quinta-feira, 19 de novembro de 2020

TRUE DETECTIVE

 

ESPINHOS ENTRELAÇADOS LENTAMENTE EM RITUAIS LÚGEBRES

Richardson Eduardo Nunes Costa

Em formato de recap, esse breve texto sobre True Detective começa resgatando as informações já redigidas no texto passado sobre como o criador da série, Nic Pizzolato, gostaria de evocar a aura das histórias policiais, tão consolidadas e batidas na televisão, mas buscando uma visão mais intimista. Dando não apenas espaço a uma investigação de tirar o fôlego. Mas, deslizando suavemente em vidas inclinadas e retorcidas pelo espírito maligno que rodeia o mundo dos crimes cruéis e da própria grande interrogação da existência como um todo.

E quando essa mensagem é derramada em doses recheadas de odes filosóficas ocultas e nada positivistas, cabe ao espectador reunir seus conjuntos mais catárticos e espalhar a palavra do programa da HBO. Por exemplo, o temor do vazio cósmico exagerado que faz do ser humano um ser ignorante ao ponto de criar cultos mortais e horrendos. Ou quando o detetive Rus Cohle sopra fumaça pela janela do carro em movimento e remói seus pensamentos a outro personagem que claramente é responsável por nos carregar e ser nosso porta-voz, sempre surpreso e meio relutante de ouvir mais. 

Ou ainda, ser introduzido ao conceito da psicosfera, tão presente e nada sutil no seriado. Sem entrar em muitos detalhes, até para não distribuir spoilers, há a sensação de que uma praga mortal e invisível estivesse contaminando. Criando tumores morféticos. Impregnando cada vez mais não apenas nossos personagens principais, mas todos que residem naquele território opaco. Onde os campos verdes crescem em terrenos áridos sem conseguir colorir o quadro de ninguém. 

São algumas das facetas de interpretação que podem surgir ao consumir o show de oito episódios produzido em 2014. Para fechar, mesmo com muitos direcionamentos nada convencionais e de entregas que podem desagradar o espectador que espera por algo mais previsível, é possível enquadrar True Detective na estrutura narrativa do inconsciente profundo, dentro do quadrado de Actantes. Sendo os detetives os sujeitos atrás do objeto de valor (a resolução do crime), contando apenas com a ajuda da motivação de continuar perseguindo o mal. Mas, vendo tudo a sua volta pressionando-os para que parem. Para que desistam. Para que não vejam a última luz tocar aquela rocha escondida. 

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