quarta-feira, 27 de julho de 2022

Stranger Things2

 

Confrontando as emoções

Crítica da quarta temporada de Stranger Things


João Pedro Ramalho


A quarta temporada de Stranger Things, popular série da Netflix que lançou seus mais recentes episódios entre maio e julho de 2022, distanciou-se de uma certa ludicidade presente em anos anteriores e mergulhou fundo em um suspense psicológico. Dessa vez, a história gira em torno do embate entre Eleven (Millie Bobby Brown), Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo), Lucas (Caleb McLaughlin), Will (Noah Schnapp) e Max (Sadie Sink), versus o principal vilão do Mundo Invertido: Vecna (Jamie Campbell Bower). Nessa jornada contra um ser de outra dimensão, cujo modus operandi consiste em matar jovens que vivenciam traumas do passado, os adolescentes da fictícia cidade estadunidense de Hawkins também precisam enfrentar seus próprios medos, como o temor pela inadequação em meio à sociedade dos anos 1980.

O fato de Vecna ter preferência por adolescentes que passam por problemas emocionais é apenas um dos sinais de que o mote da trama é a preocupação com as questões psicológicas. Além dele, pode-se destacar a forma como o vilão leva suas vítimas: em alucinações, vivenciadas no tempo psicológico das personagens, Vecna as “traga” impondo sua mão sobre as cabeças, como se dominasse suas mentes e, por consequência, seus corpos. Já uma das formas de fugir do monstro da temporada é apelando para as sensações, através da audição da música preferida da personagem.

Contudo, não são apenas os protagonistas de Stranger Things que se confrontam com as emoções ao longo da temporada. O ambiente construído na série envolve os espectadores no suspense, reforçado pela maneira como a ação do vilão se desenvolve. No episódio de estreia, por exemplo, Vecna não ataca logo na primeira aparição. Os sinais de sua atuação, como o ressoar das batidas de um relógio de pêndulo, são apresentados gradualmente, acendendo a expectativa e o medo do público, até que, por fim, o ser do Mundo Invertido faz sua vítima inicial.

Nesse jogo psicológico, calcado em uma trama cheia de reviravoltas e acontecimentos sobrenaturais, a quarta temporada de Stranger Things constrói um ambiente mais sombrio e menos lúdico, mas ainda convidativo. Ao abordar os traumas e temores vividos pelas personagens, a série chama o público a refletir, também, sobre suas dores e seus receios. No final, a qualidade da história apresentada e os sentimentos evocados pela série fazem essa experiência, que pode não ser tão fácil, valer a pena.

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