quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

lost in space

 


LUCAS RIBEIRO


Uma das séries que mais me conquistou nos últimos anos desde o primeiro episódio, sem dúvida foi Perdidos no Espaço (ou Lost in Space), recentemente cancelada pela Netflix, com apenas três temporadas. Criada e comandada por Zack Estrin (showrunner e produtor executivo), a narrativa se inicia após um pouso forçado em um planeta desconhecido, onde a família Robinson tenta sobreviver aos perigos que encontra nesse novo mundo. Porém, essa apenas é a trama dos primeiros episódios: Com expedições para um planeta mais adequado para a existência humana (Alpha Centauri), as poucas famílias aprovadas para o projeto têm a missão de contribuir para o desenvolvimento dessa nova civilização. Os protagonistas, a família Robinson, constantemente se deparam com novas aventuras e desafios, almejando sempre seu destino final. O foco principal dessa análise será a última temporada: Se mantém o nível das anteriores e se cumpre a difícil tarefa de concluir com sucesso a jornada de nossos queridos personagens.

Apesar de muitos fatores essenciais estarem de volta (visuais continuam impressionantes, efeitos especiais, design de produção, figurino, trilha sonora), é notável que alguns não se fazem presentes o suficiente: Enquanto as duas primeiras temporadas apresentavam diversos obstáculos para a família Robinson, assim como suas soluções, a presença da lógica sempre foi um fator imprescindível para o entendimento do público do que estava acontecendo, além de cativar e vender os personagens como brilhantes cientistas. Aqui não há lógica o suficiente para fazer a audiência entender e se importar com as ameaças, nem como elas são “cientificamente solucionadas”. O que é uma pena porque até então não havia problema algum em trazer aspectos científicos plausíveis para o roteiro. Como consequência temos uma temporada mais relaxada, com resoluções ao acaso, e sem se dar tanto o trabalho em dar continuidade a lógica narrativa.

Percebe-se também a redução significativa das sequências de ação, outra marca registrada que até então unia adrenalina com excelentes efeitos visuais. Às vezes a impressão era que a Netflix limitou alguns aspectos da série, por ser a última temporada É bastante comum os responsáveis darem um orçamento bem menor por saber que não haverá uma renovação, então o showrunner só pode ir até certo ponto com a história, não é mesmo?

Um outro fator que vale ser enaltecido é o Will (o famoso Will Robinson, interpretado por Maxwell Jenkins), porque enquanto, em anos anteriores, contribuía bastante com uma solução em grupo, com o resto dos familiares, aqui nota-se um forte e constante complexo de herói. Múltiplas vezes o personagem ignora as consequências mortais dos perigos (no caso os robôs perseguindo eles), e ao invés de promover uma discussão em grupo (o que era feito frequentemente nas temporadas anteriores) aqui ele já vai direto para última solução, supondo que é a única que vai dar certo: O seu sacrifício! Dar a vida para salvar a família. Mesmo sendo o mais novo, uma criança/pré-adolescente, anteriormente (nas duas temporadas passadas) era ainda mais novo e sempre agiu em grupo, com os pais/irmãs, por saber que, no final das contas haveria uma solução. Aqui toda hora sua segurança é colocada em risco por ter a certeza de que o seu sacrifício é o equivalente a segurança e paz das outras pessoas, o que definitivamente é um comportamento problemático e que chama atenção. Às vezes era um perigo tão absurdo que estava se submetendo, que acabava afetando minha visão do personagem, tornando-o menos carismático, por já não concordar mais com o que ele estava fazendo.

Continuando na categoria personagens, Taylor Russel interpreta Judy Robinson e mais uma vez se destaca. Na última vez que a vimos, recebeu uma responsabilidade enorme: Ser a capitã da Júpiter (nave) com todas as crianças, incluindo seus irmãos, em uma fuga de última hora. E por boa parte da narrativa vemos as consequências disso, pois ganha bem mais destaque, sendo vista como uma líder competente e responsável. Parte disso é mérito da atriz, que faz um ótimo trabalho vendendo a preocupação da personagem em proteger todo mundo. Um bom exemplo se dá no começo do primeiro episódio, com um alerta de emergência contra meteoros entrando na atmosfera sendo emitido, e sua urgência em trazer todas as crianças para o abrigo subterrâneo em segurança. Em momentos como esse percebe-se a responsabilidade que ela carrega nesse posto. A posição de líder lhe serviu muito bem, um ótimo desfecho para sua jornada.

Válido fazer uma rápida menção honrosa pra Parker Posey, que faz a Dra Smith. Em anos passados se provou uma verdadeira anti-heroína, ou seja, não fazendo algo puramente pelo benefício ou malefício dos outros, mas sim o que lhe convém. O que a torna ainda mais interessante agora é que, depois de quase um ano naquele planeta tropical, sendo a única adulta com todas aquelas crianças, parece que isso a mudou, desde então está diferente: Se importa mais com os Robinsons, principalmente os filhos, reflete mais sobre suas ações passadas, e as consequências que batem à porta. Mesmo que infelizmente não tenhamos visto esse desenvolvimento, essa transição, ela já começou a temporada sendo um ser humano mais decente. Apesar de tudo, seu desfecho foi bem satisfatório, lidando com os dilemas de suas ações em temporadas passadas ao decidir ir para cadeia. No geral foi bem apropriado.

Vale lembrar que a terceira e última temporada, ao contrário das outras que tem 10, aqui tem 8 episódios, cada um variando entre 38 minutos e 1h aproximadamente.

No geral, o final de Perdidos no Espaço é bem agridoce, não fazendo jus a jornada que tivemos esse tempo todo. Acabou deixando a desejar, especialmente porque, na tentativa de resolver algumas questões estabelecidas previamente, acaba gerando ainda mais pontas soltas. O desfecho dos Robinsons, no entanto, foi feliz, e esperado. Em relação a isso fico satisfeito. No modo como todos (juntos) encerraram a jornada. Pessoalmente acredito fortemente que ainda há sim como fazer mais temporadas, é uma série que tem muito o que explorar, ainda mais com a relação pacífica oficialmente estabelecida entre os robôs e humanos, há como abordar mais isso, mas ao que parece esse é o fim. Porém, nunca se sabe.

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