segunda-feira, 25 de julho de 2022

the boys

 


Thais LIMA

Em meio ao sangue e vísceras que THE BOYS apresenta, é compreensível perceber que muitos passam batido os temas centrais de sua intrincada trama. Em seu terceiro ano, Eric Kripke, showrunner da série, optou por ser ainda mais claro quanto ao discurso que deseja abordar em sua narrativa e, em oito episódios, apresenta não só todos os elementos que representam a essência de The boys como também nos fornece a temporada mais completa quanto ao arco de seus personagens. 

E é através dos traumas vivenciados por eles, principalmente aqueles que surgiram de suas relações familiares — particularmente a paterna — que Eric nos faz discutir sobre masculinidade tóxica e o papel dos adultos como influências diretas nas vidas de seus filhos. 

A figura de Billy Butcher na terceira temporada é justamente a que encabeça essa discussão. Líder dos The Boys e portanto aquele que está a frente do que seriam os “mocinhos” da história, ele está longe de ser a epítome do bem e desde sua primeira aparição lá no início da série já era possível notar que Butcher traria esse conceito de personagem cinza para THE BOYS — alguém que não é nem bom e nem ruim, mas sim bastante humano em suas falhas e acertos. Butcher, na verdade, passa boa parte dos episódios pendendo tanto para o lado das escolhas duvidosas e atos violentos que se aproxima bastante daquele que é a figura vilanesca da série, o super-herói Homelander, o que é irônico, tendo em visto que ele é o ser que Butcher mais odeia no mundo. 

Porém, seu costume de replicar os atos terríveis daqueles que ele rivaliza não vem de hoje. Na terceira temporada finalmente temos acesso a um flashback da vida de Billy Butcher quando criança e adolescente. Do seu lar desestruturado, do seu vínculo de amor com o irmão mais novo Lenny, e acima de tudo, da relação brutal com seu pai, Sam. Alcoólatra e incrivelmente violento, Sam demonstrava pouco amor aos membros de sua família e espancava com frequência sua esposa e os próprios filhos. 

E enquanto Butcher obviamente o odiava face a essa realidade, fica mais do que implícito que também buscava a aprovação dele. E ele a recebe uma vez, da forma mais distorcida possível: Após agredir um professor da sua escola, seu pai o leva para tomar uma cerveja, afirmando que “está tudo bem, porque algumas pessoas merecem levar uma surra”. Essa frase moldou Billy Butcher para sempre. 

Porque mesmo sem perceber a princípio, sua personalidade lentamente se tornou a do pai, algo que a série expõe com diversas cenas de ambos sobrepostas, dizendo e fazendo as mesmas coisas. Igualmente dado a atos violentos, igualmente intolerante com quase todos que ele considera “merecedores de uma surra” — os heróis, na maioria das vezes —, ele ainda carrega um grande sentimento de culpa pelo suicídio de Lenny e embora fique bem melhor quando possui alguém a seu lado que assim como seu irmão mais novo também é capaz de equilibrar suas emoções, ele se martiriza por seus atos machucarem essas pessoas e as colocarem em perigo. 

É por isso que ao fim da terceira temporada, ao passar pela revisitação dos seus traumas e compreendê-los, Butcher toma a decisão de abraçar seus sentimentos ruins e viver o seu pior, ao mesmo tempo que protege Hughie — pessoa que ele mesmo diz se parecer muito com Lenny — de seguir o mesmo caminho, assegurando que não seja afetado pela mesma influência que ele.

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