Sarah Lorena Cruz Fernandes
Dirigido por Yorgos Lanthimos e protagonizado por Emma Stone, a história de Pobres Criaturas gira em torno de Bella Baxter, uma mulher adulta com o cérebro implantado de um bebê. A narrativa segue uma jornada de emancipação, na qual Bella passa da inocência à autonomia, confrontando normas sociais da Era Vitoriana.
A construção visual do longa é um espetáculo à parte, com cenários surreais, figurinos exuberantes e a fotografia que alterna entre o preto e branco e o colorido vibrante para marcar os ciclos da personagem. À medida que Bella percorre diferentes cidades da Europa, seu crescimento é refletido tanto no campo social quanto intelectual. O caminho que percorre compõe um processo de autoconhecimento e libertação — desde a vontade de explorar o mundo, passando pela descoberta da própria sexualidade e pela busca por expandir seus conhecimentos por meio da leitura e da educação até ao descobrimento do seu passado.
Contudo, embora o filme aparente propor uma crítica ao sistema de dominação patriarcal e apresente elementos transgressores, há momentos em que tal intenção parece contraditória. Isso pode ser percebido no período em que a personagem principal passa a trabalhar em um bordel. Ao situar a prostituição como somente um estágio para alcançar a independência financeira de Bella, o filme carece em contextualizar os impactos sociais, políticos e históricos que atravessam essa atividade, especialmente sob a ótica das desigualdades de gênero e classe, reduzindo-a a uma alegoria liberal idealizada da liberdade feminina.
Ainda assim, Pobres Criaturas é uma obra provocativa, que desafia o espectador pela sua linguagem subversiva, experiência estética e protagonista cativante. Com atuações audaciosas e memoráveis, o filme apresenta um conto cômico de ficção científica e empoderamento e oferece uma metáfora sobre uma trajetória de amadurecimento e construção do “Eu”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário