quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Pulp Fiction

 


Eduardo Medeiros Gurgel de Faria


"Pulp Fiction", dirigido por Quentin Tarantino, é frequentemente elogiado por sua originalidade e inovação cinematográfica. No entanto, o que pode ser considerado como uma obra prima para alguns, pode não ser recebido com olhos tão apaixonantes assim por outros. “Pulp Fiction” tem uma falha grave que é uma das piores que um filme pode apresentar: a película tem um vazio imenso de significado.

Pulp Fiction conta com uma narrativa não linear inovadora que realmente é um de seus pontos fortes, mas, mesmo com esse quebra-cabeça narrativo admirável, a superlotação embaralhada de cenas mais atrapalha do que ajuda no desenvolvimento da trama. Essa obra audiovisual consiste basicamente em histórias cruas lançadas e organizadas seguindo uma sequência lógica a qual não parece ter nenhum elemento interessante responsável por uni-las. Na verdade, há sim um elemento, a violência, e essa violência se expressa potencialmente na obra de três formas: verbal, física e sexual.

Porém, a violência é um elo fraco do filme. Não que ela não se manifeste bem, muito pelo contrário, ela se manifesta até demais; e é justamente por isso que é um elo fraco; ela acaba se tornando apelativa e empobrece o filme ao invés de enriquecê-lo. A não ser que você seja o tipo de pessoa que goste de ver cenas macabras e sanguinárias e episódios pesados de muito sangue e guerra pelo puro prazer de vê-los, esse filme não irá te acrescentar nada de novo. Eu não tenho absolutamente nenhum problema com filmes violentos, até gosto, mas esse tema deve ser bem trabalhado na proposta para que valha a pena ter dependido tempo em visualizá-lo. Inclusive posso citar aqui filmes violentos os quais acho fantásticos e que dialogam coesamente com essa temática: “Tropa de Elite” e “Clube da Luta”.

A primeira vez que assisti ao Pulp Fiction pensei “qual a mensagem que esse filme me passou?” e cheguei à conclusão de que não havia me passado nenhuma. E isso realmente pode não ser um problema para um telespectador específico, mas para outros (como a mim por exemplo) pode ser. Quando assisti novamente obtive a seguinte mensagem: “o que uma arma apontada para a sua cabeça não é capaz de fazer”, todavia, acredito que essa mensagem foi mais mérito da minha criatividade do que da comunicação fílmica da obra em sim e talvez nem tenha sido exatamente o que o Tarantino quis comunicar ali.

Não tenho nada contra entretenimento por entretenimento, até gosto, mas quando se trata de temas tão sensíveis quanto a violência, acho que precisamos ter cautela e designar um objetivo claro do porquê estamos mostrando aquilo e o que queremos passar para quem está nos assistindo, porque se for só para testemunhar crueldade pura é preferível assistir ao noticiário local.

Também não tenho nada contra as cenas que não acrescentam em nada para a história principal, acho que, dependendo de como forem feitas, elas ajudam até a suavizar a narrativa e desopilar quem está assistindo. Porém, quando a quantidade dessas cenas é tanta que preenchem quase a totalidade da trama - aí sim vira um problema. Quase todas as cenas de Pulp Fiction são altamente descartáveis, embora que muito bem filmadas e dirigidas. Se o intuito do longa metragem era mostrar o poder de mise-en-scène do diretor, então ele cumpre seu papel e eu me calo, contudo, no quesito história, que é o mais importante para mim e para tantos outros, ele peca e muito.

Em resumo, enquanto "Pulp Fiction" é elogiado por muitos como um marco na história do cinema, seu apelo excessivo pela violência tanto física, quanto verbal e sexual e ainda a falta de uma mensagem central clara podem ser pontos de crítica para aqueles que preferem uma abordagem mais convencional e coesa no cinema. Se cada parte desse filme fosse uma obra curta isolada, elas receberiam isoladamente nota 10, mas quando se juntam e formam o longa por completo, não conseguem a coesão necessária e suas autossuficiências caem por terra quando unidas no que chamamos de Pulp Fiction.


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