terça-feira, 12 de novembro de 2019

The Bang-Bang Club

Repórteres de Guerra

Retratos da miséria e violência que marcaram o fim do Apartheid


Gilvanise Oliveira

O filme Repórteres de Guerra, baseado no livro biográfico de autoria de João Silva e Greg Marinovich, “The Bang-Bang Club: Snapshots from a Hidden War”, conta a história real de um grupo composto por quatro jovens fotógrafos, juntando-se aos autores do livro Ken Oosterbroek e Kevin Carter, que tinham como tarefa cobrir os conflitos armados entre o Congresso Nacional Africano (CNA) e o partido separatista zulu Inkatha, que marcaram os últimos anos do Apartheid.

Dirigida por Steven Silver, a obra apresenta o lado sombrio da rotina do fotojornalismo. A busca pela “foto perfeita” alimenta a competição entre os quatro amigos, que não medem esforços para cumprir o que lhes é pedido, e seguem adentrando conflitos, fotografando tudo que veem pela frente. É preciso fotografar de perto a morte, a dor e o sofrimento. Trabalhando para jornais e agências internacionais, Greg, João, Ken e Kevin arriscaram suas vidas para mostrar ao mundo o que estava ocorrendo na África do Sul, em um dos períodos mais violentos de sua história.

Supostamente isentos de medos, os fotógrafos seguiam suas vidas normalmente, mas as memórias de suas coberturas os perseguiam silenciosamente, afinal é inimaginável um ser humano presenciar tantas situações trágicas, pessoas sendo mortas com golpes de facões, queimadas vivas, ou atingidas por disparos de armas de fogo e não absorver nada do que viu e registrou através das lentes de seus equipamentos.

Uma sequência de fotos de um homem identificado com Inkatha, queimado vivo por integrantes do CNA rendeu a Greg o prêmio Pulitzer no ano  de 1990. Kevin Carter recebe o mesmo prêmio, em 1993, com a imagem feita no Sudão, que mostra uma criança subnutrida sondada por um abutre que, aparentemente, aguardava sua morte. Esta imagem ganhou o mundo, mas repercutiu negativamente a imagem do fotógrafo, que ficou sem respostas ao ser questionado publicamente o que havia feito para salvar a criança da foto.

O longa-metragem traz à luz a problemática racial e, sobretudo, a questão da ética no jornalismo e suas nuances. Não se trata de pesar se é mais importante fazer um registro que lhe renda prêmios, ascensão na carreira e status ou salvar uma vida. Em um cenário de guerra é praticamente impossível optar por ajudar as pessoas envolvidas nos confrontos. Mas há situações conflitantes, como o caso que rendeu o prêmio Pulitzer a Kevin Carter. O ponto central é o posicionamento da imprensa diante de situações de extremo caos e a forma como retrata os confrontos. Além da determinação e ousadia  dos profissionais, destaca os impasses e os questionamentos éticos da atuação fotojornalística.

Ken Oosterbroek morreu após ser alvejado pelos soldados da recém-criada Força Nacional de Manutenção da Paz. Na ocasião Greg Marinovich também ficou ferido,  mas sobreviveu. Kevin Carter suicidou-se pouco tempo depois. João Silva estava a trabalho no Afeganistão quando pisou em uma mina e perdeu as duas pernas. Com a morte de Ken e Kevin o Clube Bang-Bang se desfez, mas continua sendo referência em fotografia de guerra e, sobretudo, para a história da fotografia na África do Sul.

“Às vezes nos sentíamos como abutres. Pisamos em cadáveres, metafórica e literalmente, e fizemos disso nosso ganha-pão. Mas nunca matamos ninguém. Acredito que salvamos algumas vidas. E talvez nossas fotos tenham feito alguma diferença”, conclui Greg Marinovich.

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