domingo, 2 de julho de 2023

“Que Horas Ela Volta?”

EMANUELE DA ROCHA VENÂNCIO


Com uma narrativa calma e envolvente e fotografia extraordinária, o drama brasileiro que leva qualquer um à reflexão - escrito e dirigido por Anna Muylaert, e protagonizado por Regina Casé - foi eleito um dos cinco melhores filmes estrangeiros do ano pela organização norte-americana National Board of Review em Dezembro de 2015.

Lançado em 2015, Que Horas Ela Volta? evidencia a relação de poder presente na convivência entre a patroa Bárbara, uma mulher branca de classe A , e a empregada doméstica que reside em sua casa, Val, uma mulher nordestina que deixou sua família e viajou a São Paulo em busca de melhores oportunidades de emprego. Ao desenrolar da narrativa, ele também promove a discussão sobre os desafios que envolvem a maternidade, independente de classe.

O título do longa remete a uma pergunta feita pelos filhos de Bárbara e de Val quando eram crianças e suas mães saiam para trabalhar, entretanto em contextos completamente diferentes devido às suas condições sociais. Enquanto Fabinho - filho de Bárbara - perguntava por uma mãe que voltava para casa após o expediente, mas não era presente em sua vida, Jéssica - filha de Val - perguntava por uma mãe que nunca voltaria devido a necessidade da mudança para São Paulo. Caracterizado por ser um filme que aborda temas sensíveis, podemos destacar alguns outros como o assédio sexual, a gravidez na adolescência e o consumo de drogas como subterfúgio por exemplo.

A obra possui um ritmo mais lento, revelando e desenvolvendo os conflitos retratados aos poucos, enquanto a narrativa e o roteiro são bem contínuos. A direção e a atuação dos personagens foram excelentes, resgatando muito bem os elementos do cotidiano brasileiro. A fotografia do longa é bem diferenciada e me cativou logo nas primeiras cenas. Ela explora planos abertos, caracterizados por serem planos de ambientação. Além disso, há um excelente manejo da iluminação para transmitir as sensações que são retratadas em cada cena, mas o que predomina são os tons frios de azul, que estão relacionados diretamente com a sensação do drama do filme.

Em suma, na minha perspectiva Que horas ela volta? trata-se de um filme calmo, porém bem dramático e provocativo, que evidencia a realidade brasileira, contando com personagens cativantes e um final um tanto reconfortante, por insinuar a interrupção no ciclo de exploração trabalhista e abandono afetivo, apesar de não representar o desfecho da maioria da população. Por fim, o longa possui uma produção excelente, desde suas características técnicas até a história retratada em si e é extremamente significativo nas telas brasileiras e estrangeiras, por isso recomendo a todos apreciarem essa verdadeira obra.

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