sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Saneamento Básico, O Filme



Kyara Torres 


Se “Saneamento Básico, O Filme” pudesse ser definido em três palavras, elas seriam: inusitado, sagaz e cômico. 

Do gênero comédia, o longa-metragem lançado em 2007, dirigido e roteirizado por Jorge Furtado, se passa no Sul do Brasil e acompanha um grupo de moradores da Linha Cristal, uma pequena comunidade italiana, que se reúne para reivindicar reformas no tratamento do esgoto local. Após entrarem em contato com a subprefeitura, eles descobrem que há verba apenas para a produção de um filme e decidem realizá-lo para cobrir os custos das obras de saneamento básico. 

A partir daí, seguimos os personagens em sua jornada para produzir um filme de ficção sobre um monstro da fossa, passando pelas etapas de roteiro, figurino, gravação e edição. 

Assim como em “Ilha das Flores” (1989) e “O Homem que Copiava” (2003), Jorge Furtado traz ao filme sua criatividade e acidez ao transformar um tema aparentemente banal, o esgoto de uma cidade, em reflexões carregadas de humor e críticas sociais. É interessante também como ele brinca, do mesmo modo que em “Sanduíche” (2000), com a metalinguagem ao construir um filme dentro do filme. 

A trilha sonora é um dos maiores destaques do longa. Composta principalmente por clássicos italianos, como “Io Che Amo Solo Te”, de Sergio Endrigo, “Quanto è Bella Quanto è Cara”, de Gaetano Bardini, e “Piangi Con Me”, do The Rokes, as músicas enriquecem a narrativa, pontuando a regionalidade e sendo bem integradas às cenas. 

A atuação também merece reconhecimento. Fernanda Torres, Wagner Moura e Camila Pitanga são brilhantes e entregam uma atuação divertida ao emular pessoas comuns fazendo um filme, criando cenas tão icônicas quanto a da Silene Seagal e os operários. 

O longa explora temas políticos e sociais, como o descaso do poder público em relação à população, que sofre com a falta do básico e é forçada a agir por conta própria. Além disso, também trata da complexidade das relações familiares, abordando a dinâmica por vezes conturbada, mas repleta de afeto entre os personagens. Ele também pode ser interpretado como uma mimese da realidade enfrentada pelos realizadores audiovisuais, que encaram diversos desafios para produzir sua arte. 

Por fim, “Saneamento Básico” é uma comédia leve que nos faz rir de forma inesperada. É um dos primores do cinema nacional e merece ser visto.

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