segunda-feira, 19 de junho de 2023

Através do Aranhaverso

 


Homem Aranha através do Aranhaverso

FRANKLIM MATEUS MENDONÇA BARBOSA

Excelente. Encantador. Deslumbrante. Comovente. Frenético. Acima de tudo: uma obra de amor aos fãs. Essas são algumas das formas que posso definir o que é a experiência de assistir esse segundo capítulo do que parece se consolidar como a melhor trilogia de filmes de herói já feita. Homem Aranha: Através do Aranhaverso é um exemplar de filme baseado em HQ, ou melhor, é o filme que melhor trabalhou os elementos das HQs no cinema, isso é indiscutível. Nenhum filme, nem mesmo seu antecessor, uniu tão bem as linguagens do cinema e dos quadrinhos. Para fãs de longa data é um deleite. Para o grande público, um espetáculo sem igual. É, sem sombra de dúvidas, a melhor animação de 2023.

Através do Aranhaverso se inicia cerca de um ano após o seu antecessor e divide seu foco principalmente entre dois cabeças de teia: Miles Morales e Gwen Stacy (Aranha Fantasma). Enquanto Miles tenta equilibrar sua vida de Homem Aranha com as suas obrigações familiares e escolares, Gwen se torna integrante de uma super equipe de Aranhas que tem como objetivo proteger os milhares de universos. Quando uma de suas missões a leva até o universo de Miles, o encontro dos dois desencadeia uma serie de problemas de níveis multiversais, os levando aos confins do Aranhaverso, e ao limiar do que significa ser um Homem Aranha.

Um dos maiores triunfos do filme são seu roteiro e sua progressão narrativa. Uma vez que tinha em suas mãos uma das maiores minas de fanservice já vistas na história (mais de 200 homens aranhas confirmados no filme), Através do Aranhaverso podia muito bem se sustentar nisso e entregar uma história qualquer coisa, alicerçada apenas nas múltiplas pessoas aranhas do filme. Mas para felicidade geral da nação, quase que a primeira metade inteira do filme é focada apenas na dupla de protagonistas e nos seus dramas pessoais. Tanto as questões psicológicas quanto os perigos físicos que os circundam são muito bem apresentados e imergem o público de forma magistral. Não existe aqui pressa para entupir a tela de cabeças de teia. Tudo ocorre no seu tempo em prol de um bom desenvolvimento para os protagonistas. Uma vez que estão suficientemente desenvolvidos, aí sim que somos jogados na viagem “atráves do aranhaverso”. Viagem essa que seria impossível de ser feita de forma tão magistral se não fosse em um filme animado.

Contando com a presença de variadas técnicas de animação, que vão de texturas de aquarela à stop-motion usando peças de lego, temos aqui o maior espetáculo cinematográfico do ano. Digo isso com tranquilidade por saber que o esmero e empenho da equipe artística aqui foi fora do comum. Eu nunca me senti tanto dentro de um filme quanto com esse. Muito disso se dá pela excelente condução que o filme tem - executada de forma brilhante pela direção tripla de Joaquim Dos SantosKemp PowersJustin Thompson – de forma que mesmo em meio ao caos (controlado) dos muitos estilos artísticos vistos em tela, conseguimos nos manter focados na trama e discernindo o que ocorre em tela; mas mais ainda se dá pelas dúzias de artistas que deram vida a esse universo tão amplo. Cada variação nos cabeças de teia é fundamental para que imerjamos tanto no físico quanto no psicológico dos personagens. Seus diferentes traçados não apenas os diferenciam, mas nos ensinam mais inclusive sobre o mundo em que vivem. Fazem com que cada aranha seja única. E isso é apenas a superfície, uma vez que a animação dos cenários está tão caprichada quanto a dos personagens, contando com mudanças bruscas de técnicas de animação para os diferenciar bem e os fazer igualmente únicos e memoráveis ao fim da sessão (adoraria visitar a Índia descolada e morreria de medo de pisar em 2099).

Infelizmente nem tudo são flores na vida e até uma obra fantástica como essa tem alguns deslizes. Apesar de não ter sentido dificuldades para acompanhar o fluxo narrativo, não posso dizer o mesmo para as sequências de luta, que talvez por contar com a presença de muitos estilos de animação que influenciavam a taxa de quadros do filme (famosos FPS), não conseguiu ser tão fluida e coesa quanto no primeiro filme, o que não faz dos combates do filme ruins, apenas um tanto quando difíceis de acompanhar em sua totalidade. Outro ponto do filme é o seu final “aberto”. Miles e Gwen evoluem e resolvem suas questões internas muito bem ao longo do filme, o que deixa nítido que as questões globais do filme realmente ficariam para um próximo longa e aqui teríamos um fim de jornada interna dos protagonistas, no entanto, jogar na tela um gélido “continua” antes dos créditos subirem me soou um tanto quanto covarde por parte da produção. Talvez seja algo que apenas me abalou por estar demasiado imerso, mas me recuso a acreditar que a equipe que desenvolveu tão bem toda a narrativa do filme não conseguiu pensar em um final mais redondo para ele. É doloroso, mas fazer o que.

No fim das contas, esses dois pontos negativos não tiram nem 0,1% do brilho estonteante de Através do Aranhaverso, filme que ficará lembrada por muito tempo, não só nas mentes dos fãs de carteirinha, como também nas dos críticos mais ávidos. Uma animação histórica. Um espetáculo sem igual. Um clássico imediato. Faça o que for, mas veja esse filme no cinema!

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