sábado, 18 de janeiro de 2025

Recife Frio

CARMEM CECILIA FELIX SILVA


Recife Frio (2009), dirigido por Kleber Mendonça Filho, utiliza a mudança climática em Recife para explorar questões sociais e culturais, destacando a desigualdade e o imperialismo cultural. A cidade, conhecida pelo calor intenso, passa a enfrentar uma onda de frio, o que gera mudanças no comércio local, com a venda de produtos típicos de climas frios. No entanto, o filme revela que, enquanto o comércio se adapta, a pobreza se intensifica, com mortes de pessoas em situação de rua. A obra também critica a adoção de símbolos culturais estrangeiros, como o "Papai Noel tropical", que representa a precarização do trabalho e a naturalização de valores externos. A figura do "Papai Noel" e a falta de questionamento das condições de trabalho refletem como a cultura americana é imposta e aceita passivamente. A mídia e o comércio também são responsáveis por criar uma visão estereotipada do Brasil, com turistas estrangeiros reduzindo o país a um destino exótico, o que é evidenciado pela venda de pinguins para a França. A classe alta, representada pela família Nogueira, simboliza a persistência das desigualdades sociais e a herança colonial, refletida nas divisões espaciais e na manutenção de privilégios. O filme conclui com uma revalorização das raízes culturais pernambucanas, simbolizada pela ciranda de Lia de Itamaracá, e propõe a resistência à homogeneização cultural imposta pela globalização e pelo capitalismo. A obra, assim, questiona a construção de identidades a partir de valores externos e destaca a importância de afirmar as culturas locais diante das influências globais.

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