sábado, 18 de janeiro de 2025

THE WIRE

 


EDUARDO WERDESHEIM


Uma série que mais parece um estudo social da cidade de Baltimore interpretado na televisão, “The Wire” definitivamente não obedece aos padrões tradicionais dos seriados americanos e de outras partes do mundo. O combate entre as forças de segurança e o crime é sempre retratado, mas não apenas no nível das ruas. A série mostra como o mundo do crime não se resume às esquinas de boca de fumo, mas está entranhado em diversas instituições públicas e privadas.

Do consumidor de crack sem-teto ao político que cheira cocaína para se manter ativo durante o período de campanha eleitoral, todas essas camadas sociais são retratadas. A série aborda desde as atividades no porto, mostrando como as drogas entram na cidade, até a mídia, que também detém o poder de decidir o que realmente repercute entre a população. Todas essas entidades são grandes responsáveis pelo ciclo vicioso em que a população está presa.

Uma das temporadas mais impactantes, a quarta, foca na educação e em como ela pode ser uma ferramenta transformadora, mas que também pode excluir aqueles que não são acolhidos na infância, devido à fragilidade que um jovem enfrenta em um ambiente altamente hostil. A crítica facilmente percebida é que, por mais que muitos recursos sejam direcionados ao combate ao tráfico, a maneira como isso é feito, com violência e sem buscar realmente a fonte do problema, nada mais gera do que mais revolta e marginalização da população que vive em bairros de baixa renda e dominados pelo crime.

O criador, David Simon, cria narrativas comuns que retratam da forma mais fiel possível o cotidiano da comunidade de Baltimore. Ele não foca ou se apega a personagens protagonistas fixos ao longo de toda a série, conduzindo de forma fluida o telespectador por diferentes áreas, sem fomentar a expectativa de um final feliz ou de uma solução para todos os problemas. A reflexão final pode ser um tanto pessimista, se o telespectador espera uma resolução para aquela ficção, mas com toda certeza, é realista.

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