segunda-feira, 25 de julho de 2022

A Frequência Kirlian


 Mateus Barbosa Nascimento; 
Maria Eduarda de Medeiros Nogueira

“A Frequência Kirlian” é uma daquelas obras que parece ser simples e passageira, mas a sua escrita, e o seu visual único a transformam em uma obra verdadeiramente original. Os episódios curtos acompanham um solitário radialista na cidade de Kirlian, uma cidade tão enigmática e misteriosa quanto os seus moradores. Mistérios vão sendo construídos, e alguns até solucionados, nas sinistras participações telefônicas recebidas pela rádio. 

Em uma dessas ligações, que ocorre no episódio quatro da primeira temporada, é especialmente sinistra. Nesse episódio, até o estilo de desenho se transforma em um traço infantil, feito em papel, e uma dessas ligações recebidas traz a voz de uma criança inocente e assustada com histórias que parecem ter sido retiradas de um livro... ou de vários livros escritos por Stephen King. Ao longo da história, não só descobrimos quem fez a estranha ligação (ou o quê), como também são reveladas respostas importantíssimas sobre a natureza peculiar de Kirlian. 

Ao longo da série, o radialista repete mais de uma vez, para cada cidadão, “nada disso é real”, “é tudo um conto de fadas”, e nesse episódio vemos a verdade sobre Kirlian, e sobre cada mito já inventado pela humanidade. A verdade é que existe um ciclo infinito de alimentação e soma em cada conto de fadas, ou de terror, que escutamos desde criança. Alguém que contou para o seu vizinho que no caminho de casa escutou um uivo muito alto, o vizinho que contou para a família que havia um cachorro grande pelas redondezas, seu filho que levou para os amigos a informação que existe um monstro grande e peludo que aparece toda a noite no caminho de sua casa. Mas, no início de toda essa história, havia uma rajada de vento e um pedaço de metal solto na posição certa para “uivar” com a friagem da madrugada. 

No fim das contas, contos, lendas, histórias e historietas são o resultado de anos de somas e reinvenções feitas por aqueles tão impactados por uma ficção, a ponto de criar a sua própria, mas lá no começo de tudo, havia alguma coisa que, para o bem, ou para o mal, ficará perdida para sempre, diluída em somas e reinvenções. “A Frequência Kirlian” é um exemplo, uma série que renova suas inspirações de uma maneira surpreendente e moderna, sendo ágil e bem construída. 

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