quinta-feira, 22 de junho de 2023

São Bernardo

Um clássico sobre um clássico
 

 TIAGO HENRIQUE SALES


São Bernardo é um filme brasileiro dirigido por Leon Hirszman e baseado na obra literária homônima de Graciliano Ramos. Lançado em 1972, o filme é uma adaptação fiel e contundente do romance, trazendo para as telas a história de Paulo Honório, interpretado de forma brilhante por Othon Bastos.

A trama se desenrola através da sua própria narração, desde os primeiros passos de sua escalada agressiva como visionário empreendedor, bem próximo de um regime feudal, até se tornar o marido frustrado da jovem professora, Madalena (Isabel

Ribeiro), que, através das suas ideais progressistas, se choca com a forma exploradora que Honório trata os seus empregados, além disso, pelo que me pareceu, o fazendeiro se casa com um objetivo e necessidade de produzir um herdeiro.

O filme retrata de maneira bastante realista a realidade social e econômica do Brasil no período em que se passa. Através do protagonista, São Bernardo aborda questões como a concentração de terras, as relações de poder e a exploração do trabalho.

Othon Bastos entrega uma atuação intensa, capturando perfeitamente a essência do personagem de Graciliano Ramos. Sua interpretação é marcada pela força e pela brutalidade de Paulo Honório, mas também consegue transmitir momentos de vulnerabilidade e angústia. A obra também aborda a relação entre poder e submissão, mostrando como a busca desenfreada por controle pode corroer o caráter e os valores de uma pessoa.

A direção de Leon Hirszman é habilidosa ao transpor a narrativa literária para a linguagem cinematográfica. O uso de flashbacks e a montagem precisa contribuem para a construção da história e o desenvolvimento dos personagens. A fotografia, com sua paleta de cores áridas e a atmosfera áspera, complementa a ambientação áspera e opressiva da trama.

No entanto, vale ressaltar que o filme pode não agradar a todos os públicos. Sua narrativa lenta e contemplativa, aliada à atmosfera densa e melancólica, pode afastar aqueles que buscam uma experiência mais dinâmica ou escapista. Além disso, alguns aspectos técnicos, como a qualidade do som e a direção de arte, podem parecer datados para os espectadores acostumados às produções mais recentes.

Em resumo, São Bernardo é uma obra que equilibra a literatura e o audiovisual, além de ser um filme denso e complexo, que pode não agradar a todos os espectadores, mas que certamente deixa uma marca duradoura em quem o assiste. A atuação brilhante de Othon Bastos e a direção segura de Hirszman fazem deste um clássico do cinema brasileiro, capaz de provocar reflexões profundas sobre a natureza humana e sobre a sociedade em que vivemos.

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