Mateus Biston Braga
O Cinema Novo, como um movimento cinematográfico de destaque no contexto brasileiro, representou uma ruptura significativa em relação às produções anteriores. O documentário intitulado "Cinema Novo", dirigido por Eryk Rocha, busca transmitir essa essência através dos próprios filmes que o compõem.
A narrativa do documentário é cuidadosamente construída, iniciando e terminando com a mesma sequência icônica do filme "Deus e o Diabo na Terra do Sol", do diretor baiano Glauber Rocha. Por meio da habilidosa edição realizada por Renato Vallone, cenas de diversos filmes do período são intercaladas de forma a criar uma coerência estética e narrativa notáveis. Eryk Rocha segue uma abordagem similar à de Marcelo Masagão, outro renomado diretor brasileiro, ao contar a história do Cinema Novo a partir da perspectiva dos próprios cineastas que o tornaram possível.
O que impressiona em "Cinema Novo" é a coesão da narrativa e o contínuo interesse que ela desperta. Mesmo sem conhecimento prévio dos filmes selecionados, o público consegue apreciar o documentário. A cada nova cena, a compreensão da proposta do movimento em retratar a vida de forma autêntica, abandonando os estúdios e retratando as camadas populares anteriormente negligenciadas, se aprofunda. Dessa forma, o documentário também acerta em despertar a curiosidade de novos públicos a conhecerem um filmes usados na na montagem.
Ao dar voz aos diretores por meio de material de arquivo valioso, "Cinema Novo" permite que o público perceba a vitalidade e os questionamentos levantados por esses artistas, alguns dos quais ainda relevantes nos dias de hoje. O documentário também explora a decadência do movimento após o golpe militar, que é ironicamente ilustrada pela seleção de filmes brasileiros em festivais internacionais no mesmo ano do golpe. O boicote interno promovido pelo governo contribuiu para fragmentar e dificultar o trabalho do grupo unido e engajado de cineastas, levando ao declínio do Cinema Novo.
Por todas essas razões, "Cinema Novo" é uma obra magnífica que não apenas explica o movimento, mas também o traz à vida. O uso das cenas dos filmes e das entrevistas históricas proporciona uma riqueza impressionante, tanto em termos técnicos quanto na representação da realidade. O documentário adota uma abordagem sensível, contudo, profunda ao mesmo tempo, de modo a contemplar de forma digna a grandiosidade do Cinema Novo para a cultura brasileira.
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