quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Luna Nera


A luta pelo direito de existir que perpassa o tempo

Francisca Pires 

Muitas são as questões que envolvem o que é ser uma mulher socialmente. Desde a culpa carregada por Eva pela expulsão do paraíso até a estigmatizada violência com que agia Medusa segundo a mitologia grega. Escrita e produzida apenas por mulheres (Francesca Manieri, Laura Paolucci e Tiziana Triana), a websérie italiana Luna Nera propõe uma viagem à Itália do século XVII para retratar a perseguição de gênero que culmina sempre no mesmo lugar: a condenação. Seu lançamento na Netflix foi em 31 de janeiro de 2020. 

A história gira em torno da parteira Ade, uma adolescente que ao perder sua avó para os caçadores de bruxas, descobre seu pertencimento a uma família repleta de segredos e magia. Sua investigação sobre suas origens e poderes se desenrola em paralelo a função de cuidar do seu irmãozinho e do seu amor pelo jovem Pietro. Este por sua vez, é filho de um dos capitães da operação de perseguição das bruxas. O amor de Pietro que parecia ser tão grande, parece não ser suficiente diante das questões familiares e religiosas que ele precisaria enfrentar para ficar com Ade. No fim, ele não as enfrenta. Ela não tem escolha. 

A série nada mais é do que um recorte, histórico e pontual, de uma luta que sempre existiu e seguirá existindo. O poder do feminino, a conexão com a natureza, a violência da igreja e o machismo são temas fortemente discutidos, alguns de forma indireta, outros de forma mais clara. Para muitos a série pode representar uma visão romantizada de uma luta feminista construída a partir da luta homens x mulheres. O inimigo na verdade, ainda que materializada no rosto de um homem religioso Benandanti, é a opressão. A negada liberdade de ser, existir e ocupar espaços sem cumprir os arquétipos determinados por homens e para os homens.

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