terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Mansão Bly

 


A Maldição Da Mansão Bly

FELIPE SILVA CARDOSO


Dani Clayton (Victoria Pedretti) chega à Mansão Bly, um cenário rural e remoto na década de 1980, para trabalhar como babá dos sobrinhos de Henry Wingrave (Henry Thomas), as crianças Flora (Amelie Bea Smith) e Miles (Benjamin Evan Ainsworth), órfãos de pai e de mãe que estão, até sua chegada, aos cuidados dos empregados da casa. Fugida de um passado misterioso nos Estados Unidos da América, Dani precisa lidar com este passado que a seguiu até lá e com o comportamento estranho dos dois irmãos.

De início não se sabe nada sobre os personagens, seja Dani ou os irmãos órfãos, seja os empregados da casa; ou mesmo o que houve ali antes do ponto em que a história se inicia. Com o avanço dos episódios, porém, o passado e, principalmente, a psique e os traumas das personagens vão se desnudando. Assim, como a ameaça que espreita na silenciosa e enorme mansão. Ameaça que surge com vultos em cantos, passeios solitários por corredores escuros e vazios; fantasmas escondidos displicentemente em cenas aparentemente inofensivas, aparições de pessoas que não se sabe estarem mortas ou vivas.

E assim acompanha-se o desenrolar da trama, com passado e presente se alternando em transições sutis.

A obra de Mike Flanagan, criador da série A MALDIÇÃO DA MANSÃO BLY, tendencia um horror muito relacionado ao estado mental e/ou emocional de seus personagens. Ou o sobrenatural é algo que afeta este estado, catalisando reações psicológicas adversas (como mais ou menos ocorre no enredo de A MALDIÇÃO DA RESIDÊNCIA HILL, sua obra anterior) ou é o próprio estado mental e/ou emocional o monstro, o antagonista (como no filme O SONO DA MORTE, de 2016). Com A MALDIÇÃO DA MANSÃO BLY não seria diferente. Em sua nova série, os traumas pessoais das personagens são explorados, motivando suas ações. É uma história que fala sobre perda, relacionamentos interpessoais (alguns abusivos), sobre posse e sobre as consequências dessas interações na vida das personagens.

(spoiler)

A protagonista Dani perde seu ex-noivo num acidente terrível, os irmãos Flora e Miles, os pais; o cozinheiro Owen perde a mãe; a Hannah Gross, governanta da mansão perde a vida que poderia ter tido caso não tivesse se dedicado à família Wingrave; o Henry, tio das crianças, perde a cunhada e amante junto com o irmão. E, a cada episódio, um mergulho profundo no trauma de cada um deles; e, como costuma fazer Mike Flanagan, são traumas representáveis, se manifestando como fantasmas, assombrações.

Mas também é uma história sobre posse.

Peter Quint era um ladrão, pego em flagrante surrupiando tesouros da casa, além de nutrir alto grau de posse sobre a namorada, Joyce. Morre por isso e fica preso à mansão como fantasma. O falecido noivo da protagonista Dani, demonstrava algum grau de possessividade em relação a ela também. A própria maldição da mansão nasce, do excessivo zelo, por parte de Viola, proprietária original, de sua propriedade e bens materiais.

Tal ideia de propriedade não desaparece com a morte. Em nenhuma das situações. Dani é assombrada pelo fantasma do noivo; Joyce é perseguida pelo fantasma de Peter até este levá-la a morte. Viola, a primeira das assombrações, nunca arredou pé da Mansão Bly, motivada pelo amor a uma filha de cuja vida pode pouco participar (o que poderia se configurar em uma forma de perda). Foi condenada a todas as noites sair do lago em que jaz, junto com todos os seus pertences, para buscar esta filha.

A MANSÃO, dessa vez, ao segurar os mortos ali, como assombrações, fixando-os naquele entorno geográfico, ilustraria esse medo da perda, simbolizaria um apego irracional a coisas e pessoas. Joyce talvez seja a personagem menos apegada, no entanto vítima da possessividade. Sua morte deveu-se mais ao egoísmo do Peter do que por qualquer outra coisa. Sua reação ao se ver morta, sugere que ela não estava feliz por ter morrido especialmente para ficar com Peter no plano espiritual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário