Recife Frio (2009), dirigido por Kleber Mendonça Filho, utiliza a mudança climática em
Recife para explorar questões sociais e culturais, destacando a desigualdade e o imperialismo
cultural. A cidade, conhecida pelo calor intenso, passa a enfrentar uma onda de frio, o que
gera mudanças no comércio local, com a venda de produtos típicos de climas frios. No
entanto, o filme revela que, enquanto o comércio se adapta, a pobreza se intensifica, com
mortes de pessoas em situação de rua. A obra também critica a adoção de símbolos culturais
estrangeiros, como o "Papai Noel tropical", que representa a precarização do trabalho e a
naturalização de valores externos. A figura do "Papai Noel" e a falta de questionamento das
condições de trabalho refletem como a cultura americana é imposta e aceita passivamente. A
mídia e o comércio também são responsáveis por criar uma visão estereotipada do Brasil,
com turistas estrangeiros reduzindo o país a um destino exótico, o que é evidenciado pela
venda de pinguins para a França. A classe alta, representada pela família Nogueira, simboliza
a persistência das desigualdades sociais e a herança colonial, refletida nas divisões espaciais e
na manutenção de privilégios. O filme conclui com uma revalorização das raízes culturais
pernambucanas, simbolizada pela ciranda de Lia de Itamaracá, e propõe a resistência à
homogeneização cultural imposta pela globalização e pelo capitalismo. A obra, assim,
questiona a construção de identidades a partir de valores externos e destaca a importância de
afirmar as culturas locais diante das influências globais.
sábado, 18 de janeiro de 2025
Recife Frio
CARMEM CECILIA FELIX SILVA
Jornalista, professor de comunicação da UFRN, doutor em ciências sociais.
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