MARIA LOUISE GERMANO SILVA DE SOUZA
Logo no início, Walter Salles constrói com muita delicadeza o vínculo entre os personagens, que desperta a sensibilidade na relação com o espectador, ao mesmo tempo que se instaura uma tensão, que aos poucos tira o fôlego na medida que a tragédia é anunciada.
A trilha sonora é deliciosa e nos leva diretamente para uma Ipanema ensolarada e romântica ouvindo Erasmos Carlos e Tom Zé, mas ao mesmo tempo nos conduz para a força e coragem de Caetano, Gal, Arnaldo e os precursores do tropicalismo que deram voz pra quem não podia usar a própria.
O elenco é primoroso, com destaque para Fernanda Torres que construiu uma Eunice que ressignificava suas ações para encobrir seus verdadeiros sentimentos, e que foi capaz de deixar visível quando a personagem deslocava sua alma para longe do corpo para sofrer uma dor que gritava no fundo dos olhos, mas que a prendia para preservar seus filhos.
Até mesmo quando colocada frente com a morte no ápice da sua vulnerabilidade, a personagem se agarrava a um lapso de racionalidade pensando em seus filhos. Fernanda com toda sua disciplina corporal e intelectual é nitidamente filha de Fernando Torres e Fernanda Montenegro, essa última a qual em completo silêncio finaliza a história com a vulnerabilidade e a lucidez que o filme pedia.
Toda construção, além de emocionante, é extremamente importante para assegurar a memória do que foi um período que devastou centenas de famílias.
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