quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Curve


Tabata Dantas Morais



Curve é um curta-metragem escrito e dirigido pelo australiano Tim Egan em 2016. Sua obra cinematográfica é um terror com quase 10 minutos perturbadores, no qual uma mulher acorda em um paredão curvo que termina em um poço mortal. A partir disso, para se livrar da morte que está bem a sua frente, a personagem vai utilizar de toda a sua força  para escalar a grande curva, enquanto seu corpo sofre inesperados escorregões. 


Composto por algumas pitadas de horror físico aplicados no ritmo certo, apenas uma atriz (Laura Jane Turner), uma parede curva e nenhum diálogo, Curve se diferencia dos atuais produtos cinematográficos de terror por sua simplicidade. Contudo, neste caso, o ditado de que menos é mais nunca foi tão bem aplicado. O terror minimalista com tão pouco tempo é capaz de passar dias na sua cabeça com o final ambíguo que Egan deu ao curta. 


O fato de não possuir falas deu espaço para que o diretor aproveitasse bastante o cenário, fazendo com que ele mesmo falasse. Um exemplo disso é a primeira cena do filme, em que as ondas do mar aparecem agitadas, típico de quando vai chover, e somente depois começa o enredo da mulher acordando no paredão. Quem presta atenção e busca relacionar as cenas já imagina o que vai acontecer e a tensão se instala. 


Esse curta é uma representação perfeita do que seria a depressão. Assistindo ao filme, fui percebendo que em diversos momentos me identificava com algumas sensações que o filme tentava provocar, a atriz completamente sozinha em um cenário cercado por paredes, os escorregões, o esforço doloroso para sair dali, o desespero no olhar da Laura Jane Turner ao perceber que outras pessoas não sobreviveram aquilo e talvez ela fosse mais uma. Todas sensações que alguém com depressão já passou, fazer de tudo para sair debaixo daquela nuvem cinzenta que te persegue de tempos em tempos, incapacitado de pedir ajuda porque somente você é capaz disso. Assim como não sabemos de que forma a personagem foi parar naquela situação, também não se sabe como alguém acorda na curva fatal da psicopatologia. Curve é a obra ideal para entender a doença. 


Por fim, Curve merece todos os prêmios que recebeu até agora devido a sua altíssima qualidade de produção e enredo. Em um mundo em que os filmes de terror tentam dar uma lição de moral da pior forma possível, Tim Egan conseguiu passar uma mensagem tão importante e de forma tão verossímil e perturbadora. Afinal, a realidade pode ser a diegese mais aterrorizante no meio das ficções.

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