder a carga emocional e simbólica. 

O filme é um marco porque consegue capturar a essência do Nordeste, desde o sotaque, as expressões, até as manias tão características do povo sertanejo. A cultura nordestina está viva em cada cena, seja no modo de falar ou nas relações entre os personagens. É impossível não se sentir dentro daquela comunidade, compartilhando os medos e as lutas de seus moradores. 

Além disso, Bacurau questiona quem são os verdadeiros "vilões" da história, refletindo sobre colonialismo, poder e resistência. É um filme que conversa com o Brasil de hoje e de sempre, nos fazendo enxergar que mesmo diante do descaso e da opressão, há força na coletividade.

Bones


  DARA HELENA DA SILVA RIBEIRO 


 Bones (2005–2017) é uma série policial criada por Hart Hanson, baseada nos livros da antropóloga forense Kathy Reichs. A trama acompanha a brilhante Dra. Temperance "Bones" Brennan (Emily Deschanel), uma antropóloga que trabalha no Jeffersonian Institute, e o agente especial do FBI Seeley Booth (David Boreanaz), enquanto eles solucionam crimes ao examinar restos mortais. Combinando ciência forense, mistério e uma boa dose de humor, a série se destacou por equilibrar investigações intrigantes com o desenvolvimento pessoal e relacional de seus personagens. 

O ponto alto de Bones é a dinâmica entre Brennan e Booth. Enquanto ela é extremamente racional e lógica, ele traz uma abordagem mais intuitiva e emocional, criando um contraste cativante que alimenta tanto os casos quanto a crescente química romântica entre os dois. Além disso, a série conta com uma equipe de coadjuvantes bem construída, cada um com suas próprias peculiaridades e arcos narrativos. 

Pessoalmente, assistir Bones foi uma experiência que misturou diversão e reflexão. É fácil se sentir cativado pela evolução de Brennan, que aos poucos aprende a equilibrar sua genialidade lógica com a vulnerabilidade emocional. A relação dela com Booth traz momentos de riso e lágrimas, enquanto os casos desafiadores sempre mantêm o espectador curioso. Foi uma série que me fez refletir sobre como o trabalho, as relações e até mesmo os desafios diários moldam quem somos. 

Ao longo de suas 12 temporadas, Bones soube equilibrar a ciência com as emoções humanas, abordando temas que iam além dos casos da semana. A série não se limitava a apresentar soluções científicas impressionantes, mas também explorava o impacto psicológico do trabalho dos personagens, especialmente em Brennan, cuja dificuldade em se conectar emocionalmente contrastava com a sensibilidade de Booth. Além disso, a narrativa destacava os dilemas éticos e morais da ciência forense, tornando cada episódio mais significativo do que uma simples investigação criminal. Embora a série tenha suas flutuações ao longo das 12 temporadas, ela se mantém consistente ao explorar a interação entre a ciência e a humanidade, questionando como a lógica e as emoções coexistem na busca pela verdade.

O Menu (2022)

 


Thiago Lobato

 

Atualmente vivenciamos a era digital. Com os avanços da tecnologia as entidades - públicas e privadas - tendem a acompanhar essas evoluções.

Partindo desse pensamento, passamos a cada vez mais buscarmos experiências novas. Queremos sensações não sentidas antes, prazeres. A busca é quase incessante e Mark Mylod (diretor do filme O Menu) sabe bem disso. Na sua direção, pois no filme suspense, terror e comédia ácida.

Dois jovens junto a um grupo entram em um barco a caminho de uma ilha remota para vivenciarem uma experiência gastronômica. Na ilha se encontra o restaurante conceitual e disruptivo do chefe Slowik. O menu conta com pratos únicos e especiais, alguns dos ingredientes usados são sonhos, segredos, ódio e vingança.

O filme além de fazer críticas sociais a nossa sociedade hipócrita, apresenta como empresas, especificamente restaurantes, podem enriquecer os cardápios de suas casas. Eu já estou cansado de estabelecimentos oferecendo mais do mesmo. Mas apenas um bom cardápio não enche casa, precisa conhecer o cliente, se possível os segredos dele, fidelizá-los e o principal, oferecer experiências jamais vividas em outros restaurantes. Afinal, é pelas sensações, desejos e prazeres que estamos vivendo.

THE WIRE

 


EDUARDO WERDESHEIM


Uma série que mais parece um estudo social da cidade de Baltimore interpretado na televisão, “The Wire” definitivamente não obedece aos padrões tradicionais dos seriados americanos e de outras partes do mundo. O combate entre as forças de segurança e o crime é sempre retratado, mas não apenas no nível das ruas. A série mostra como o mundo do crime não se resume às esquinas de boca de fumo, mas está entranhado em diversas instituições públicas e privadas.

Do consumidor de crack sem-teto ao político que cheira cocaína para se manter ativo durante o período de campanha eleitoral, todas essas camadas sociais são retratadas. A série aborda desde as atividades no porto, mostrando como as drogas entram na cidade, até a mídia, que também detém o poder de decidir o que realmente repercute entre a população. Todas essas entidades são grandes responsáveis pelo ciclo vicioso em que a população está presa.

Uma das temporadas mais impactantes, a quarta, foca na educação e em como ela pode ser uma ferramenta transformadora, mas que também pode excluir aqueles que não são acolhidos na infância, devido à fragilidade que um jovem enfrenta em um ambiente altamente hostil. A crítica facilmente percebida é que, por mais que muitos recursos sejam direcionados ao combate ao tráfico, a maneira como isso é feito, com violência e sem buscar realmente a fonte do problema, nada mais gera do que mais revolta e marginalização da população que vive em bairros de baixa renda e dominados pelo crime.

O criador, David Simon, cria narrativas comuns que retratam da forma mais fiel possível o cotidiano da comunidade de Baltimore. Ele não foca ou se apega a personagens protagonistas fixos ao longo de toda a série, conduzindo de forma fluida o telespectador por diferentes áreas, sem fomentar a expectativa de um final feliz ou de uma solução para todos os problemas. A reflexão final pode ser um tanto pessimista, se o telespectador espera uma resolução para aquela ficção, mas com toda certeza, é realista.

Recife Frio

CARMEM CECILIA FELIX SILVA


Recife Frio (2009), dirigido por Kleber Mendonça Filho, utiliza a mudança climática em Recife para explorar questões sociais e culturais, destacando a desigualdade e o imperialismo cultural. A cidade, conhecida pelo calor intenso, passa a enfrentar uma onda de frio, o que gera mudanças no comércio local, com a venda de produtos típicos de climas frios. No entanto, o filme revela que, enquanto o comércio se adapta, a pobreza se intensifica, com mortes de pessoas em situação de rua. A obra também critica a adoção de símbolos culturais estrangeiros, como o "Papai Noel tropical", que representa a precarização do trabalho e a naturalização de valores externos. A figura do "Papai Noel" e a falta de questionamento das condições de trabalho refletem como a cultura americana é imposta e aceita passivamente. A mídia e o comércio também são responsáveis por criar uma visão estereotipada do Brasil, com turistas estrangeiros reduzindo o país a um destino exótico, o que é evidenciado pela venda de pinguins para a França. A classe alta, representada pela família Nogueira, simboliza a persistência das desigualdades sociais e a herança colonial, refletida nas divisões espaciais e na manutenção de privilégios. O filme conclui com uma revalorização das raízes culturais pernambucanas, simbolizada pela ciranda de Lia de Itamaracá, e propõe a resistência à homogeneização cultural imposta pela globalização e pelo capitalismo. A obra, assim, questiona a construção de identidades a partir de valores externos e destaca a importância de afirmar as culturas locais diante das influências globais.

O Maníaco do Parque


 Maria Natany Lopes da Silva 


O Maníaco do Parque (2024) é um filme baseado em fatos reais, que mergulha na história do motoboy Francisco de Assis Pereira (Silvero Pereira), considerado o maior serial killer do Brasil, ele foi acusado de atacar 21 mulheres, assassinando onze delas e escondendo seus corpos no Parque do Estado, em São Paulo. Os detalhes de sua vida passam a ser investigados por Elena (Giovanna Grigio), uma repórter iniciante que enxerga a história do assassino, como uma forma de alavancar a sua carreira. 

O filme recria a trajetória de Francisco, desde sua abordagem às vítimas até o desenrolar das investigações policiais. A vulnerabilidade social das vítimas (em sua maioria, mulheres de baixa renda em busca de oportunidades de trabalho) revela a desigualdade estrutural que permeia o sistema, e isso permite que Francisco agisse impunemente por tanto tempo. O filme tenta, em partes, humanizar as vítimas, mostrando suas histórias e sonhos interrompidos. No entanto, há momentos em que elas são retratadas apenas como números ou peças em uma narrativa focada no assassino. 

Em paralelo a isso, tanto é notório a ineficiência das investigações, quanto é observado o papel da imprensa. É notório, que a mídia ajudou tanto na identificação do criminoso quanto na exploração sensacionalista dos casos, muitas vezes transformando o assassino em uma figura quase "mítica". A espetacularização do sofrimento das vítimas é um reflexo direto do jornalismo policialesco da época, algo que o filme denuncia, ainda que de forma sutil. A cobertura midiática acabou transformando Francisco em uma celebridade macabra, desviando o foco das falhas sistêmicas que permitiram seus crimes. 

Em geral, a obra consegue transmitir o clima de medo e tensão que tomou conta da sociedade na época. As atuações principais conseguem transmitir a complexidade emocional dos personagens, e a direção acerta ao criar um clima de suspense. Entretanto, em alguns momentos, o filme pode cair no risco do sensacionalismo, ao focar excessivamente nos atos violentos em vez de aprofundar questões psicológicas ou sociais mais complexas, por exemplo, mais tempo poderia ser dedicado às vítimas e suas famílias, oferecendo uma perspectiva mais profunda sobre o impacto emocional e social desses crimes. Mesmo assim, o filme é uma excelente obra que retrata a exploração midiática de tragédias e a falha das instituições públicas na prevenção desse tipo de crime.

Pássaros de Liberdade


 GIOVANNA R. BELLATO NERY 


Pássaros de Liberdade (“Birds of Paradise”) é um mergulho em um universo onde a arte e o corpo se chocam, se fundem e se desgastam. Dirigido por Sarah Adina Smith, o filme apresenta o balé não apenas como uma expressão estética, mas como um campo de batalha interior, onde cada movimento carrega uma carga emocional quase insuportável. Desde os primeiros minutos, fica claro que a dança aqui é tanto um meio de transcendência quanto de autodestruição. 

O que me impressionou de imediato foi o visual: é quase como se cada cena fosse uma pintura em movimento. A paleta de cores não está ali só para embelezar; ela é emocional. Nos momentos de dor e conflito, tons frios predominam, engolindo as personagens em uma atmosfera de isolamento. Por outro lado, nos raros momentos de leveza e cumplicidade, as cores quentes aparecem como respiros visuais. Não é só bonito — é uma narrativa visual que intensifica a história. 

O balé, aqui, é visceral. Cada pirueta e cada salto parecem ecoar não apenas no espaço, mas dentro das personagens. O que me impressionou foi como a dança se torna quase um ritual, uma linguagem para aquilo que as palavras não conseguem captar. A relação entre Kate e Marine é onde isso fica mais evidente. Elas não são apenas amigas ou rivais; são espelhos distorcidos uma da outra. A maneira como suas identidades se confundem — ora se aproximando, ora se repelindo — cria um dinamismo que prende. 

Os espaços em que a história se desenrola também falam muito. A academia de balé é opressora, quase claustrofóbica. Cada corredor sombrio parece sussurrar as exigências impossíveis impostas àquelas jovens. Já as cenas externas, por mais breves que sejam, trazem uma sensação de escape. Para mim, essa alternância entre ambientes ecoa a tensão entre ser livre e ser moldada pelo que esperam de você. 

E tem a subjetividade. Que maravilha como o filme se arrisca a ser menos literal! Os pássaros do título são muito mais do que uma metáfora de liberdade. Eles representam a fragilidade, o desejo de escapar, mas também o peso de carregar as expectativas de voar alto demais. É algo que, como espectadora, senti profundamente. 

Por outro lado, o roteiro me deixou com sentimentos conflitantes. Há algo de belo em sua simplicidade, mas também uma frustração com as lacunas deixadas para a nossa imaginação preencher. Talvez esse tenha sido o ponto: não entregar tudo, deixar o simbólico guiar a experiência. Mas, para mim, em alguns momentos, parecia que o filme estava tão focado em ser abstrato que esqueceu de se conectar. 

No fim, Pássaros de Liberdade não é só um filme para ser assistido, é para ser sentido. Ele é imperfeito, mas é exatamente essa imperfeição que o torna humano. São nas fissuras — nas coreografias que doem, nas luzes que engolem as protagonistas, nos silências entre elas — que o filme se torna inesquecível.

Poor Things

Pobres Criaturas


Sávio Santos Padilha 


Lançado em 2023 pelo diretor premiado Yorgos Lanthimos, "Pobres Criaturas" apresenta a história da jovem Bella Baxter, uma mulher que é trazida de volta à vida pelo cientista Dr. Godwin, Bella tem uma mente infantilizada e inocente como uma criança, não compreendendo bem o mundo a sua volta, tudo muda quando a mesma resolve se aventurar no mundo e conhecer o continente, é nessas aventuras que a personagem principal do filme começa a entender um pouco mais de si, do seu corpo e da sua mente. 

Poor Things traz uma atmosfera com a ideia similar a Frankenstein, um personagem que vai compreendendo a si mesmo, nos aventuramos junto com a personagem principal, ao decorrer do filme ela vai amadurecendo e crescendo, seu comportamento e fala vão mudando conforme as vivências são apresentadas a ela, moldando Bella em algo totalmente diferente do que nos foi apresentado. 

O filme também chama atenção pelo visual, uma fotografia bem acentuada, com cores vibrantes, o filme é retratado no século passado, por isso a direção de arte e maquiagem também se destacam trazendo um ar coloquial e inovador. 

A atuação de Emma Stone com a personagem principal do filme é algo extremamente cativante, a maneira como ela incorpora o personagem e vai trazendo nuances que se moldam, se camuflado e mudando a no decorrer do filme traz uma veracidade para personagem de forma espetacular, seu olhar penetrante nos prende, Willen Defoe, ator que dá vida o personagem Dr. Godwim e Mark Ruffalo , que trás o personagem Duncan, futuro marido de Bella no filme, também são enriquecedoras. A direção de de Yorgos é mais uma vez destaque, a maneira como ele apresenta os personagens, cenários e nos envolve nas cenas de forma humorística, te enlaça no filme até a última cena.