quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Men

 

Gabriel Vinicius cortes de medeiros


Men é mais uma das ousadas obras da produtora A24 filmes, dirigido e roteirizado por Alex Garland, conta a história de Harper Marlowe, uma mulher que viaja ao interior da Inglaterra após uma tragédia que muito mexeu com sua cabeça. Mas o que deveria ser um fim de semana de relaxamento e calmaria se torna um caos, com a aparição de uma criatura que assume, primeiramente, a forma de um homem nu e começa a persegui-la em situações e locais diferentes, porém em cada uma das situações ele se torna um homem de identidade diferente, mas sempre com traços semelhantes em comum a todas as outras aparições.

De início não sabemos bem qual o trauma com que a protagonista esta lidado, vemos apenas flashs de memórias que só se completam perto do final do filme. Só quando isso acontece podemos ter uma ideia do que na verdade se tratava o filme e mesmo depois disto é possível que o telespectador saia da sala de cinema sem saber o final do filme que fica a critério interpretativo do público.

Pelos pequenos flashs de memórias, fica notório que a protagonista vive em uma cidade grande e populosa, o que justifica a busca de uma casa isolada para tentar se recuperar do ocorrido. quando percebe que está sendo perseguida, durante suas caminhadas ou até mesmo quando está dentro da casa alugada, Harper, tenta acionar a polícia, vizinhos e até o proprietário da casa. As pessoas, apesar de não desacreditarem dela parecem não se preocupar com os relatos e falam que esse tal homem é inofensivo e vive pela vizinhança. As perseguições se intensificam e passam a ter agressões físicas.

Neste momento do filme, o público já sabe qual o trauma sofrido pela protagonista, mas a ligação entre o trauma e os recentes acontecimentos parecem ser completamente inexistente. A cena final e a mais interessante de todo o filme ocorre quando o misterioso homem tenta invadir a casa e para se defender, a Harper causa alguns ferimentos ao homem, que muda sua identidade a cada mudança de cena, mas estranhamente mantendo os ferimentos. A protagonista até então ainda estava na dúvida se se tratava de um homem só, ou de várias pessoas com o mesmo objetivo de assombrá-la.

Acontece que seu trauma se trata de sua última briga com seu marido, quando ela tentava dizer que estava se sentindo sufocada e ele parecia acreditar no que ela falava, mas ameaçava se matar se ela o deixasse; por fim ele agrediu a protagonista que, pôs um fim ao relacionamento mandando-o embora. Ele subiu a cobertura do apartamento em que moravam e suicidou-se na frente de sua esposa que estava na varanda alguns andares abaixo.

Ao final do filme, juntando todas as peças, somos levados a perceber que aquele homem que a perseguia na verdade representava a figura de seu marido e a forma como ele a tratava. Dizendo que acreditava nela, mas não a levando totalmente a sério, impondo medo e insegurança a ela, e por fim, assim como, a criatura fez, seu marido também a agrediu fisicamente. Aquele homem também representa a personificação da culpa que ela sente pelo suicídio de seu marido, todos os ferimentos que ela causou a criatura enquanto se defendia de seus ataques são os exatos ferimentos sofridos pelo marido em sua queda, a perna esquerda quebrada, a mão direita perfurada pela cerca do prédio, o hematoma na testa; é como se na cabeça dela ela mesma quebrou cada osso do marido com as próprias mãos. E todos os acontecimentos daquele fim de semana no campo podem representar também o estado mental da protagonista, vivendo num caos de memórias boas e ruins, luto e principalmente culpa. Por fim, nos resta interpretar se ela conseguiu conviver com a criatura, se matou a culpa que sentia ou a abraçou.

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