ANNA BEATRIZ FLOR
Já imaginou o filme da Cinderela sendo contada do ponto de vista de uma das meia irmãs? No filme The ugly stepsister, somos reapresentados a história clássica da Cinderela contada do ponto de vista de Elvira, tradicionalmente retratada como vilã, mas que ganha voz e profundidade. Ao invés de ser apenas invejosa e cruel, ela é apresentada como uma jovem insegura, negligenciada e muitas vezes ridicularizada por sua aparência e status. Ao longo do filme, acompanhamos a jornada de transformação da personagem para que ela possa alcançar um objetivo que não é só dela, mas de muitas outras mulheres: casar com o príncipe Julian.
Engolindo larvas de tênia para emagrecer, quebrando o próprio nariz e mutilando o próprio corpo, tudo isso parece supérfluo e necessário para ganhar o coração – e o dinheiro – de Julian. Influenciada inclusive pela própria mãe a abrir mão de toda sua identidade, todo o esforço parece ter valido a pena quando o príncipe, na noite do baile, a nota e a enxerga como bela. Mas por muito pouco tempo. Assim que outra mulher mais bonita aparece, Elvira perde seu lugar e é rechaçada por Julian em questão de minutos.
Completamente frustrada e abandonada, Elvira comete mais e mais loucuras para que o príncipe a escolha como parceira. Assim como nos outros contos de Cinderela, nenhum esforço é suficiente. Todos nós já sabemos o fim da história. O que The ugly stepsister nos mostra e critica é o fato de que a obsessão pelo amor romântico, a submissão e a falta de independência funcionam como prisões para mulheres e nos leva, muitas das vezes, a cometer atos que homem nenhum realizaria. Menos ainda por uma mulher.
No final de tudo, quem cuidou e salvou Elvira, quando o baile já tinha terminado e o casamento da Cinderela com o príncipe ter sido anunciado, foi sua irmã. Assim como na realidade material, em inúmeros momentos de nossas vidas quem nos salva e ajuda também são outras mulheres e as relações que estabelecemos com elas. O que o filme nos mostra de forma bastante clara é que, no fim, o amor de mulheres umas pelas outras é mais do que uma questão de afetos. É revolução.
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