Thais LIMA
Em meio ao sangue e vísceras que THE BOYS apresenta, é compreensível
perceber que muitos passam batido os temas centrais de sua intrincada trama. Em seu
terceiro ano, Eric Kripke, showrunner da série, optou por ser ainda mais claro quanto ao
discurso que deseja abordar em sua narrativa e, em oito episódios, apresenta não só todos
os elementos que representam a essência de The boys como também nos fornece a
temporada mais completa quanto ao arco de seus personagens.
E é através dos traumas
vivenciados por eles, principalmente aqueles que surgiram de suas relações familiares —
particularmente a paterna — que Eric nos faz discutir sobre masculinidade tóxica e o papel
dos adultos como influências diretas nas vidas de seus filhos.
A figura de Billy Butcher na terceira temporada é justamente a que encabeça essa
discussão. Líder dos The Boys e portanto aquele que está a frente do que seriam os
“mocinhos” da história, ele está longe de ser a epítome do bem e desde sua primeira
aparição lá no início da série já era possível notar que Butcher traria esse conceito de
personagem cinza para THE BOYS — alguém que não é nem bom e nem ruim, mas sim
bastante humano em suas falhas e acertos. Butcher, na verdade, passa boa parte dos
episódios pendendo tanto para o lado das escolhas duvidosas e atos violentos que se
aproxima bastante daquele que é a figura vilanesca da série, o super-herói Homelander, o
que é irônico, tendo em visto que ele é o ser que Butcher mais odeia no mundo.
Porém, seu
costume de replicar os atos terríveis daqueles que ele rivaliza não vem de hoje. Na terceira
temporada finalmente temos acesso a um flashback da vida de Billy Butcher quando criança
e adolescente. Do seu lar desestruturado, do seu vínculo de amor com o irmão mais novo
Lenny, e acima de tudo, da relação brutal com seu pai, Sam. Alcoólatra e incrivelmente
violento, Sam demonstrava pouco amor aos membros de sua família e espancava com
frequência sua esposa e os próprios filhos.
E enquanto Butcher obviamente o odiava face a
essa realidade, fica mais do que implícito que também buscava a aprovação dele. E ele a
recebe uma vez, da forma mais distorcida possível: Após agredir um professor da sua
escola, seu pai o leva para tomar uma cerveja, afirmando que “está tudo bem, porque
algumas pessoas merecem levar uma surra”. Essa frase moldou Billy Butcher para sempre.
Porque mesmo sem perceber a princípio, sua personalidade lentamente se tornou a
do pai, algo que a série expõe com diversas cenas de ambos sobrepostas, dizendo e
fazendo as mesmas coisas. Igualmente dado a atos violentos, igualmente intolerante com
quase todos que ele considera “merecedores de uma surra” — os heróis, na maioria das
vezes —, ele ainda carrega um grande sentimento de culpa pelo suicídio de Lenny e
embora fique bem melhor quando possui alguém a seu lado que assim como seu irmão
mais novo também é capaz de equilibrar suas emoções, ele se martiriza por seus atos
machucarem essas pessoas e as colocarem em perigo.
É por isso que ao fim da terceira
temporada, ao passar pela revisitação dos seus traumas e compreendê-los, Butcher toma a
decisão de abraçar seus sentimentos ruins e viver o seu pior, ao mesmo tempo que protege
Hughie — pessoa que ele mesmo diz se parecer muito com Lenny — de seguir o mesmo
caminho, assegurando que não seja afetado pela mesma influência que ele.
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