quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

O palhaço


 O palhaço, de Selton Mello


Eliel Hebertt


Lançado em 2011, “O palhaço” é um longa-metragem nacional dirigido e estrelado por Selton Mello. A narrativa da história nos mostra um grupo de circo, um daqueles clássicos - com malabaristas, músicos, palhaços, atrizes - que vivem viajando e se estabelecendo nos interiores do estado de Minas Gerais. E se de um lado vemos toda a comédia e magia do circo, do outro vemos a dor, o existencialismo, a paixão, a dúvida, a vida - instável, como ela é. O nosso protagonista, o palhaço Benja, nos mostra uma faceta peculiar que se contrasta com a alegria dos tablados de apresentações de comédia. A narrativa do longa nos faz mergulhar em uma sensação de desespero, de inadequação e de crise de identidade, e todos aspectos técnicos da obra intensificam essa sensação.

A fotografia pálida, sem vida, nos mostra o cotidiano de uma forma cinematográfica, porém totalmente tangível e realista. A direção do filme traz o melhor dos atores/atrizes para as telas do cinema, nos carregando de todos os sentimentos que nas cenas ocorrem. O som e a trilha sonora trazem pausas dramáticas para a apreciação da atuação do filme, nos colocando imersos em um mundo sonoro de tristezas e alegrias. A montagem e ritmo do filme, no entanto, são arrastados, o que pode trazer insatisfação aos espectadores que preferem filmes mais rápidos e ritmados - o que não foi prejudicial nas minhas experiências com o filme, pelo contrário, acredito que o ritmo traz uma melancolia e monotonia que são necessários para uma misancene nostálgica.

Mas o ponto alto do filme está no roteiro. Da forma de como a história é contada e de como o arco do personagem principal é desenvolvido. O sentimento e sucesso do roteiro filosófico é acentuado pela atuação fidedigna de Selton Mello, que nos mostra a dualidade da alegria e da tristeza, da euforia ao recorte intimista de um adulto comum que não vê mais sentido algum no que faz.

As histórias secundárias são o que nos trazem o alívio cômico em certos momentos, os músicos que mentem pelo adiantamento do dinheiro, o homem que gosta de pular a cerca e acaba colocando todo mundo em uma delegacia, a circense que desvia dinheiro do dono, o filho do prefeito que se apresenta pela primeira vez no circo e erra a fala. Todas essas histórias secundárias geram o ar cômico que é oposto do arco do personagem principal.

“O palhaço” é o segundo longa-metragem do ator e diretor Selton Mello, que chegou a ser escolhido para concorrer a 85º edição do Oscar, porém, o longa não conseguiu trazer esse feito ao Brasil. No entanto, o filme é premiado no Brasil à fora e está dentre os 100 melhores filmes segundo a Abraccine (Associação Brasileira de Críticos do Cinema).

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