EDUARDO
WERDESHEIM
Uma série que mais parece um
estudo social da cidade de Baltimore interpretado na televisão, “The Wire”
definitivamente não obedece aos padrões tradicionais dos seriados americanos e
de outras partes do mundo. O combate entre as forças de segurança e o crime é
sempre retratado, mas não apenas no nível das ruas. A série mostra como o mundo
do crime não se resume às esquinas de boca de fumo, mas está entranhado em
diversas instituições públicas e privadas.
Do consumidor de crack sem-teto
ao político que cheira cocaína para se manter ativo durante o período de
campanha eleitoral, todas essas camadas sociais são retratadas. A série aborda
desde as atividades no porto, mostrando como as drogas entram na cidade, até a
mídia, que também detém o poder de decidir o que realmente repercute entre a
população. Todas essas entidades são grandes responsáveis pelo ciclo vicioso em
que a população está presa.
Uma das temporadas mais
impactantes, a quarta, foca na educação e em como ela pode ser uma ferramenta
transformadora, mas que também pode excluir aqueles que não são acolhidos na
infância, devido à fragilidade que um jovem enfrenta em um ambiente altamente
hostil. A crítica facilmente percebida é que, por mais que muitos recursos
sejam direcionados ao combate ao tráfico, a maneira como isso é feito, com
violência e sem buscar realmente a fonte do problema, nada mais gera do que
mais revolta e marginalização da população que vive em bairros de baixa renda e
dominados pelo crime.
O criador, David Simon, cria
narrativas comuns que retratam da forma mais fiel possível o cotidiano da
comunidade de Baltimore. Ele não foca ou se apega a personagens protagonistas
fixos ao longo de toda a série, conduzindo de forma fluida o telespectador por
diferentes áreas, sem fomentar a expectativa de um final feliz ou de uma
solução para todos os problemas. A reflexão final pode ser um tanto pessimista,
se o telespectador espera uma resolução para aquela ficção, mas com toda
certeza, é realista.
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