segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

METROPOLIS (1927)


 JOSE LUAN ALVES DA COSTA 


 O filme Metropolis, lançado em 1927, é uma obra-prima do cinema mudo dirigida por Fritz Lang. É considerado um dos primeiros grandes filmes de ficção científica e um marco na história do cinema por sua estética inovadora, narrativa simbólica e crítica social. Metropolis foi originalmente exibido com cerca de 2 horas e 30 minutos, mas cópias foram editadas e cenas foram perdidas ao longo do tempo. Em 2008, foi encontrada uma cópia quase completa em Buenos Aires, permitindo uma restauração significativa em 2010. O filme continua sendo estudado e celebrado como uma das obras mais influentes da história do cinema. Em 2001, foi o primeiro filme a ser incluído no registro da UNESCO "Memória do Mundo". 

O protagonista, Freder, filho do governante da cidade, descobre as condições desumanas dos trabalhadores e se junta a Maria, uma líder espiritual que defende a união entre as classes. A história também envolve um robô (uma das primeiras representações de inteligência artificial no cinema) e explora temas como desigualdade, luta de classes e o perigo da industrialização descontrolada. 

Metropolis é mais do que um filme; é um marco cultural e um exemplo da força do cinema como meio artístico e político. Seus visuais atemporais e sua narrativa universal tornam esta obra essencial para qualquer amante da sétima arte. A mensagem final – que "o mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração" – continua sendo um poderoso apelo por empatia e cooperação em tempos de divisão.

DE VOLTA AOS 15

Uma jornada de reencontros e recomeços 

 KAYLLANI AUGUSTA LIMA DA SILVA 


Já imaginou reviver as descobertas da adolescência, os momentos de diversão junto aos amigos e poder abraçar novamente alguém especial que partiu? Embora a vida real nos permita acessar memórias, seja a partir de fotos, cheiros, ou lugares, somente na ficção a viagem no tempo se torna real. É com base nesse elemento ficcional que a série “De volta aos Quinze” tem seu ponto de partida para contar a história de Anita. 

No enredo, inspirado no livro de mesmo nome escrito pela Bruna Vieira, a jovem é apresentada ao leitor na fase adulta. Aos 30 anos, mora em um apartamento distante da família, coleciona algumas frustrações, mantém apego com o passado e parece não conseguir olhar para a frente. 

No entanto, tudo muda quando Anita consegue voltar aos 15 anos. Mais do que a sensação de nostalgia, a jornada da protagonista revela a importância de reencontrarmos nossos sonhos e não esquecermos da nossa identidade. Além disso, a série questiona as consequências das nossas escolhas e expõe a importância de valorizar o presente como uma nova chance para recomeçar. 

Em termos de ambientação, De volta aos Quinze pode ser um verdadeiro afago para os saudosos pelo início dos anos 2000 no Brasil. Isso porque Anita vivencia os 15 anos em 2006, na cidade fictícia de Imperatriz. Nesse panorama, a série abre espaço para uma trilha sonora composta por artistas como Charlie Brown Jr, Pitty e Skank. 

Os personagens secundários, ainda, exercem um papel central na narrativa. Isso porque todos apresentam conflitos e características capazes de gerar identificação com o telespectador, além de terem tanto seus pontos positivos quanto negativos bem trabalhados na série.

domingo, 19 de janeiro de 2025

Alien: Romulus

 Vinicius Augusto Toscano de Moura

 

Alien: Romulus”,  de Fede Álvarez, é mais um novo projeto da nova franquia Alien que tenta trazer os clímax de medos de uma das criaturas mais famosas do cinema, o filme se passa entre “Alien” (1979) e entre “Aliens: O Resgate” (1986) . O filme segue Rain Carradine (Cailee Spaeny) e um grupo de jovens que invadem uma estação espacial abandonada na busca de recursos para poderem fazer uma longa viagem pelo cosmos, porém ao entrarem na nave, a aventura se revela cheia de horrores não esperados.

Com passagens do Diretor em filmes como “A Morte do Demônio” (2013) e “O Homem nas Trevas” (2016) em mente, o diretor imprime sua assinatura com terror angustiante e ação memorável. Minuciosamente se notam aos efeitos práticos e atuais que criam criaturas e cenas na atmosfera dos primeiros “Alien”.

As atuações são exemplares, com Spaeny representando em sua heroína indecisa e Jonsson como o androide Andy. A relação entre Rain e Andy aproximam ao ponto dramático de emoção ao ceder temas de humanidade e tecnologia entre os personagens.

No geral, o filme em sua essência corre o risco de homenagear demais e trazendo apenas mais do mesmo. “Alien: Romulus” segue só rebuscando fórmula, sem estrear a mitologia de sua franquia com uma originalidade alguma. Talvez a única coisa original no filme seja a cena final que trás uma criatura completamente nova e desfigurada. No entanto, o produto ainda consegue tornar a expectativa de medos e adrenalina em um público que se ansiosamente procura nostalgia.

Existe também outro erro perceptível no filme para quem conhece a obra de filmes anteriores, tanto a nave principal onde se passa o filme como também o androide Ash haviam sido destruídos no primeiro filme da franquia, mas o roteiro do filme simplesmente decidiu que isso não aconteceu, um erro de continuidade bem nítido para os fãs da obra.

No geral, "Alien: Romulus" oferece uma experiência cinematográfica envolvente, com atmosfera densa e sequências bem conduzidas de terror e ação. Contudo, o erro de continuidade e a falta de inovação podem impedir que alcance o status dos filmes mais icônicos da franquia. Para os fãs em busca de nostalgia e adrenalina, ainda é uma jornada interessante, mas para os que esperavam um salto criativo, pode ser um tanto decepcionante.

Coisa Mais Linda


Letícia Meira 

A Coisa Mais Linda é uma série nacional que merece ser destacada não apenas por sua qualidade técnica e narrativa, mas pelo impacto que causa ao trazer temas profundamente conectados ao universo feminino. Com uma abordagem feita por mulheres e para mulheres, a série mergulha em situações que muitas de nós vivenciamos ou reconhecemos, promovendo reflexões sobre empoderamento e sororidade. 

Ambientada no Brasil dos anos 1950 e 1960, a trama acompanha a jornada de Malu (Maria Casadevall), uma mulher que, ao enfrentar traições e desafios pessoais, encontra forças para construir seu próprio caminho no mundo da música. Ao lado de outras personagens femininas igualmente fortes e inspiradoras, a série discute temas como independência financeira, machismo estrutural e os dilemas de equilibrar sonhos pessoais com as exigências da sociedade. 

Um dos destaques é a perspectiva da jornalista Adélia, que enfrenta preconceitos na mídia enquanto luta para fazer sua voz ser ouvida. Essa camada da série não apenas enriquece a narrativa, mas também nos faz refletir sobre o papel das mulheres em espaços historicamente dominados por homens. 

Além de proporcionar lições valiosas, Coisa Mais Linda é uma celebração da força feminina e um lembrete poderoso de que podemos (e devemos) lutar pelos nossos sonhos. É uma produção envolvente, emocionante e inspiradora, que ressoa com as lutas e conquistas de cada espectadora.

sábado, 18 de janeiro de 2025

Bacurau

 

Letícia Meira 


Bacurau é um filme nacional que transcende gêneros, dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, o longa conta a história de um pequeno povoado no sertão brasileiro que, após a morte de uma de suas moradoras mais queridas, começa a perceber estranhos acontecimentos e se vê ameaçado por forças externas. 

O que me encanta em Bacurau é como ele representa o Brasil real, o Brasil profundo e tantas vezes esquecido. É um retrato visceral do povo marginalizado, que resiste às opressões e enganos com força e união. A narrativa é repleta de metáforas que escancaram problemas históricos, como desigualdade social, violência e a exploração de terras e pessoas, mas tudo isso é mostrado, sem perder a carga emocional e simbólica. 

O filme é um marco porque consegue capturar a essência do Nordeste, desde o sotaque, as expressões, até as manias tão características do povo sertanejo. A cultura nordestina está viva em cada cena, seja no modo de falar ou nas relações entre os personagens. É impossível não se sentir dentro daquela comunidade, compartilhando os medos e as lutas de seus moradores. 

Além disso, Bacurau questiona quem são os verdadeiros "vilões" da história, refletindo sobre colonialismo, poder e resistência. É um filme que conversa com o Brasil de hoje e de sempre, nos fazendo enxergar que mesmo diante do descaso e da opressão, há força na coletividade.

Bones


  DARA HELENA DA SILVA RIBEIRO 


 Bones (2005–2017) é uma série policial criada por Hart Hanson, baseada nos livros da antropóloga forense Kathy Reichs. A trama acompanha a brilhante Dra. Temperance "Bones" Brennan (Emily Deschanel), uma antropóloga que trabalha no Jeffersonian Institute, e o agente especial do FBI Seeley Booth (David Boreanaz), enquanto eles solucionam crimes ao examinar restos mortais. Combinando ciência forense, mistério e uma boa dose de humor, a série se destacou por equilibrar investigações intrigantes com o desenvolvimento pessoal e relacional de seus personagens. 

O ponto alto de Bones é a dinâmica entre Brennan e Booth. Enquanto ela é extremamente racional e lógica, ele traz uma abordagem mais intuitiva e emocional, criando um contraste cativante que alimenta tanto os casos quanto a crescente química romântica entre os dois. Além disso, a série conta com uma equipe de coadjuvantes bem construída, cada um com suas próprias peculiaridades e arcos narrativos. 

Pessoalmente, assistir Bones foi uma experiência que misturou diversão e reflexão. É fácil se sentir cativado pela evolução de Brennan, que aos poucos aprende a equilibrar sua genialidade lógica com a vulnerabilidade emocional. A relação dela com Booth traz momentos de riso e lágrimas, enquanto os casos desafiadores sempre mantêm o espectador curioso. Foi uma série que me fez refletir sobre como o trabalho, as relações e até mesmo os desafios diários moldam quem somos. 

Ao longo de suas 12 temporadas, Bones soube equilibrar a ciência com as emoções humanas, abordando temas que iam além dos casos da semana. A série não se limitava a apresentar soluções científicas impressionantes, mas também explorava o impacto psicológico do trabalho dos personagens, especialmente em Brennan, cuja dificuldade em se conectar emocionalmente contrastava com a sensibilidade de Booth. Além disso, a narrativa destacava os dilemas éticos e morais da ciência forense, tornando cada episódio mais significativo do que uma simples investigação criminal. Embora a série tenha suas flutuações ao longo das 12 temporadas, ela se mantém consistente ao explorar a interação entre a ciência e a humanidade, questionando como a lógica e as emoções coexistem na busca pela verdade.

O Menu (2022)

 


Thiago Lobato

 

Atualmente vivenciamos a era digital. Com os avanços da tecnologia as entidades - públicas e privadas - tendem a acompanhar essas evoluções.

Partindo desse pensamento, passamos a cada vez mais buscarmos experiências novas. Queremos sensações não sentidas antes, prazeres. A busca é quase incessante e Mark Mylod (diretor do filme O Menu) sabe bem disso. Na sua direção, pois no filme suspense, terror e comédia ácida.

Dois jovens junto a um grupo entram em um barco a caminho de uma ilha remota para vivenciarem uma experiência gastronômica. Na ilha se encontra o restaurante conceitual e disruptivo do chefe Slowik. O menu conta com pratos únicos e especiais, alguns dos ingredientes usados são sonhos, segredos, ódio e vingança.

O filme além de fazer críticas sociais a nossa sociedade hipócrita, apresenta como empresas, especificamente restaurantes, podem enriquecer os cardápios de suas casas. Eu já estou cansado de estabelecimentos oferecendo mais do mesmo. Mas apenas um bom cardápio não enche casa, precisa conhecer o cliente, se possível os segredos dele, fidelizá-los e o principal, oferecer experiências jamais vividas em outros restaurantes. Afinal, é pelas sensações, desejos e prazeres que estamos vivendo.

THE WIRE

 


EDUARDO WERDESHEIM


Uma série que mais parece um estudo social da cidade de Baltimore interpretado na televisão, “The Wire” definitivamente não obedece aos padrões tradicionais dos seriados americanos e de outras partes do mundo. O combate entre as forças de segurança e o crime é sempre retratado, mas não apenas no nível das ruas. A série mostra como o mundo do crime não se resume às esquinas de boca de fumo, mas está entranhado em diversas instituições públicas e privadas.

Do consumidor de crack sem-teto ao político que cheira cocaína para se manter ativo durante o período de campanha eleitoral, todas essas camadas sociais são retratadas. A série aborda desde as atividades no porto, mostrando como as drogas entram na cidade, até a mídia, que também detém o poder de decidir o que realmente repercute entre a população. Todas essas entidades são grandes responsáveis pelo ciclo vicioso em que a população está presa.

Uma das temporadas mais impactantes, a quarta, foca na educação e em como ela pode ser uma ferramenta transformadora, mas que também pode excluir aqueles que não são acolhidos na infância, devido à fragilidade que um jovem enfrenta em um ambiente altamente hostil. A crítica facilmente percebida é que, por mais que muitos recursos sejam direcionados ao combate ao tráfico, a maneira como isso é feito, com violência e sem buscar realmente a fonte do problema, nada mais gera do que mais revolta e marginalização da população que vive em bairros de baixa renda e dominados pelo crime.

O criador, David Simon, cria narrativas comuns que retratam da forma mais fiel possível o cotidiano da comunidade de Baltimore. Ele não foca ou se apega a personagens protagonistas fixos ao longo de toda a série, conduzindo de forma fluida o telespectador por diferentes áreas, sem fomentar a expectativa de um final feliz ou de uma solução para todos os problemas. A reflexão final pode ser um tanto pessimista, se o telespectador espera uma resolução para aquela ficção, mas com toda certeza, é realista.

Recife Frio

CARMEM CECILIA FELIX SILVA


Recife Frio (2009), dirigido por Kleber Mendonça Filho, utiliza a mudança climática em Recife para explorar questões sociais e culturais, destacando a desigualdade e o imperialismo cultural. A cidade, conhecida pelo calor intenso, passa a enfrentar uma onda de frio, o que gera mudanças no comércio local, com a venda de produtos típicos de climas frios. No entanto, o filme revela que, enquanto o comércio se adapta, a pobreza se intensifica, com mortes de pessoas em situação de rua. A obra também critica a adoção de símbolos culturais estrangeiros, como o "Papai Noel tropical", que representa a precarização do trabalho e a naturalização de valores externos. A figura do "Papai Noel" e a falta de questionamento das condições de trabalho refletem como a cultura americana é imposta e aceita passivamente. A mídia e o comércio também são responsáveis por criar uma visão estereotipada do Brasil, com turistas estrangeiros reduzindo o país a um destino exótico, o que é evidenciado pela venda de pinguins para a França. A classe alta, representada pela família Nogueira, simboliza a persistência das desigualdades sociais e a herança colonial, refletida nas divisões espaciais e na manutenção de privilégios. O filme conclui com uma revalorização das raízes culturais pernambucanas, simbolizada pela ciranda de Lia de Itamaracá, e propõe a resistência à homogeneização cultural imposta pela globalização e pelo capitalismo. A obra, assim, questiona a construção de identidades a partir de valores externos e destaca a importância de afirmar as culturas locais diante das influências globais.

O Maníaco do Parque


 Maria Natany Lopes da Silva 


O Maníaco do Parque (2024) é um filme baseado em fatos reais, que mergulha na história do motoboy Francisco de Assis Pereira (Silvero Pereira), considerado o maior serial killer do Brasil, ele foi acusado de atacar 21 mulheres, assassinando onze delas e escondendo seus corpos no Parque do Estado, em São Paulo. Os detalhes de sua vida passam a ser investigados por Elena (Giovanna Grigio), uma repórter iniciante que enxerga a história do assassino, como uma forma de alavancar a sua carreira. 

O filme recria a trajetória de Francisco, desde sua abordagem às vítimas até o desenrolar das investigações policiais. A vulnerabilidade social das vítimas (em sua maioria, mulheres de baixa renda em busca de oportunidades de trabalho) revela a desigualdade estrutural que permeia o sistema, e isso permite que Francisco agisse impunemente por tanto tempo. O filme tenta, em partes, humanizar as vítimas, mostrando suas histórias e sonhos interrompidos. No entanto, há momentos em que elas são retratadas apenas como números ou peças em uma narrativa focada no assassino. 

Em paralelo a isso, tanto é notório a ineficiência das investigações, quanto é observado o papel da imprensa. É notório, que a mídia ajudou tanto na identificação do criminoso quanto na exploração sensacionalista dos casos, muitas vezes transformando o assassino em uma figura quase "mítica". A espetacularização do sofrimento das vítimas é um reflexo direto do jornalismo policialesco da época, algo que o filme denuncia, ainda que de forma sutil. A cobertura midiática acabou transformando Francisco em uma celebridade macabra, desviando o foco das falhas sistêmicas que permitiram seus crimes. 

Em geral, a obra consegue transmitir o clima de medo e tensão que tomou conta da sociedade na época. As atuações principais conseguem transmitir a complexidade emocional dos personagens, e a direção acerta ao criar um clima de suspense. Entretanto, em alguns momentos, o filme pode cair no risco do sensacionalismo, ao focar excessivamente nos atos violentos em vez de aprofundar questões psicológicas ou sociais mais complexas, por exemplo, mais tempo poderia ser dedicado às vítimas e suas famílias, oferecendo uma perspectiva mais profunda sobre o impacto emocional e social desses crimes. Mesmo assim, o filme é uma excelente obra que retrata a exploração midiática de tragédias e a falha das instituições públicas na prevenção desse tipo de crime.

Pássaros de Liberdade


 GIOVANNA R. BELLATO NERY 


Pássaros de Liberdade (“Birds of Paradise”) é um mergulho em um universo onde a arte e o corpo se chocam, se fundem e se desgastam. Dirigido por Sarah Adina Smith, o filme apresenta o balé não apenas como uma expressão estética, mas como um campo de batalha interior, onde cada movimento carrega uma carga emocional quase insuportável. Desde os primeiros minutos, fica claro que a dança aqui é tanto um meio de transcendência quanto de autodestruição. 

O que me impressionou de imediato foi o visual: é quase como se cada cena fosse uma pintura em movimento. A paleta de cores não está ali só para embelezar; ela é emocional. Nos momentos de dor e conflito, tons frios predominam, engolindo as personagens em uma atmosfera de isolamento. Por outro lado, nos raros momentos de leveza e cumplicidade, as cores quentes aparecem como respiros visuais. Não é só bonito — é uma narrativa visual que intensifica a história. 

O balé, aqui, é visceral. Cada pirueta e cada salto parecem ecoar não apenas no espaço, mas dentro das personagens. O que me impressionou foi como a dança se torna quase um ritual, uma linguagem para aquilo que as palavras não conseguem captar. A relação entre Kate e Marine é onde isso fica mais evidente. Elas não são apenas amigas ou rivais; são espelhos distorcidos uma da outra. A maneira como suas identidades se confundem — ora se aproximando, ora se repelindo — cria um dinamismo que prende. 

Os espaços em que a história se desenrola também falam muito. A academia de balé é opressora, quase claustrofóbica. Cada corredor sombrio parece sussurrar as exigências impossíveis impostas àquelas jovens. Já as cenas externas, por mais breves que sejam, trazem uma sensação de escape. Para mim, essa alternância entre ambientes ecoa a tensão entre ser livre e ser moldada pelo que esperam de você. 

E tem a subjetividade. Que maravilha como o filme se arrisca a ser menos literal! Os pássaros do título são muito mais do que uma metáfora de liberdade. Eles representam a fragilidade, o desejo de escapar, mas também o peso de carregar as expectativas de voar alto demais. É algo que, como espectadora, senti profundamente. 

Por outro lado, o roteiro me deixou com sentimentos conflitantes. Há algo de belo em sua simplicidade, mas também uma frustração com as lacunas deixadas para a nossa imaginação preencher. Talvez esse tenha sido o ponto: não entregar tudo, deixar o simbólico guiar a experiência. Mas, para mim, em alguns momentos, parecia que o filme estava tão focado em ser abstrato que esqueceu de se conectar. 

No fim, Pássaros de Liberdade não é só um filme para ser assistido, é para ser sentido. Ele é imperfeito, mas é exatamente essa imperfeição que o torna humano. São nas fissuras — nas coreografias que doem, nas luzes que engolem as protagonistas, nos silências entre elas — que o filme se torna inesquecível.

Poor Things

Pobres Criaturas


Sávio Santos Padilha 


Lançado em 2023 pelo diretor premiado Yorgos Lanthimos, "Pobres Criaturas" apresenta a história da jovem Bella Baxter, uma mulher que é trazida de volta à vida pelo cientista Dr. Godwin, Bella tem uma mente infantilizada e inocente como uma criança, não compreendendo bem o mundo a sua volta, tudo muda quando a mesma resolve se aventurar no mundo e conhecer o continente, é nessas aventuras que a personagem principal do filme começa a entender um pouco mais de si, do seu corpo e da sua mente. 

Poor Things traz uma atmosfera com a ideia similar a Frankenstein, um personagem que vai compreendendo a si mesmo, nos aventuramos junto com a personagem principal, ao decorrer do filme ela vai amadurecendo e crescendo, seu comportamento e fala vão mudando conforme as vivências são apresentadas a ela, moldando Bella em algo totalmente diferente do que nos foi apresentado. 

O filme também chama atenção pelo visual, uma fotografia bem acentuada, com cores vibrantes, o filme é retratado no século passado, por isso a direção de arte e maquiagem também se destacam trazendo um ar coloquial e inovador. 

A atuação de Emma Stone com a personagem principal do filme é algo extremamente cativante, a maneira como ela incorpora o personagem e vai trazendo nuances que se moldam, se camuflado e mudando a no decorrer do filme traz uma veracidade para personagem de forma espetacular, seu olhar penetrante nos prende, Willen Defoe, ator que dá vida o personagem Dr. Godwim e Mark Ruffalo , que trás o personagem Duncan, futuro marido de Bella no filme, também são enriquecedoras. A direção de de Yorgos é mais uma vez destaque, a maneira como ele apresenta os personagens, cenários e nos envolve nas cenas de forma humorística, te enlaça no filme até a última cena.

Wonka

Marcelo Nascimento

 

Wonka é um filme de fantasia musical dirigido por Paul King e escrito por Simon Farnaby e o próprio King, baseado na obra A fantástica Fábrica de Chocolate de Roald Dahl.

Nessa versão, temos uma visão alternativa do Willy Wonka jovem, que inicia sua jornada em busca de seu sonho, que é se tornar um grande chocolateiro.

O filme, que a presenta uma nova estética, trazendo como protagonista Timothée Chalamet, tenta reimaginar a história de Willy Wonka, mas foge de alguns aspectos observados nas versões de 1971, estrelada pelo saudoso Gene Wilder e a de 2005, protagonizada pelo excêntrico Johnny Depp.

A versão traz uma trilha sonora contagiante e um trabalho de arte magnífico, com cenários e figurinos criativos.

Com um roteiro pouco original, o filme preserva características das duas versões anteriores, como a inesquecível canção imagination, mas explora pouco a figura dos Oompa-Loompas, fiéis ajudantes de Wonka anteriormente, com suas canções e coreografias que ficaram nas nossas mentes, mas que agora, aparece como uma única figura solitária, que persegue Wonka em busca do chocolate, para se redimir com seus pares.

Nesse novo enredo, Willy não conta mais com os Oompa-Loompas para ajudá-lo na fabricação de seu chocolate, e sim com o auxílio de Noodle e os demais aprisionados pela dona da pensão

Por outro lado, essa versão nos mostra novos elementos, como a mudança de gênero dos personagens, Noodle, uma garota negra, ocupando o espaço de Charlie, um garoto branco, e as figuras que demonstravam as personalidades nocivas, como inveja, gula, ira, soberba, representadas pelas crianças nas duas primeiras versões, sendo substituídas por personagens adultos, como os rivais de Wonka, Slugworth, Fickelgruber, Prodnose, o chefe de polícia, Mrs, Scrubitt e outros.

Outra análise comparativa que podemos mostrar, são as interpretações dos personagens principais, quando na versão original, tivemos uma interpretação sóbria apresentada por Gene Wilder, e já na segunda versão, nos deparamos com a interpretação caricata de Johnny Depp, característica da maioria de seus personagens e, na versão Wonka, temos a interpretação de Chalamet que destoa das duas anteriores, onde sua jovialidade e carisma, cativaram o público.

A jornada de Wonka poderia explorar mais a fundo suas motivações e complexidades, pois baseado nas experiências anteriores, seria possível dar mais intensidade à obra, mas acaba se concentrando em elementos mais superficiais. É um filme visualmente complexo e apresenta muita magia, mas falha em entregar uma narrativa mais profunda e que fique guardada na mente do espectador. É uma opção divertida para quem busca uma experiência cinematográfica leve e despretensiosa, mas pode ser insuficiente para aqueles que esperam uma obra mais complexa e inovadora.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Trem italiano da felicidade


 LICIANE GURGEL VIANA ARARUNA


O Trem italiano da felicidade é um drama histórico italiano que retrata a vida de Amerigo Speranza, um menino de sete anos que, no pós-Segunda Guerra Mundial, embarca em uma jornada transformadora. O filme, dirigido por Cristina Comencini, baseia-se no romance de Viola Ardone e explora temas como pobreza, resiliência e a busca por uma vida melhor.

Ambientado em Nápoles, em 1946, o filme apresenta uma cidade devastada pela guerra, onde a escassez e as dificuldades são predominantes. Amerigo, criado por sua mãe solteira, Antonietta, enfrenta as adversidades de um cotidiano marcado pela pobreza extrema. A oportunidade de ser enviado ao norte da Itália, como parte de uma iniciativa solidária conhecida como “Treni della felicità” (Trens da Felicidade), surge como uma esperança de melhores condições de vida.

A narrativa acompanha a adaptação de Amerigo à sua nova família temporária e às mudanças culturais e emocionais que ele vivencia. A relação com sua mãe adotiva, Derna, e a descoberta de seu talento musical proporcionam ao protagonista uma nova perspectiva de vida. O filme destaca a importância das conexões humanas e da solidariedade em tempos de crise, evidenciando como essas experiências moldam a identidade e o futuro de uma criança.

O Trem das Crianças é uma obra comovente que ilustra a capacidade humana de encontrar esperança e reconstrução mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras. Através da jornada de Amerigo, o filme transmite uma mensagem poderosa sobre resiliência, empatia e a importância das escolhas que fazemos. A produção oferece ao espectador uma reflexão profunda sobre o impacto das experiências da infância na formação do indivíduo e na busca por um futuro mais promissor.

O Beijo no Asfalto (1981)


 Lucas Targino de Freitas Santos 


“O Beijo no Asfalto”, dirigido por Bruno Barreto, é baseado numa peça teatral de mesmo nome escrita por Nelson Rodrigues em 1960. No filme, acompanhamos a saga trágica de Arandir (Ney Latorraca), que, ao testemunhar um atropelamento fatal, responde ao pedido da vítima e beija o homem agonizante na boca em um último ato de compaixão absoluta. Amado (Daniel Filho), um jornalista sensacionalista, se utiliza do acontecido para alavancar sua carreira e limpar a imagem de Cunha (Oswaldo Loureiro), um delegado corrupto e truculento. 

Ainda nos créditos iniciais, uma criança que observa a cena quebra a 4ª parede e dirige o olhar à câmera como se perguntasse à audiência: “E você, o que acha? O que você faria no lugar dele?”. Somos convidados pelo diretor a ler o filme de forma íntima e honesta, sem o distanciamento e impessoalidade que podemos estar acostumados. 

Um beijo entre dois homens dá início a uma história de perseguição midiática, humilhação pública, violência policial e manipulação de narrativas. De quantas formas a irresponsabilidade da mídia, aliada à instituições corruptas, pode destruir a vida de um homem inocente? “Beijo é Crime!”, diz a manchete dos jornais, enquanto Arandir se encontra fugindo pelo crime de amar o próximo em uma sociedade homofóbica e individualista. 

A família do acusado também sofre as consequências desses ataques. A casa é vandalizada, a esposa Selminha (Christiane Torloni) recebe xingamentos pelo telefone e é abusada sexualmente pelos responsáveis pela perseguição. No meio disso tudo, a cunhada Dália (Lídia Brondi) busca maneiras de apoiar Arandir enquanto reconhece em si mesma um desejo proibido pelo próprio cunhado. O sogro Aprígio (Tarcísio Meira) age como um mediador na maior parte do filme, sem deixar transparecer suas motivações e emoções até o ápice da história. 

O texto atemporal de Nelson Rodrigues, brilhantemente adaptado para o cinema, se utiliza de todo tipo de sacanagem, tabu e polêmica para contar uma história cortante e tão atual em 2025 quanto em 1981 ou 1960. “O Beijo no Asfalto” é sobre violência, abuso, homofobia e corrupção, sim. Mas também é sobre desejos reprimidos, compaixão, amor, cumplicidade e confiança. O filme é humano, demasiado humano, e nos mostra um drama próximo, cujas motivações e encaminhamentos estão parcialmente presentes em todos nós e ao nosso redor, em maior ou menor grau. É uma tragédia banhada por sangue vermelho-neon em frente a um hotel barato.

Moving



Adrielen Cristina Roque Da Silva Vilela


"Moving" é uma série que mergulha em um universo onde superpoderes coexistem com a humanidade e suas próprias questões. Baseada no webtoon de mesmo nome, escrito e dirigido pelo pai do webtoon sul-coreano e autor da obra original, o Kang Full, a trama centrada em jovens com habilidades extraordinárias nos envolve com dilemas cotidianos que tornam os personagens profundamente humanos antes de trilharem caminhos como herois e vilões de suas próprias vidas. A série não se limita a explorar poderes e aborda temas como a solidão, pertencimento e autodescoberta, além de outros paralelos sociais como o regime militar, violência policial e corrupção política. 

Moving me conquistou pelas cenas de ação intensa com momentos de vulnerabilidade emocional, onde, em um ponto alto, a trama deixa claro que não se trata de uma história de ação, mas de um romance. Os protagonistas, especialmente os jovens, são apresentados de forma tão autêntica que, apesar de suas habilidades, podemos enxergar neles uma luta interna de crescimento e aceitação. 

A narrativa é densa e multifacetada, com uma história que vai além dos clichês de super-heróis que já conhecemos. Cada personagem tem motivações complexas que refletem o despreparo de verdadeiros humanistas: a empatia. Ao longo dos 20 episódios, Moving me fez refletir sobre o impacto das escolhas e como até aqueles que parecem invencíveis podem ser profundamente afetados por suas experiências passadas. 

A história combina brilhantemente ação, romance, humor e cria esse drama de alta classe, emocionante e cheio de coração. A produção é facilmente a aposta que pode dar à Marvel a devida competição pela excelência ao criar novos super-humanos. Contudo, de uma forma única, Moving soube retratar exatamente de onde vem toda força e coragem que nos tornam super; a fonte infinita do amor que sentimos pela nossa família.

DRUK


MAIS UMA RODADA 

PEDRO HENRIQUE DE SOUZA NEVES 


Lançado em 2020, escrito e dirigido pelo dinamarquês Thomas Vinterberg, Druk, mais uma rodada traz a história de Martin, interpretado por Mads Mikkelsen, um professor de história do ensino médio que, no auge de sua crise de meia idade se sente desconectado da vida, até que após um jantar de aniversário ele, juntamente com seus colegas de trabalho, com o intuito de fugirem do cinismo do dia a dia decidem pôr em prática um experimento baseado na teoria do psiquiatra norueguês Finn Skårderud, de que o homem nasce com um déficit de álcool no sangue. entretanto, devido ao ferrenho aumento do consumo alcoólico, a experiência acaba se tornando uma bola de neve, levando a consequências pessoais e profissionais nas vidas de todos. 

O filme traz um tom minimalista comum às outras obras do diretor, com uma cinematografia naturalista muito mais preocupado em capturar as atuações de seus atores do que contar a história de uma forma visual e inovativa, seu verdadeiro brilho se encontra em seu texto e suas performances. Mikkelsen, aqui em uma posição completamente diferente de seus papeis mais conhecidos, brilha com a sensibilidade que é capaz de trazer para a tela com uma atuação centrada que flutua perfeitamente junto ao tom do filme e o arco de seu personagem. 

Em seu roteiro Vinterberg é capaz de discutir o tema do consumo alcoólico sem muito moralismo abrangendo tanto a relação individual dos personagens com a bebida assim também como relação de toda a sociedade, em especial a norueguesa. Desde o consumo excessivo da juventude até a taça de vinho de vinho na mesa de jantar Vinterberg entende a complexidade da questão e aqui traz mais perguntas do que respostas de uma forma que entende suas nuances e o trata com muita humanidade.

stranger things


Kacia Emylly Oliveira de Araújo 


 Sendo a minha série favorita é sem dúvida também a minha maior recomendação. Original da Netflix, a série Stranger Strings (Coisas Estranhas), é uma produção cativante, atrativa e de um roteiro perfeito de suspense. Seguindo uma narrativa emblemática envolvendo um enredo de mistérios e coisas sobrenaturais, o cenário envolve criaturas esquisitas; como o surgimento de bichos e monstros inexploráveis por meros seres humanos, além dos acontecimentos de fenômenos inexplicáveis. Uma série que prende a atenção do início ao fim com os eventos caóticos que vão surgindo, fazendo jus ao próprio nome da série “Coisas Estranhas". 

A presença de criaturas sobrenaturais e eventos misteriosos que ocorrem na fictícia cidade de Hawkins, se passa na década de 1980 e tudo começa quando acontece o desaparecimento misterioso de uma criança na cidade, com isso, um grupo de crianças na busca por seu amigo desaparecido, Will Byers, descobrem a presença das criaturas mais horripilantes escondidas vivendo num mundo invertido, especificamente embaixo da terra, com acesso a um único portal. Há também as conspirações governamentais e segredos de uma garotinha careca com superpoderes, que foi criada para matar a tal criatura, e mantida no ambulatório secreto do governo, que não misteriosamente, tal do governo do Estados Unidos têm divergências com a poderosa Rússia ( o que fica escrachado na série). São coisas estranhas como essas que rodeiam e ameaçam a vida de todos. Então, estando eles sob riscos reais de morte e debaixo de monstruosidades jamais estudadas, o grupo de amigos começa a busca por respostas e soluções, a fim de acabar com a tragédia que parece estar prestes a começar. 

O Will Byers, cujo é a criança desaparecida no início da série, no fim das contas é encontrada, e para a grande surpresa de todos, sã e salvo, sem ferimento algum, o que minimamente soa estranho para uma criança que passou dias desaparecida e sem abrigo ou ajuda alguma. Um spoiler que merece ser dado sobre esse desfecho, é que o Will Byers vai desencadeando nas outras temporadas, uma dupla personalidade adquirida no mundo invertido, quando o monstro entrou no seu corpo, de certa forma fazendo o Will sair de uma posição de vítima para vilão. Os próximos passos dessa história é dado pelo poder da música e o quão ela pode salvar as vítimas do vecna com suas ondas sonoras. O último spoiler a se dar, é sobre o vecna, que é o monstro da última temporada que tem poder sobre a mente das pessoas e acomete vários assassinatos de forma bruta e macabra. No mais, eu recomendo assistir essa série e desvendar os vários enigmas que essa produção dos irmãos Matt e Ross Duffer contempla.

Saneamento Básico, O Filme



Kyara Torres 


Se “Saneamento Básico, O Filme” pudesse ser definido em três palavras, elas seriam: inusitado, sagaz e cômico. 

Do gênero comédia, o longa-metragem lançado em 2007, dirigido e roteirizado por Jorge Furtado, se passa no Sul do Brasil e acompanha um grupo de moradores da Linha Cristal, uma pequena comunidade italiana, que se reúne para reivindicar reformas no tratamento do esgoto local. Após entrarem em contato com a subprefeitura, eles descobrem que há verba apenas para a produção de um filme e decidem realizá-lo para cobrir os custos das obras de saneamento básico. 

A partir daí, seguimos os personagens em sua jornada para produzir um filme de ficção sobre um monstro da fossa, passando pelas etapas de roteiro, figurino, gravação e edição. 

Assim como em “Ilha das Flores” (1989) e “O Homem que Copiava” (2003), Jorge Furtado traz ao filme sua criatividade e acidez ao transformar um tema aparentemente banal, o esgoto de uma cidade, em reflexões carregadas de humor e críticas sociais. É interessante também como ele brinca, do mesmo modo que em “Sanduíche” (2000), com a metalinguagem ao construir um filme dentro do filme. 

A trilha sonora é um dos maiores destaques do longa. Composta principalmente por clássicos italianos, como “Io Che Amo Solo Te”, de Sergio Endrigo, “Quanto è Bella Quanto è Cara”, de Gaetano Bardini, e “Piangi Con Me”, do The Rokes, as músicas enriquecem a narrativa, pontuando a regionalidade e sendo bem integradas às cenas. 

A atuação também merece reconhecimento. Fernanda Torres, Wagner Moura e Camila Pitanga são brilhantes e entregam uma atuação divertida ao emular pessoas comuns fazendo um filme, criando cenas tão icônicas quanto a da Silene Seagal e os operários. 

O longa explora temas políticos e sociais, como o descaso do poder público em relação à população, que sofre com a falta do básico e é forçada a agir por conta própria. Além disso, também trata da complexidade das relações familiares, abordando a dinâmica por vezes conturbada, mas repleta de afeto entre os personagens. Ele também pode ser interpretado como uma mimese da realidade enfrentada pelos realizadores audiovisuais, que encaram diversos desafios para produzir sua arte. 

Por fim, “Saneamento Básico” é uma comédia leve que nos faz rir de forma inesperada. É um dos primores do cinema nacional e merece ser visto.

O Show de Truman


Geovanna Beatrys


Imagine descobrir que cada detalhe da sua vida foi meticulosamente planejado, cada encontro roteirizado e cada paisagem é cenográfica. Essa é a trama de O Show de Truman, dirigido por Peter Weir, que combina drama, comédia e uma crítica afiada à sociedade do espetáculo. Truman Burbank, vivido por Jim Carrey, é um homem que leva uma vida aparentemente perfeita, até começar a perceber que algo está terrivelmente fora do lugar.

A genialidade do filme está em como ele transforma o cotidiano de Truman em um reflexo de nossa própria existência. Vivemos em realidades construídas? Até que ponto somos manipulados pelo que consumimos e acreditamos ser real? A direção de Weir nos conduz por uma jornada emocionante e claustrofóbica, onde cada sorriso de um figurante é carregado de ironia e cada esquina esconde uma verdade inquietante.

Ao final, quando Truman se despede com seu icônico “Caso eu não te veja…”, o espectador não apenas torce por sua liberdade, mas reflete sobre a própria coragem de enfrentar o desconhecido. O Show de Truman é um clássico, que desafia nossa percepção da realidade e do livre-arbítrio.

O Auto da Compadecida (2000)

Sarah de Lima 

O Auto da Compadecida, dirigido por Guel Arraes, é uma adaptação cinematográfica da obra homônima de Ariano Suassuna, lançada em 2000. O filme é um dos maiores sucessos do cinema brasileiro e uma das produções mais queridas do público, especialmente por sua capacidade de misturar comédia, drama, e crítica social, além de explorar profundamente a cultura nordestina.

A história se passa no sertão nordestino e acompanha os personagens João Grilo (Matheus Nachtergaele) e Chicó (Selton Mello), dois nordestinos pobres, mas espertos e enganadores, que vivem de pequenos golpes para sobreviver. Juntos, enfrentam diversas situações, com um tom de farsa e humor, e se veem envolvidos em questões de vida e morte, com encontros com o Diabo, a Morte e até mesmo com a intervenção divina da Compadecida (Fernanda Montenegro), uma representação de Nossa Senhora.

O grande mérito do filme está na combinação de elementos cômicos com reflexões profundas sobre a moralidade, fé e o destino. A narrativa, baseada no folclore e nas crenças populares, traz temas como a luta pela sobrevivência, a hipocrisia religiosa e a busca por justiça, sempre com uma dose de crítica social.

O filme é um retrato vibrante da cultura nordestina, com suas cores, músicas e personagens, mas também universaliza questões como desigualdade social, moralidade e a busca por um sentido na vida. A obra não só é uma comédia de costumes, mas também oferece uma crítica sutil, e às vezes incisiva, aos sistemas de poder e à hipocrisia presente nas instituições religiosas e sociais.

Em resumo, O Auto da Compadecida é uma obra-prima do cinema brasileiro, que consegue equilibrar comédia, drama e crítica social de forma magistral. É uma história que, com suas piadas inteligentes e personagens memoráveis, também convida à reflexão sobre questões mais profundas da existência humana. Um filme que, além de entreter, educa e emociona, tornando-se um clássico atemporal do nosso cinema.

O Auto da Compadecida 2


 Pedro Masami Bicalho


“O Auto da Compadecida 2” é um filme de continuação direta do filme “O Auto da Compadecida” que é uma história das aventuras de João Grilo e Chicó, dois nordestinos pobres que vivem de golpes para sobreviver. O seu sucessor não sai muito desta linha sendo uma história que começa com Chico que está bem mais velho, trabalhando na antiga igreja de seu primeiro filme, e contando as histórias de ressurreição de João Grilo que são retratadas no primeiro filme. Mas a narrativa

começa a andar quando João Grilo volta da capital para rever Chico. A partir daí a narrativa segue Chico e João Grilo em uma aventura que se reflete completamente em seu primeiro filho, só que desta vez envolvendo uma briga política entre dois candidatos à prefeitura de sua pequena cidade.

O filme é uma grande homenagem ao primeiro filme, possuindo a mesma estrutura de narrativa e com quase os mesmo acontecimento, mas apenas com uma nova roupagem. O filme até tenta trazer um interesse amoroso ao Chico para seguir a estrutura do primeiro filme, mas ele acaba trazendo novamente dona Rosinha imagino que seja para não chatear os fãs da primeira obra que gostavam da personagem e não queriam que os dois tivessem terminado fora de tela, sendo que foi tão difícil a junção dos dois no primeiro filme.

Este novo filme serve mais como uma homenagem ao primeiro, querendo trazer a mesma história e a sensação de nostalgia do primeiro filme, o próprio filme faz piadas com isso. E a pergunta que fica é: será que funciona? E sim o filme funciona muito bem, ele é muito engraçado e divertido, trazendo novos atores que fazem um show de comédia na tela. O filme realmente peca por não trazer nada de inovador e me incomodou muito a cena de ressurreição de João Grilo, onde na primeira vez fazia mais sentido ele ser revivido e desta vez o julgamento foi muito sem graça e com motivos rasos para a sua volta.

Em resumo, “O Auto da Compadecida 2” é uma bela homenagem ao filme original e, embora falta um toque de originalidade, ele compensa com humor e diversão de qualidade. Uma continuação que, mesmo sem reinventar a roda, entrega exatamente o que promete: um encontro nostálgico e encantador com personagens queridos.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

“AINDA ESTOU AQUI”

 


MARIA LOUISE GERMANO SILVA DE SOUZA 

 Logo no início, Walter Salles constrói com muita delicadeza o vínculo entre os personagens, que desperta a sensibilidade na relação com o espectador, ao mesmo tempo que se instaura uma tensão, que aos poucos tira o fôlego na medida que a tragédia é anunciada. 

A trilha sonora é deliciosa e nos leva diretamente para uma Ipanema ensolarada e romântica ouvindo Erasmos Carlos e Tom Zé, mas ao mesmo tempo nos conduz para a força e coragem de Caetano, Gal, Arnaldo e os precursores do tropicalismo que deram voz pra quem não podia usar a própria. 

O elenco é primoroso, com destaque para Fernanda Torres que construiu uma Eunice que ressignificava suas ações para encobrir seus verdadeiros sentimentos, e que foi capaz de deixar visível quando a personagem deslocava sua alma para longe do corpo para sofrer uma dor que gritava no fundo dos olhos, mas que a prendia para preservar seus filhos. 

Até mesmo quando colocada frente com a morte no ápice da sua vulnerabilidade, a personagem se agarrava a um lapso de racionalidade pensando em seus filhos. Fernanda com toda sua disciplina corporal e intelectual é nitidamente filha de Fernando Torres e Fernanda Montenegro, essa última a qual em completo silêncio finaliza a história com a vulnerabilidade e a lucidez que o filme pedia. 

Toda construção, além de emocionante, é extremamente importante para assegurar a memória do que foi um período que devastou centenas de famílias.

YARGI


YARGI 

 Vitória Larysse Adriano Lago 


Yargı é uma série que faz a gente ficar grudado na tela, sem conseguir parar de assistir. Desde o primeiro episódio, a trama já prende a atenção com um mistério assassinato de uma jovem. E o mais legal é que a história vai se desenrolando de um jeito surpreendente e quem assiste nunca sabe o que esperar. É criando um ambiente de suspense no ponto certo, sem perder a qualidade. 

O destaque de Yargı vai para a complexidade dos personagens e os dilemas morais que eles enfrentam. Temos de um lado Ilgaz (Kaan Urgancıoğlu), o promotor sério e focado, e do outro, Ceylin (Pınar Deniz), uma advogada defensora bem impulsiva. O jogo entre eles, cheio de diferenças e tensões, vai além do embate profissional, rola uma química. 

O roteiro é outro destaque, principalmente porque a história também não se limita a ser só sobre crime, mas toca em questões profundas de ética, o que é certo ou errado e o quanto a família interfere nas nossas vidas como um todo. Não tem como não refletir sobre as escolhas dos personagens. Por fim, destaco como merecida a vitória no Emmy Internacional Awards em 2023, afinal, eles mostraram como a TV turca está ficando cada vez mais forte e se destacando internacionalmente.

Dias Perfeitos (2023)


Dias Perfeitos (2023)

 

Lavínia Heloisy Manso Cruz


Um dos meus filmes favoritos de 2024 foi “Dias Perfeitos”, dirigido por Wim Wenders. Nele, mergulhamos na vida de Hirayama, um senhorzinho que trabalha limpando banheiros em Tóquio. E é isso. O filme tem uma delicadeza poética e transforma o cotidiano em algo profundamente comovente. A maneira como Hirayama vive, com uma rotina simples, mas prestando atenção aos pequenos detalhes da vida, como a luz do sol através das árvores ou a música que ele escuta no carro a caminho do trabalho, é um lembrete poderoso de que a beleza muitas vezes está escondida nos lugares mais comuns. Isso me fez refletir sobre como, frequentemente, estamos tão apressados que deixamos de ver a beleza nas coisas mais simples.

"Dias Perfeitos" é, acima de tudo, uma celebração dos pequenos detalhes que fazem a vida valer a pena. É um filme que te obriga a desacelerar, a observar e a sentir o que há de mais simples e mais belo no cotidiano. O que realmente importa no final do dia? Estamos realmente vivendo nossos dias ou estamos esperando algo maior, enquanto a vida nos escapa pelos dedos? O tempo que Hirayama compartilha com outras pessoas também é incrivelmente tocante. Seja na companhia da sobrinha ou dos amigos, há algo de muito humano em sua forma de estar com os outros. Ele não fala muito, mas sua presença é cheia de intenção e generosidade. Esses momentos me fizeram refletir sobre como, às vezes, o simples ato de estar com alguém, sem distrações, sem pressa, pode ser o que realmente importa.

Ao assistir ao filme, senti como se estivesse reaprendendo a ver o mundo. O que me parecia banal no início, uma folha caindo, a brisa em um parque, a rotina de alguém, foi ganhando camadas de beleza e profundidade à medida que o filme avançava. É quase como se Hirayama estivesse sussurrando para nós: "Você está vendo? A vida está aqui, agora, nessas pequenas coisas." No final, "Dias Perfeitos" não é apenas um filme sobre Hirayama; é um convite para cada um de nós. Ele nos chama a redescobrir o que realmente nos move, a encontrar beleza onde antes havia indiferença e a aproveitar os momentos que parecem pequenos, mas que no fundo, são tudo o que temos.

Nosferatu - 2024

 Nosferatu - 2024 

Renan Felipe

Um conto romântico, sensual e perturbador, esse é “Nosferatu”. A nova adaptação do clássico do terror, dirigida e roteirizada por Robert Eggers, é uma homenagem ao filme que o inspirou a trabalhar com cinema. É perceptível a forma como o diretor é autêntico em suas obras, como “O Homem do Norte”, “A Bruxa” e “O Farol”. O filme “Nosferatu” se passa nos anos 1800 e conta a história de Ellen (personagem interpretada por Lily-Rose Depp), que desde a adolescência tem sonhos bastante perturbadores que se conectam ao misterioso Conde Orlok (interpretado por Bill Skarsgård). 

A história se inicia quando o marido de Ellen, o vendedor de imóveis Thomas Hutter (Nicholas Hoult), acaba tendo que sair de Visborg, sua cidade, e ir até a Romênia para realizar a venda de um imóvel que mudaria sua vida financeira. No entanto, Ellen não quer que Thomas vá, pois tem um pressentimento horrível de que algo ruim poderia acontecer. Desde nova, a moça tinha sonhos estranhos e perturbadores, mas isso havia acabado quando conheceu Thomas. Quando o rapaz viajou a trabalho, ela iria passar alguns dias na casa de um amigo do seu esposo e, com a viagem do marido, voltou a ter esses sonhos. 

Ao finalmente chegar ao castelo onde o comprador estava, Thomas descobre que a pessoa com quem iria fechar negócio era o Conde Orlok. Thomas sentiu algo estranho vindo daquele lugar; ele queria ir embora, mas não conseguiu. O rapaz havia caído na armadilha do Conde para deixar sua esposa sozinha. Ellen tinha uma conexão com o Conde, pois sua alma e seu coração estavam presos a ele em um ritual que ela havia feito quando era mais nova. Desde então, o Conde quer fazer de tudo para ter Ellen ao seu lado. 

O filme traz muitas referências do clássico de 1922, como a cena final em que Nosferatu vai até o quarto de Ellen. É perceptível o cuidado que o diretor teve na construção do filme, algo já predominante em seus trabalhos como na criação da cidade de Visborg e do vilarejo pelo qual o personagem de Nicholas Hoult passa no caminho para a Romênia. Além da caracterização dos personagens, como a do próprio Nosferatu. O trabalho e cuidado para tornar o personagem assustador são notáveis; mesmo sendo diferente do antigo Nosferatu, ele ainda possui características que se assemelham ao personagem do clássico de 1922, incluindo elementos do expressionismo alemão. 

A fotografia de “Nosferatu” se assemelha muito aos trabalhos anteriores do diretor, como “A Bruxa” e “O Homem do Norte”. Acredito que isso faz o diretor ter uma identidade visual em seus trabalhos, assim que você assiste a um filme dele, já sabe que é uma obra dele somente pela fotografia. As cores e iluminação usadas no filme também são dignas de elogios, assim como a ambientação dos cenários e a fidelidade histórica. O “Nosferatu” de 2025 é uma experiência que precisa ser assistida, assim como o filme de 1922, que é uma jóia para o audiovisual e para o expressionismo alemão.